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Fora um milagre, crescimento não voltará, diz Scheinkman

O economista José Alexandre Scheinkman vê problemas de diferentes horizontes para a economia brasileira. Ele defende que a economia do País precisa de reformas e aumentar a produtividade para voltar a crescer. “Sem resolver essas questões, vai ser praticamente impossível um crescimento continuado. Vamos continuar na chamada armadilha da renda média, de que em um determinado momento pareceu ser possível escapar”, disse Scheinkman, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Como o sr. analisa o quadro da economia?

Há problemas de diferentes horizontes no Brasil. No curto prazo, eu diria que é sobre a chamada nova matriz econômica. Foram medidas econômicas que causaram muitos problemas para a economia brasileira. Algumas das ideias já começaram a ser desmontadas, como o controle do preço da gasolina. O segundo problema está relacionado com o déficit de curto prazo. O governo hoje tem um déficit primário e nominal muito alto. Um terceiro problema tem a ver com o processo automático de aumento de despesas incompatível com o tamanho da economia brasileira. E isso só pode mudar com reformas estruturais de longo prazo.

E quais os riscos de o País não resolver essas questões?

O desmonte da nova matriz econômica é uma condição necessária para retornar ao crescimento. Sem isso, a gente só vai voltar a crescer se, de repente, houver um milagre – se o preço do barril do petróleo for a US$ 200 ou a China voltar a crescer 10% ao ano. Fora um milagre, vai ser difícil voltar a crescer.

E as questões fiscais de médio prazo?

Precisamos de um BC com mais credibilidade para que a política monetária seja mais independente e efetiva. Se o País não fizer isso, a inflação vai continuar acima da meta.

E no longo prazo?

As questões de longo prazo são ainda mais importantes porque o Brasil não vai conseguir manter um crescimento sustentável com a situação fiscal que se desenha. Também é incrível a ineficiência dos programas brasileiros. Sem resolver essas questões, vai ser praticamente impossível um crescimento continuado. Vamos continuar na chamada armadilha da renda média, de que em um determinado momento pareceu ser possível escapar.

Além das questões fiscais, quais os outros desafios da economia brasileira?

A produtividade brasileira não acompanha a produtividade das economias avançadas. Os países que conseguiram mudar de patamar de desenvolvimento se aproximaram da produtividade da fronteira, no caso, da dos Estados Unidos, o país mais produtivo do mundo. Desde a década de 80, nesse período todo, a produtividade do Brasil cresceu menos do que a americana. É claro que, sem esse crescimento de produtividade, nós não vamos conseguir sair do nível de renda que temos hoje em dia.

O que fazer para melhorar a produtividade do Brasil?

É preciso um programa de reformas enorme, com melhoria da educação. O Brasil também tem muitas empresas pequenas e precisamos passar por um processo que traga uma melhoria da produtividade para essas companhias. Por fim, é preciso criar uma legislação que atraia investimentos em infraestrutura. Na contramão, o governo Dilma atrapalhou o processo de concessões.

Essa agenda é do governo?

O atual ministro da Fazenda está muito envolvido na criação dessa matriz. E existem pressões de economistas ligados ao PT. É difícil ser superotimista e achar que tudo isso vai acontecer.

Fonte: (Estadão)

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