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Golpe na energia verde

Há cinco anos, nenhum empresário se arrisca a investir dinheiro para construir uma usina de etanol no Brasil. A venda do álcool nas bombas vem caindo, e 41 unidades de produção deixaram de funcionar desde 2008. A crise do combustível verde já levou à demissão de 45 mil trabalhadores.

A quebradeira nas usinas faria supor que a Petrobras estaria acumulando lucros crescentes, vendendo mais gasolina e diesel. Nada mais errado. Forçada pelo governo a postergar reajustes, a estatal tem amargado prejuízo mensal de 1 bilhão de reais com a comercialização dos combustíveis.

Desde 2011, a perda alcança 38 bilhões de reais, um montante equivalente a um terço dos 120 bilhões de reais obtidos com a venda de ações em 2010. Quanto mais a Petrobras vende, mais ela perde dinheiro.

Incapaz de atender ao aumento do consumo, a empresa, aquela mesma que há poucos anos festejava a autossuficiência, precisa importar volumes crescentes de combustíveis e os distribui no mercado interno a um preço subsidiado.

O Brasil sonhou se tornar a Arábia Saudita da energia verde ao ser o primeiro país a utilizar em larga escala um combustível renovável. Depois, com a descoberta das reservas do pré-sal, imaginou ser um grande exportador de petróleo. A política de preços dos combustíveis, entretanto, obteve o mérito duplo (e duvidoso) de ter arruinado as perspectivas de investimentos no etanol ao mesmo tempo em que retardou a exploração do petróleo.

Espera-se que o governo autorize, nos próximos dias, uma alta em torno de 5% para a gasolina e o diesel. A defasagem, contudo, está hoje em 30%. Tamanha alta teria impacto de 1 ponto porcentual na inflação, que subiria para além do teto da meta de 6,5% ao ano..

O governo, em vez de controlar a inflação com medidas duras mas perenes, como o aumento mais rápido na taxa de juros e um corte profundo nas despesas públicas, optou pelo atalho canhestro da manipulação de preços. Resultado: quebradeira em série de usinas e queima de recursos que a Petrobras deveria usar na exploração do pré-sal.

“Não precisamos de subsídios. Tudo o que o setor do etanol pede é uma política nacional de formação de preços para a gasolina, compatível com o mercado e com a real demanda”, afirma Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única).

Estimativas do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), mostram que o potencial de consumo do etanol seria da ordem de 34 bilhões de litros. O volume é o triplo do que deverá ser vendido em 2013. Ao mesmo tempo, a importação de gasolina nos sete primeiros meses do ano foi de 2,5 bilhões de litros, um aumento de 400% em relação a 2010.

Segundo Adriano Pires, diretor do CBIE e um dos maiores especialistas do país no setor de energia, desatar os nós da indústria do etanol e do petróleo exigiria elevação de pelo menos 20% no preço da gasolina e do diesel, um índice considerado inviável politicamente.

“Políticas de congelamento são sempre fáceis de adotar, porque dependem somente da vontade do governo”, afirma Pires. “O difícil é desembarcar de uma política populista como essa”.

O Brasil, assim, fica exposto a uma fragilidade que já parecia ter superado. Nos anos 70, o país viu seu milagre econômico ser abreviado pela crise do petróleo. Houve racionamento de combustíveis, e os gastos com as importações arrasaram com a balança comercial.

Da crise nasceu o Proálcool, plano que contou com seus anos de glória. A maior parte dos carros feitos no país rodava movida a etanol. Em meados dos anos 80, entretanto, a queda nas cotações do petróleo derrubou o preço da gasolina, e ter carro a álcool se tornou um mico.

A ressurreição do etanol veio com a tecnologia flex. Agora, mais uma vez, o combustível verde tem seu futuro posto à deriva. Apenas grandes produtores, que também operam na distribuição, como a Cosan, estão conseguindo lucrar com o etanol. “O prejuízo não é somente dos usineiros”, diz Manoel Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul. “Perdem as empresas fornecedoras das usinas, os municípios onde elas estão instaladas, os trabalhadores e o meio ambiente”.

Para mitigar a crise, o governo concedeu benefícios tributários, incentivos incapazes de dar nova vida aos investimentos. “Sem foco a longo prazo, o governo quebra empresas e a própria continuidade da inovação tecnológica”, diz Adriano Pires.

“A política de controle de preços conseguiu, em um curtíssimo espaço de tempo, destruir dois ícones nacionais: a Petrobras e o etanol”.

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