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Gasolina e álcool: a dosagem adequada

Nos últimos dias muito se tem escrito e comentado sobre a redução da percentagem de álcool adicionado à gasolina, passando de 25% para 20%. Antes que a decisão fosse tomada pelo Governo Federal, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo manifestou, em reunião com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, preocupação com as conseqüências ambientais que tal decisão acarretaria, especialmente para as cidades com maior população, vale dizer com maior circulação de veículos coletivos e individuais.

Em 20 de janeiro passado, a Secretaria se manifestou novamente, e por escrito, enviando ao Ministério do Meio Ambiente nota técnica emitida pelo Departamento de Emissões de Veículos da CETESB — Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, fazendo ver que a decisão implicava problemas de saúde pública que não poderiam ser relevados.

Quem acompanhou a forma como foi tomada a decisão, pôde perceber que foi em meio a uma intensa campanha pela mídia, que a Resolução nº28 do Ministério da Agricultura resolve, ad referendum do CIMA— Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool, alterar o citado percentual.

Entendemos que uma decisão dessa envergadura, com sérias implicações sobre a saúde da população e com graves repercussões ambientais, não poderia ser tomada em círculo tão restrito. É imprescindível que órgãos como o CONAMA — Conselho Nacional do Meio Ambiente, entre outros, possam se manifestar em nome da chamada transversalidade, promovendo a inserção da variável ambiental no seio das decisões do governo federal.

Um assunto dessa natureza não pode ser tratado de forma pontual, pois afeta todos os estados. Somente para citar o caso da região metropolitana de São Paulo, conforme a CETESB, 64% dos veículos são anteriores à tecnologia de injeção eletrônica, mais sensíveis às variações da percentagem do álcool na gasolina. Neste cenário, a massa de monóxido de carbono (CO) emitida para a atmosfera deverá aumentar em 20%. Os ensaios de laboratório realizados pela agência ambiental, tendo como referência a gasolina-padrão, com 22% de álcool, apontam aumento da ordem de 6,4%.

Quanto aos hidrocarbonetos (HC), os efeitos também serão danosos pois haverá um aumento da ordem de 8% nas emissões e, quanto aos óxidos de nitrogênio (NOx), espera-se uma redução de 4%. Este dado que, a princípio, soaria como auspicioso, não permite comemorações, pois essa diminuição será largamente superada pelo aumento das emissões dos hidrocarbonetos que, como os óxidos de nitrogênio, são precursores do ozônio (O3), poluente cuja concentração na atmosfera tem aumentado significativamente, sendo ainda de controle muito difícil.

Também haverá aumento nas emissões de dióxido de carbono (CO2), não reciclável na atmosfera, agravando o conhecido fenômeno efeito estufa, que provoca o aquecimento global.

Todos esses fatos nos remetem às questões de saúde pública que constituem a preocupação fundamental de nossas ações. Sem dúvida haverá um recrudescimento das moléstias do trato respiratório — asmas, bronquites, afecções pulmonares graves —, especialmente nas crianças e na população da faixa da terceira idade.

(Yahoo Notícias)

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