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Governo incorpora biodiesel à matriz energética do País

A partir de 2005, deverá estar disponível no mercado brasileiro uma nova alternativa de combustível que permitirá ao País menor dependência energética em relação ao mercado internacional. Trata-se da comercialização do biodiesel derivado de matérias-primas amplamente conhecidas no Brasil como mamona, soja, dendê e amendoim. Esse é o objetivo do Programa Combustível Verde – Biodiesel, que será lançado em outubro pelo Ministério de Minas e Energia (MME), Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Projetos piloto já estão sendo desenvolvidos em parceria com centros de pesquisa e empresas no Mato Grosso, Rio Grande do Norte (Petrobras), Piauí e Rio de Janeiro. A Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ) pesquisa o biodiesel desde a década de 80, e a mais recente patente foi o desenvolvimento do biodiesel a partir do tratamento de efluentes. A Eletrobrás também está lançando um programa que visa o fornecimento da eletricidade a partir do novo combustível.

De acordo com o MME, o Brasil consome hoje cerca de 37 milhões de m³ de diesel e importa 6,3 milhões de m³, o equivalente a 17%. “Queremos reduzir as importações, incentivar a agricultura familiar e melhorar o aproveitamento das terras”, diz uma fonte do MME. O Ministério estima que existam hoje 90 milhões de hectares de terra que poderiam ser utilizados para esse projeto. “O programa oficial com todas as regras definidas deverá ser lançado em outubro. Em 2004, serão realizados os testes com o novo combustível, e em 2005 ocorrerá a implantação do biodiesel”, diz uma fonte do Ministério.

De acordo com o MME, o biodiesel deverá ser misturado no diesel convencional nas proporções de 2% a 5%, o que não deverá causar danos nas frotas atuais e nem será necessário o desenvolvimento de novos equipamentos. Segundo Mário Massagardi, diretor de sistemas de injeção a diesel da Bosch, a empresa pretende atuar no desenvolvimento do projeto colhendo amostras do biodiesel e fornecendo tecnologia para que os testes sejam feitos de forma eficiente.

“Queremos ter a garantia da qualidade do combustível. O biodiesel foi implantado na Europa na década de 90, mas causou sérios problemas nos veículos por ter sido desenvolvido de forma não tão eficaz. O biodiesel é um produto que merece cuidados extras, e pode se biodegradar antes mesmo de ser usado. Por isso, é preciso a realização de muitos testes antes de ser comercializado”, diz Massagardi.

Inovação – A Incubadora de Empresas da Coppe/UFRJ irá abrigar neste ano a pequena Gerar (Gestão de Energia Renovável e Resíduos), que irá comercializar a técnica de desenvolvimento do biodiesel a partir do esgoto sanitário. De acordo com Andréa Borges, uma das sócias da Gerar, a tecnologia será oferecida como serviço às Estações de Tratamento e Esgoto (ETE), que poderão transformar seus efluentes em biodiesel e usá-lo como combustível em geradores e caminhões. “A Companhia de Lixo Urbano do Rio de Janeiro (Comlurb) já está realizando testes com esse biodiesel e a Volkswagen nos forneceu um veículo também para a realização dos testes. Temos já empresas interessadas nessa tecnologia, mas ainda não podemos divulgá-las”, diz a pesquisadora Andréa.

Os efluentes tratados pela Gerar podem ser transformados em biodiesel através de um processo químico chamado esterificação, que é a transformação de ácidos graxos — gorduras — em éster, que é combustível. Segundo Luciano Basto, um dos sócios da empresa, o biodiesel tem inúmeras vantagens em relação ao diesel e também à gasolina: “O biodiesel é um combustível menos poluente que o diesel já que, entre outras coisas, permite a redução de 98% da emissão de enxofre em relação ao diesel e de 90% dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Além disso, o biodiesel representa a perspectiva de redução da dependência energética. O Brasil importa 10 bilhões de litros de óleo diesel por ano, o correspondente a 30% do consumo nacional”, diz.

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