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Gasolina cara, etanol escasso

A tentativa de controlar a inflação pela via do congelamento de preços é experiência sem registro de sucesso no Brasil e em todos os países que cometeram esse equívoco. Produtos da iniciativa privada tendem a desaparecer, por se tornar desinteressante a sua produção, gerando desabastecimento. Se a mercadoria é ofertada por monopólio estatal, invariavelmente sobra uma conta alta para a sociedade, seja pela desestruturação do fabricante, seja pelo desarranjo total ou de segmentos do mercado. O aumento dos preços da gasolina (6,6%) e do óleo diesel (5,4%) nas refinarias, em vigor desde quarta-feira, trouxe à tona uma coleção de distorções que dão as primeiras ideias do tamanho da conta que está vencendo. Ninguém gostou do aumento, nem a Petrobras, que queria mais.

Mas a conta a pagar por essa política de congelamento é ainda mais alta. As consequências de priorizar o agrado ao eleitorado em vez da lógica da economia são bem mais complexas. A primeira vítima tem sido, por certo, a Petrobras. A combinação de estímulos ao consumo de combustíveis (redução de impostos e ampliação do crédito para a compra de automóveis) com a manutenção dos preços da gasolina minou boa parte da capacidade da estatal do petróleo de investir no aumento da sua capacidade de refino.

Como é responsável única pelo abastecimento do combustível no atacado, restou à Petrobras aumentar a importação de gasolina, diesel e de petróleo leve. Relatório sobre o mercado de petróleo em 2012, divulgado em janeiro pela Agência Internacional de Energia (IEA), revela que o Brasil passou a ocupar o 6º lugar entre os maiores consumidores do mundo, desbancando a Arábia Saudita. Impedida de corrigir os preços de venda, a Petrobras ficou com o prejuízo da diferença em relação ao que pagou para importar. Essa perda reflete nas cotações dos papéis da empresa no mercado e reduz o entusiasmo dos investidores, tornando mais difícil arrebanhar capital para bancar a ampliação das explorações do pré-sal.

Não menos lamentável foi o efeito dos preços congelados da gasolina sobre a produção do etanol brasileiro. Somada ao abandono a que foi relegado pelo governo, a relação entre os preços do etanol e da gasolina inviabilizou a maior parte do consumo desse biocombustível, quase sepultando a invejável situação do país de contar com grande parte da frota movida a motores que permitem o uso alternativo ao derivado do petróleo.

Desestimulados e sem perspectiva de retorno, os produtores viraram suas baterias para o mercado de açúcar. Muitas refinarias de álcool quebraram e projetos de novas plantas industriais foram abandonados. O saldo é um déficit tão grande na produção que o Brasil teve de se submeter à importação de etanol de milho (mais caro) dos Estados Unidos, mercado para qual o país tinha planos de exportar. Hoje, quando o governo precisa voltar a adicionar 25% de álcool hidratado à gasolina, sobram evidências de que os produtores padecem do mal que afeta a maioria dos negócios no país: o excesso de incertezas. Não há uma política clara de preços, não há apoio financeiro e apenas a desoneração da folha de pagamentos começa a ser feita. Os produtores pedem o estabelecimento de um marco regulatório para o setor, mas, a julgar pela lentidão com que o governo tem tratado a matéria, os motores flex continuarão a correr o risco de virar peças de museu.

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