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Fórum internacional pautado pelo pragmatismo

Objetivo do eventoé impulsionar a transformação do etanol em commodity negociada em bolsas. O Fórum de Desenvolvimento Sustentável 2007, programado para a próxima segunda-feira, em Nova York, chega com a bandeira da moda mundial de preocupação com o meio ambiente, mas foi concebido dentro de objetivos econômicos – e comerciais – muito claros.

O que se pretende com o evento é a aceleração da transformação do etanol em commodity, com preços internacionais sob controle e potencial de composição como matriz energética com o petróleo. Há também a intenção de preservar a Amazônia por meio da ação da iniciativa privada, que pode desenvolver projetos de aproveitamento dos recursos naturais e, simultaneamente, barrar o avanço da informalidade na devastação e da pirataria na extração dos recursos da biodiversidade regional. Para completar, o replantio de árvores vale como poderosa moeda de troca do Brasil nas negociações de neutralização de carbono com países do Primeiro Mundo.

Mario Garnero conhece muito bem esse assunto. Ele preside tanto a Associação das Nações Unidas-Brasil como o Fórum das Américas, organizadores do evento que colocará, no mesmo ambiente do Hilton Hotel, a secretária de Estado Adjunta para Assuntos Globais dos Estados Unidos, Paula Dobriansky, com o CEO da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, o ministro de Minas e Energia do Brasil, Silas Rondeau, o diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o ganhador do Prêmio Nobel pela descoberta do processo de decomposição do ozônio, em 1995, Frank Sherwood Rowland, e o vice-presidente da ONG Conservation International, que já atua na Amazônia, Gustavo Fonseca.

A revista Newsweek estará estratégica e diplomaticamente representada nos debates por Lally Weymouth. Durante o evento, a Casa Brasil e a Gazeta Mercantil circularão uma edição especial bilíngüe (inglês e português) do jornal Brasil International Gazeta (BIG), com foco na relação entre os Jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro e os aspectos de sustentabilidade no desenvolvimento do turismo da cidade. O BIG é o primeiro jornal sobre o Brasil, feito por brasileiros e publicado diariamente nas línguas mais faladas do mundo. O ex-presidente americano Bill Clinton também estará lá para falar durante o almoço. O tempo todo, no entanto, Garnero terá a companhia de George Bush, o pai, seu velho amigo antes e depois da fumaça incessante do Iraque.

Garnero tornou-se íntimo do mundo do etanol entre abril de 1974 e abril de 1981, quando presidiu a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a entidade que representa as montadoras instaladas no Brasil. Em 1979, ele integrava a Comissão Nacional de Energia (CNE), criada em julho e presidida por Aureliano Chaves, então vice-presidente da República. O governo Figueiredo decidiu criar a comissão logo após a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) ter aumentado o preço do barril de petróleo para a faixa de US$ 18 a US$ 23,50 – um escândalo econômico na época. Uma das principais missões da CNE era realinhar as diretrizes do Proálcool, programa de implementação do álcool etílico – ou etanol – na frota brasileira.

A Comissão discutia três metas estratégicas: a perspectiva de o Brasil, por meio da Petrobras, produzir 1,5 milhão de barris de petróleo por dia, quando a produção ainda era de 300 mil barris/dia; a expansão da geração de energia elétrica; e o desenvolvimento de combustíveis alternativos, tão necessários desde a primeira crise mundial do petróleo, deflagrada em 1973.

Diante da tradição brasileira de cultivo da cana-de-açúcar, vinda desde os tempos coloniais, a opção pelo álcool etílico como combustível alternativo foi sempre simples, rápida, fácil. “A nossa proposta era a criação de agrovilas energéticas, que poderiam ser viabilizadas pelo assentamento de pequenos produtores de cana, com a comercialização do álcool feita por meio de cooperativas”, lembra Garnero. Se desse certo, seria uma reforma agrária com geração de riqueza.A proposta do setor privado para o governo da época foi a produção de 20 milhões de metros cúbicos de etanol por ano. Para atender à demanda, as montadoras produziriam anualmente 1 milhão de veículos movidos a álcool. Com a segunda crise mundial do petróleo, a solução para a manutenção do fornecimento de combustível para mover os veículos exigia pressa.

Naqueles dias conturbados, Mario Garnero almoçou, em Brasília, com o ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen. Antes de vir a sobremesa, Simonsen foi direto ao assunto: “Estamos sem saída. Vamos fazer um racionamento de combustível no País. Você tem 15 dias para trazer uma alternativa para nós”.

Garnero procurou imediatamente as montadoras e definiu um plano emergencial com elas para acelerar a produção de veículos movidos a álcool. Ligou para o ministro Simonsen e agendou a participação dele na próxima reunião da Comissão Nacional de Energia, para apresentar a proposta da indústria automobilística. No dia combinado, veio a notícia inesperada: Mário Henrique Simonsen pediu demissão do ministério, depois de apenas cinco meses no cargo. E somente Simonsen sabia que a indústria automobilística teria uma resposta para o problema. “Como estava em pleno vôo, decidi ir em frente e apresentei o projeto ao Aureliano Chaves. Isso foi em setembro e a nossa proposta era produzir, a partir de janeiro, 100% de veículos novos movidos a álcool”, conta.

“Quando o Oziel de Almeida (então presidente do Conselho Nacional do Petróleo – CNP) soube da proposta, disse que aquele era o plano mais antinacional que já existiu, porque prejudicava diretamente as operações da Petrobras. Por isso, decidimos escalonar a produção de veículos novos movidos a álcool em 250 mil no primeiro ano, 500 mil no segundo e 750 mil no terceiro ano do programa”, narra Mario Garnero, ressaltando que, mesmo assim, Aureliano Chaves “estava com medo de os usineiros não conseguirem cumprir a meta de produção deles”. Nem precisava se incomodar com isso. No final do governo Figueiredo, em março de 1985, a CNE foi desfeita.

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