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Governo cede a agricultor e renegocia dívida

O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) anunciou ontem a prorrogação de R$ 2,62 bilhões de dívidas dos produtores de algodão, arroz, milho, trigo e soja.

O valor se refere a parcelas que venceriam neste ano de empréstimos tomados no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) pelos produtores para investimentos (como compra de máquinas).

A medida agradou aos agricultores, mas não foi suficiente para afastar a ameaça de “caminhonaço” em Brasília. Eles querem também a renegociação das dívidas dos financiamentos tomados para custeio (compra de sementes e adubos, por exemplo) da produção. Querem pagar apenas 20% das dívidas neste ano e parcelar o resto pelos próximos quatro anos.

Para financiar o custeio da safra 2004/5, o Banco do Brasil emprestou R$ 25,5 bilhões, disse Derci Alcântara, diretor da área de agronegócios do banco. Como os primeiros empréstimos começam a vencer em junho, ainda não há inadimplência (falta de pagamento).

Negociação caso a caso

Alcântara não acredita na hipótese de uma negociação ampla e genérica para os agricultores no caso dos empréstimos de custeio. “O regulamento do empréstimo já prevê prorrogação do pagamento, mas caso a caso, dependendo da situação de cada produtor. Não estamos trabalhando com o cenário de não receber 80% do que emprestamos. Se o banco não receber de volta o que emprestou, fica sem condições de financiar a próxima safra”, disse.

Os agricultores reclamam que não têm condições de pagar seus empréstimos porque os preços dos produtos caíram, o custo de produção aumentou, o dólar se desvalorizou em relação ao real (o que prejudica o ganho das exportações) e porque, em algumas regiões, como no Sul, houve quebra de safra causada pela seca.

Além da prorrogação das dívidas dos financiamentos para investimento, Rodrigues anunciou mais R$ 3 bilhões de crédito para financiamento da comercialização da safra (para que os produtores possam usar no pagamento de silos e armazéns para estocagem).

Ainda não satisfeitos

Outras medidas anunciadas foram: ampliação de 30% do limite de adiantamento de crédito para os produtores de trigo do Sul atingidos pela seca; mais R$ 350 milhões para financiamento de estoques públicos; aberturas de linhas de crédito do Banco do Brasil para custeio da safra de trigo (R$ 732 milhões) e para plantio da segunda safra de milho e sorgo (R$ 550 milhões) e prorrogação do pagamento das dívidas de financiamentos do FCO (Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste).

Apesar do anúncio das medidas pelo governo, os agricultores ainda não se sentem satisfeitos.

“É um começo, é preciso avaliar”, disse Macel Felix Caixeta, diretor-presidente da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás) e membro da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

“Nossas reivindicações não foram atendidas de jeito nenhum. Ainda não afasta o caminhonaço”, disse.

“É um avanço. Ele [Rodrigues] conseguiu extrair o que pôde da equipe econômica, mas ainda é modesto”, disse o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), organizador do evento.

Rodrigues colocou-se ao lado dos agricultores. O evento aconteceu no galpão da Feira Coberta de Rio Verde (sudoeste de Goiás, a 220 km de Goiânia) e reuniu, segundo os organizadores e a Polícia Militar, entre 10 mil e 11 mil pessoas.

Os governadores de Goiás, Mato Grosso, Tocantins e Rio Grande do Sul e as federações de agricultores entregaram ao ministro da Agricultura cartas nas quais reclamam da crise no setor e cobram providências. “Quem me dera ser um governador para poder assinar também”, disse Rodrigues, ao discursar.

Histórico

Em maio de 2002 (último ano do governo FHC) a bancada ruralista no Congresso aprovou a renegociação de cerca de R$ 4 bilhões em dívidas agrárias.

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