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Fracasso no Grupo dos Quatro destaca negociações bilaterais

Com o fim prematuro da reunião do G4, na Alemanha, os negociadores brasileiros devem investir menos na Rodada de Doha e apostar mais suas fichas em acordos bilaterais e no âmbito do Mercosul. Apesar das negociações da rodada continuarem em Genebra durante a próxima semana, o consenso entre os países do G4 – grupo composto por Brasil, Índia, EUA e União Européia (UE) – era considerado essencial para uma liberalização multilateral mais significativa na Organização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com um negociador do Itamaraty que preferiu não se identificar, as negociações mais adiantadas seriam para um acordo de livre-comércio do bloco sul-americano com a UE e outro com Israel.

O Ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, anunciou, ontem, à imprensa que os representantes dos países deixariam a reunião, prevista para durar até o dia 23, devido a um confronto Norte-Sul – já que UE e EUA exigiam que Brasil e Índia limitassem suas taxas industriais sem oferecer concessões na mesma proporção. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, declarou em nota à imprensa que “sem concessões recíprocas, não pode haver acordo. Os setores industrial e agro-industrial brasileiros não aceitarão um simulacro como resultado da pouca disposição até agora demonstrada pelos EUA e pela UE em concluir a Rodada Doha”.

Para Roberto Paranhos do Rio Branco, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, independente do resultado em Doha, as negociações já foram significativas para promover uma aproximação entre os países emergentes, que estão num processo de “aprofundar as relações políticas e comerciais bilaterais”.

Já o presidente do Conselho Temático de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Osvaldo Douat, enfatizou que o País não pode esperar Doha e deve investir nos acordos com EUA, UE, México, Índia, África e o grupo do Golfo. “As nossas exportações estão perdendo espaço na economia”, ressaltou. Dados da CNI mostram que em 2004, as exportações representavam 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2005 este número caiu para 1,7%. A expectativa da entidade é que este percentual se reduza para 0,7% até o final do ano.

Do lado empresarial, Douat informou que diante da notícia do fim antecipado da reunião, o Conselho irá se reunir já na próxima semana na CNI para estudar novas possibilidades de abertura comercial. “A proposta que entregamos tinha um aspecto multilateral. Era válida para fechar um acordo múltiplo como Doha. Agora faremos uma proposta para cada parceiro que vemos como prioridade, observando as suas particularidades”, explicou Douat.

O representante da CNI enfatizou que o Brasil não pode perder o ritmo e tem que se manter na dianteira para promover a abertura de mercados, negociando junto com o bloco do Mercosul, ou até mesmo sem o bloco. “Temos negociações avançadas via bloco. Mas o Brasil não pode ficar esperando apenas por isso. Temos que ver outras alternativas também”, destacou. Uma das possibilidades seriam acordos setoriais com os EUA.

Mercosul

O impacto direto do final das reuniões entre o G4 será na retomada das negociações entre Mercosul e UE, previstas para setembro. Conforme antecipado pelo DCI, o bloco europeu aguardava um desfecho em Doha para avançar na proposta de abertura agrícola no âmbito biregional. “Os termos da negociação são parecidos com os de Doha, o Mercosul pede uma abertura agrícola em troca de concessões no setor de serviços e industrial. Eles estavam esperando ver o que seria oferecido na OMC para negociar com o Mercosul e se não houver um acordo em Doha, as cotas oferecidas ao Mercosul para acesso ao mercado agrícola serão maiores”, afirmou um negociador.

Além da UE, o Mercosul deve fechar um acordo de livre-comércio com Israel até o final do ano. De acordo com fontes no Itamaraty, cerca de 98% da pauta de exportação do Mercosul para o país e 95% das importações seriam isentas de tarifação. “Faltam apenas alguns ajustes no tratamento de agroquímicos, que Israel exporta muito, por um lado, e ainda esperamos uma melhora na oferta de abertura agrícola, por outro”, explica a fonte. O Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) é outra possibilidade para o bloco sul-americano, mas o acordo têm apresentado problemas quanto a lista de produtos sensíveis no setor petroquímico brasileiro desde o início do ano.

O Brasil espera ainda que o acordo assinado entre Mercosul e Índia, em 2005, seja aprovado pelo congresso nacional para que possa haver uma ampliação na lista de produtos com tarifas preferenciais no comércio bilateral. A situação é semelhante no caso da África do Sul, com quem já há um acordo e também novas propostas para ampliação na lista de produtos.

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