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Frete e câmbio minam competitividade agrícola do país

Os elevados custos com frete, em um país com dimensões continentais e infra-estrutura deficitária, e um real valorizado frente ao dólar limitam o desenvolvimento do potencial agropecuário brasileiro, afirmou Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

Camargo Neto, com extenso currículo em outras áreas do setor agropecuário, incluindo passagem pelo Ministério da Agricultura, na qual capitaneou processos movidos pelo País contra os subsídios das nações desenvolvidas – como foi o caso do algodão – disse que o Brasil poderia tirar mais proveito da alta internacional dos preços dos grãos.

“Acho que não é nem a questão da dívida (um problema que afeta os agricultores, especialmente em áreas como o Centro-Oeste brasileiro). A dívida é um problema de fato, mas o que está segurando o potencial agrícola do Brasil é, por exemplo, a ausência de estradas”, disse ele.

“O que a agricultura brasileira paga de frete comparativamente com o que a agricultura americana paga é uma monstruosidade e houve poucos avanços nessa área”, acrescentou.

O frete caro afeta principalmente os produtores do Centro-Oeste brasileiro, a principal região produtora de soja, para onde estão migrando as indústrias de carnes em busca de insumos mais baratos. Lá também estão os produtores mais endividados do Brasil.

Outra questão de preocupação recorrente citada por Camargo Neto é o câmbio. O Brasil, o maior exportador de carnes bovina e de frango, e o quarto maior em suína, poderia estar em uma situação bem melhor, considerando que conta com uma produção de grãos a custos mais competitivos do que outras nações, disse ele.

“Com esse dólar aí não tem quem esteja em situação confortável. E a tendência é de cair (o dólar). Então, longe de estarmos confortáveis.”

Apesar do dólar e dos problemas de logística, Camargo Neto avalia que a suinocultura brasileira, por exemplo, sofrerá menos do que a norte-americana, em um cenário de custos elevados com grãos.

“Vai subir o milho brasileiro e a soja, vai. Mas sobe menos do que os outros”, disse ele, referindo-se aos mercados norte-americanos e europeus, os principais exportadores de carne suína.

“Então, no longo e médio prazos a suinocultura brasileira terá uma posição de vantagem, mas não significa que não tem esse estresse de aumento de insumos.”

Para o especialista, apesar do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) tocado pelo governo Lula, pouca coisa está acontecendo para permitir um salto na agricultura brasileira, em meio a uma oportunidade única de preços elevados.

“Estou vendo o Brasil nesse momento de desafio mundial de preços agrícolas com uma posição tímida, falando de crédito. Teríamos de estar falando de infra-estrutura, de frete, e de pesquisa. O Brasil é o líder de etanol, mas perdeu o bonde do etanol de segunda geração”, declarou.

“Agora precisaríamos de novos avanços macroeconômicos, reforma tributária, estruturais, coisas que não estou vendo nem no discurso”.

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