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Fusões verde-amarelas

Os empresários brasileiros foram às compras no primeiro semestre de 2007 e adquiriram praticamente uma empresa por dia nesse período. Segundo dados da consultoria PricewaterhouseCoopers, houve nada menos que 167 atos de concentração de grupos nacionais, recorde que representa 67% de aumento em relação ao seis primeiros meses de 2006. Na mesma comparação, as fusões lideradas por grupos estrangeiros sofreram uma ligeira queda de 1,2%, somando 82 transações no ano.Este crescimento não é por acaso.

Governo, economistas, empresas e advogados ouvidos pelo GLOBO confirmam que o país vive uma tendência de fortalecimento de grupos nacionais, que deve continuar nos próximos meses e ainda ser turbinada com a nova política industrial do governo. No primeiro semestre deste ano, 67% das 249 aquisições no país foram realizadas por grupos nacionais ou com capital majoritariamente brasileiro.

— Isto é algo interessante, pois, nos anos 90, principalmente em 1997 e 1998, o movimento era exatamente o contrário: dois terços das aquisições do país eram de estrangeiros comprando empresas brasileiras — afirmou Raul Bier, sócio da PricewaterhouseCoopers, destacando, no entanto, que não é possível mensurar o valor das operações, pois muitas correm em sigilo.

Estabilidade facilita compras no país

O ânimo dos empresários está fortemente ligado à estabilidade econômica e ao excesso de liquidez no mercado. De acordo com o conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Luiz Rigato, o grande volume de recursos disponíveis faz com que as empresas busquem novas formas de investir. Ele destacou que a compra de outras companhias é uma forma de ganhar mercado sem ter que começar um projeto do zero.

— Muito disso que está acontecendo é resultado da estabilidade na economia e da enorme liquidez internacional.

Quando isso ocorre, ou há um crescimento natural das empresas ou elas vão às compras. Entrar em mercado novo para uma corporação é sempre mais complicado do que comprar uma empresa que já está estabelecida — afirma ele.

Essa também é a avaliação de Ana Paula Martinez, diretora do Departamento de Proteção e Defesa Econômica (DPDE) do Ministério da Justiça: — Diversos setores da economia estão maduros e querem agora se expandir e ganhar mais eficiência.

Outro movimento que tem se reforçado no país é o da internacionalização de grupos nacionais, o que, segundo Rigato, do Cade, reflete as condições favoráveis do câmbio para a compra de ativos no exterior. Um exemplo disso é a megaoperação de compra da americana Swift pela brasileira Friboi por US$ 1 bilhão. Com a fusão, a Friboi se torna a maior exportadora mundial de carne.

O advogado Carlos José Rolim de Melo, sócio do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, afirma que o elevado número de fusões também está estimulando o aumento do acesso das empresas ao mercado acionário brasileiro, que já alcançou a cifra de R$ 2 trilhões na semana passada.

— Agora mesmo, uma empresa para qual nós trabalhamos na abertura de capital nos procurou pedindo assessoria na compra de uma concorrente.

As empresas brasileiras não estão endividadas. A maior parte foi ao mercado captar para comprar concorrentes — contou ele, citando como exemplo a aquisição de 11 shoppings pela BR Malls.

Para o advogado Augusto Carneiro de Oliveira Filho, sócio do escritório Siqueira Castro Advogados, o fenômeno ocorre também graças ao maior conhecimento adquirido pelas empresas com o aumento das exportações, que começa a fazer com que os grupos nacionais tenham expertise internacional. Ele acredita que este movimento tende a aumentar.

Odebrecht e AmBev entre os investidores

A Odebrecht, por exemplo, está se aventurando no mercado por meio de investimentos de R$ 5 bilhões no setor de açúcar e álcool. Segundo o diretor de Investimentos da empresa, Rui Sampaio, as condições da economia hoje estão muito mais favoráveis a atos de concentração.

— No caso da Odebrecht, o investimento foi favorecido pela abertura da economia e também pelo desenvolvimento da tecnologia agrícola no país — disse ele.

A AmBev, que já se internacionalizou por meio de uma aliança com a belga Interbrew, também continua se expandindo no mercado.

Segundo o diretor de Relações Corporativas da companhia, Milton Seligman, a decisão da AmBev de comprar, por exemplo, fábricas de cerveja da portuguesa Cintra no Brasil vai nesse sentido.

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