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+ Flexfuel – etanol = + gasolina

Assistimos no Brasil a algo que era previsível: mais veículos, menor produção de etanol (hidratado e anidro) e o consequente aumento no consumo de gasolina. Tendo em vista que a nossa capacidade de refino chegou ao limite por falta de novas instalações, como escrevi no texto anterior, temos que importar cada vez mais gasolina, piorando ainda mais o resultado da conta-petróleo, além de aumentar os índices de poluição. É triste, mas é real, por falta de maiores investimentos no setor sucroalcooleiro, estamos deixando de usar o etanol, esse revolucionário, limpo, renovável e avançado combustível e substituindo-o, cada vez mais, pelo poluente combustível fóssil.

Para que não fiquem dúvidas, analisemos os números oficiais de 2011 e 2010 (fonte: anp.gov.br), no período compreendido entre os meses de janeiro a maio (unidade de volume: o barril = 158,984 litros). Primeiro, vejamos os dados referentes à venda de etanol e gasolina e, depois, a importação da mesma.

Nos cinco primeiros meses de 2010 foram vendidos 34,029 milhões de barris (mb) de etanol hidratado, sendo que no mesmo período de 2011 esse número foi 26,899 mb, uma queda de 20,95%. Em relação ao anidro, que é misturado à gasolina na proporção de 25% (pode chegar até 18%), em 2010 foram vendidos 19,250 mb e em 2011, 21,973 mb, um aumento de 14,15%. Em relação à gasolina, foram vendidos (volume bruto) 77 mil mb em 2010 e 87,892 mb em 2011, pelo que, descontados os volumes referentes à mistura com o anidro, temos um líquido de 57,750 mb e 65,919 mb, respectivamente.

Os leitores podem perguntar: por que diminuiu a venda do hidratado e aumentou a do anidro? A resposta é simples: o hidratado é aquele que sai diretamente da bomba para o tanque, e o seu consumo varia em função da oferta e do preço. Já o anidro passa antes na distribuidora para ser misturado à gasolina, e não há como não consumi-lo, ou seja, quanto mais gasolina, mais anidro. Só para recordar, como não temos estoques reguladores, na entressafra 2011/2010 tivemos que importar etanol de milho dos Estados Unidos, fato esse que deve se repetir por vários anos mais.

Como já é por demais sabido, nos últimos anos, como resultado do crédito fácil com financiamentos em até seis anos, houve um aumento substancial da frota de veículos, notadamente os flexfuel. Infelizmente, a oferta do etanol não acompanhou esse aumento, agravado pelos altos preços do energético durante a entressafra (e agora, também, na safra). O resultado está aí, o aumento cada vez maior na importação da gasolina, uma vez que a nossa produção interna já não atende à demanda.

Para que tenhamos uma ideia do tamanho da importância do etanol na participação dos combustíveis, entre 2000 e 2009 (10 anos), importamos somente 3,595 milhões de barris (mb) de gasolina ao custo total de US$ 120,653 milhões, média de US$ 33,57/barril. No entanto, a partir de 2010, o panorama mudou radicalmente, sendo que foram importados 3,177 mb ao custo de US$ 284,758 milhões, média de US$ 89,63/b. Ou seja, só em 2010 importamos quase que o mesmo volume dos 10 anos anteriores! E o panorama não é nada animador, pois em 2011 já importamos 2,599 mb ao custo de US$ 330,329 milhões, média de US$ 127,10/b (um aumento de US$ 37,47/b em relação a 2010). Importante observar que em somente cinco meses de 2011 já gastamos 16,00% mais do que em todo o ano de 2010.

Existe solução? Sim, mas todas a médio e longo prazos. Temos três grandes “players” distintos: 1º) O setor sucroalcooleiro que necessita urgentemente de expandir as plantações, investir em mais usinas e em novas tecnologias, como o etanol celulósico; 2º) O setor petrolífero com a construção de novas refinarias, evitando assim a cada vez maior importação de derivados; e 3º) O setor automobilístico que tem a obrigação de desenvolver motores mais eficientes no que se refere ao consumo de etanol. É inadmissível que, passados quase 10 anos do lançamento dos primeiros motores flex, eles ainda não estejam equiparados aos seus similares a gasolina, no que se refere ao consumo.

Humberto Viana Guimarães é engenheiro civil e consultor

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