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Grandes usinas têm maior quebra de safra

Apesar de mais robustas financeiramente, as grandes companhias sucroalcooleiras foram as que tiveram maior peso na quebra na safra de cana 2011/12 no Centro-Sul, que será concluída em abril. Enquanto, na média, a região teve perda de 11%, muitos dos grandes grupos amargaram quebra acima desse percentual, deixando de moer, em alguns casos, mais de 20% da matéria-prima que esperavam processar.

No ano passado, os canaviais do Centro-Sul, que vinham desde a crise de 2008 sofrendo com baixos investimentos e intempéries climáticas, como excesso de chuvas, foram afetados de novo pelo clima adverso. Uma forte estiagem e a ocorrência de duas geadas limaram a produtividade dos canaviais, causando a primeira redução de safra em dez anos na região.

O efeito foi o aumento da ociosidade industrial de alguns grupos, que se aproximou de 40% neste ciclo. No topo dessa lista estão a americana Bunge, a francesa Louis Dreyfus (LDC-SEV) e a indiana Shree Renuka Sugars. Coincidência ou não, as três têm em comum o fato de serem multinacionais, com menos expertise na área agrícola, onde está 70% do custo do produto final: o etanol e o açúcar.

Em comum, há ainda o fato de as três terem adquirido, nos últimos dois anos, ativos de grupos tradicionais no segmento, mas com elevado endividamento e um saldo negativo de baixo investimento, sobretudo em canaviais.

A Bunge previa processar nessa temporada 16 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, mas moeu efetivamente 14 milhões de toneladas, quebra de 12,5%, segundo informações confirmadas pela própria empresa.

Assim, a ociosidade industrial da empresa, que tem capacidade para moer 21 milhões de toneladas por safra, ficou em 33% neste ciclo 2011/12. Em 2010, a companhia americana comprou os ativos de açúcar e álcool do grupo Moema, tradicional no setor. Segundo fontes do mercado, apesar da boa qualidade dos ativos, os canaviais, quando adquiridos pela múlti, estavam com baixa produtividade, sem receber investimentos desde 2008, primeira fase da crise.

Além disso, localizadas no noroeste de São Paulo e rumo ao Triângulo Mineiro, as unidades da antiga Moema estão em regiões de elevada temperatura, com maior propensão a déficits hídricos. Por isso, são mais penalizadas em épocas de seca muito severa, como ocorreu no ano passado.

A empresa, com capital aberto na bolsa de Nova York, não concedeu entrevista pois está em período de silêncio. No entanto, por meio de sua assessoria, afirmou que foi atingida pelo clima desfavorável, que afetou não somente seus ativos, mas todo o mercado.

Para o próximo ciclo, segundo fontes do setor, a multinacional deve retomar a meta de moer 16 milhões de toneladas de cana. Assim, a ociosidade industrial deve recuar para 23%. Em 2011, a empresa anunciou investimentos de US$ 2,5 bilhões para serem aplicados até 2016 para ampliar a moagem de suas oito usinas no país das atuais 21 milhões de toneladas para 30 milhões.

Também entre as que tiveram maior quebra na safra de cana, a LDC-SEV, braço sucroalcooleiro da francesa Louis Dreyfus, processou, segundo fontes do mercado, apenas 28 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 15,15% menos do que as 33 milhões de toneladas processadas no ciclo anterior, o 2010/11. Sua ociosidade industrial atingiu 30%. Procurada, a empresa não se pronunciou por estar em período de silêncio.

Após dobrar de tamanho com a aquisição da Santelisa Vale, em 2009, a LDC-SEV passou o ano seguinte tentando “digerir” o negócio, que tinha passivo financeiro e com fornecedores de cana que se arrastava há anos e que contribuiu para o resultado da atual safra.

A região onde está a maior parte dos ativos da empresa, Ribeirão Preto (SP), teve uma das produtividades agrícolas mais baixas da região, de 75 toneladas de cana por hectare, quando o normal é acima de 90 toneladas. Segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), essa região tem também um dos canaviais mais velhos do Centro-Sul. Enquanto a média da região é de 3,6 anos – já abaixo do ideal que é de 3,1 anos -, as áreas de cana de Ribeirão Preto têm canavial com 3,9 anos de idade.

No país há dois anos, a indiana Shree Renuka Sugars tem duas de suas maiores usinas na região mais atingida de São Paulo: Araçatuba. Lá, segundo o CTC, a produtividade foi de 65 toneladas de cana por hectare, enquanto a média do Centro-Sul foi de 70 toneladas.

A empresa, com quatro usinas no Brasil, previa processar 10,6 milhões de toneladas de cana nesta safra, mas conseguiu moer efetivamente 8,3 milhões de toneladas, quebra de 21,6%. Se for considerada a capacidade instalada (13,6 milhões de toneladas), a ociosidade industrial da empresa no Brasil foi de 39%.

A empresa informou que em 2011 foram feitos elevados investimentos em renovação e ampliação de canaviais. Segundo a Renuka, 25 mil hectares de cana foram plantados ano passado, sendo 20 mil hectares na unidade Renuka do Brasil (antiga Equipav) e 5 mil hectares na Vale do Ivaí (PR). “O programa também incluiu plantio de 3 mil hectares de fornecedores de cana”, disse o CEO da Renuka no Brasil, Humberto Farias.

Assim como aconteceu com a Dreyfus e com a Bunge, que compraram ativos com dívidas e déficit de investimentos em cana, a Renuka adquiriu em 2010 as usinas do grupo Equipav, com elevado passivo com fornecedores da matéria-prima.

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