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Fórmula da Petrobras vale para reduzir e subir preços

O diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa, disse ontem que a proposta encaminhada pela diretoria da estatal ao Conselho de Administração, para criar uma fórmula de reajuste automático dos preços da gasolina e do diesel, leva tanto a aumentos como a reduções. “Ela é uma metodologia de aderência aos preços internacionais. Então, se estamos defasados para menos, ela leva a mais. E se estamos defasados para mais, ela vai levar a menos”, explicou o diretor.

Ele disse, ainda, que a intenção da companhia é que a nova metodologia de preços seja clara e permita a previsibilidade a todos os interessados. Segundo ele, ainda estão em estudo alguns parâmetros, entre eles o percentual que poderá acionar alguma espécie de “gatilho” e a periodicidade dos reajustes. Barbassa informou que, uma vez aprovada, a ideia é que a metodologia possa ser aberta aos investidores.

Na ausência de uma política de repasses automáticos das cotações internacionais do petróleo aos preços de combustíveis no mercado interno, analistas avaliam que uma regra de reajuste que inclua uma espécie de “gatilho suavizado” seria bem-vista pelo mercado e poderia afastar os temores do governo de perder um componente importante no controle da inflação. Qualquer que seja a fórmula, ela deve contemplar diesel e gasolina, responsáveis por cerca de 50% das vendas e, devido à importação, os que mais afetam os resultados da estatal.

João Augusto de Castro Neves, analista da consultoria Eurasia Group, avalia que a Petrobras poderia contar com um percentual da alta (ou da baixa) de preços registrada no mercado externo quando a diferença entre os preços internos e externos da gasolina superasse determinado teto (ou piso), o que ofereceria à empresa uma espécie de colchão. Outra possibilidade, diz Neves, seria incluir no modelo um cronograma de reajustes, prevendo, por exemplo, um prazo de três em três meses para os repasses, além de também levar em conta outra variável importante, que é a variação cambial. “As oscilações nos preços dos combustíveis são normais”, diz Neves. “Há cerca de três anos a Petrobras perde dinheiro, mas antes disso ela ganhava. É impossível ter um mecanismo de paridade perfeita.”

Em um cenário em que o Banco Central atua para inibir a volatilidade excessiva do câmbio, diz Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura, não haveria necessidade de se criar um mecanismo para ajustar a defasagem de preços dos combustíveis. Nesse caso, segundo ele, seria “possível trabalhar com repasses [de preços dos combustíveis] 100% automáticos”. Na falta desse tipo de política, improvável de ser acolhida, segundo Volpon, um modelo considerado razoável abriria espaço para que os preços da gasolina fossem reajustados a cada três meses, de acordo com uma média móvel de preços de um período mais longo, de modo a suavizar o reajuste.

Aos olhos do mercado, Volpon e Neves concordam que esses modelos de reajustes não seriam vistos como um mecanismo de indexação de preços, mas algo mais saudável, relacionado aos custos do petróleo. “Especialmente porque os preços poderiam ser ajustados tanto para cima quanto para baixo”, diz Neves. Para Volpon, as correções não seriam feitas com base no nível geral de preços passado, mas seguiriam preços internacionais na busca de evitar uma volatilidade excessiva e refletiriam custos do setor, ao contrário de aluguéis, por exemplo, que são reajustados pela inflação de outros bens.

Do lado do governo, diz Neves, as resistências só seriam superadas se a regra desenhada para o reajuste fosse flexível o bastante, afastando a ideia de um gatilho automático, ou uma “indexação pura e simples”. Isso porque, diz Neves, um repasse mais livre dos preços internacionais ao mercado interno exigiria uma política mais dura de controle da inflação, o que, em sua avaliação, não está no horizonte de curto prazo do governo.

“Se a inflação continuar a ser operada como vem sendo, vai ser difícil ter uma regra de reajuste da gasolina no curto prazo, especialmente porque o combustível tem forte peso no IPCA [o Índice de Preços ao Consumidor Amplo]”, diz Neves. “O presidente do conselho de administração da Petrobras é o [ministro da Fazenda] Guido Mantega, não dá para esquecer”.

Neves diz, contudo, que a alta recente do real reduziu a urgência de um reajuste, já que a defasagem com relação aos preços internacionais da gasolina caiu de cerca de 33% em agosto para cerca de 7%.

A equipe de análise da corretora Ativa acredita ser bastante improvável a criação de qualquer medida que tire do governo a prerrogativa de determinar o movimento de preços da gasolina. Segundo a equipe, essa prerrogativa do governo traz conforto e tem custo baixo, porque quem paga é o acionista de Petrobras. Para os analistas, a única medida razoável seria deixar o preço da gasolina variar conforme o mercado determina.

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