Mercado

Finlandesa sai em busca de parcerias

Criada em 1942 na Finlândia e com receita de cerca de € 300 milhões anuais, a VTT está prospectando negócios no Brasil desde abril, quando abriu um laboratório em Barueri, São Paulo, em parceria com a Kemira, multinacional também finlandesa com negócios em produtos e serviços para tratamento de água. A intenção da VTT é usar o laboratório próprio, plantas piloto naquele país e parcerias com universidades e instituições de pesquisa do Brasil para desenvolver pesquisas em quatro áreas: biorrefinarias; papel e celulose; mineração e água.

“Queremos fazer pesquisas no Brasil que possam ser aplicadas em inovações destinadas ao mercado”, afirma Nilson Boeta, diretor da VTT no Brasil, que investirá em projetos com recursos próprios, de governos estaduais e de editais de agências de fomento à inovação como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Na Finlândia, 25% das pesquisas são financiadas por recursos do governo, 40% da iniciativa privada e o restante vem de editais de instituições de fomento europeias. Um dos focos é conhecer os processos de transformação da biomassa em produtos químicos e polímeros. Outro é a transformação de material florestal em biocombustível. “O Brasil é o lugar mais importante do mundo em biomassa e queremos participar das pesquisas nessa área.”

Um projeto que interessa é o do centro de desenvolvimento de gaseificação de biomassa, que será instalado no Parque Tecnológico de Piracicaba, um investimento de R$ 80 milhões bancado por empresas privadas, BNDES, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e Finep. Nele deve ser feita uma planta-piloto que desenvolverá a tecnologia de gaseificação do bagaço de cana. A gaseificação é importante atualmente porque sua tecnologia é vista como forma de mitigação de emissão de gases do efeito estufa. O gás de síntese do bagaço de cana será avaliado em três aplicações: para a geração de energia elétrica, para a produção de biocombustível líquido e como precursor de biopolímeros. “Este é um projeto em que podemos contribuir, porque na Europa participamos do maior projeto de gaseificação”, afirma Boeta.

Nesses últimos meses tem feito um trabalho de missionário, como ele próprio classifica. “Estamos mostrando nossas ideias, quem somos, como queremos ajudar. Queremos fazer pesquisas com institutos, universidades e governos locais”, diz.

Na lista de eventuais parceiros, está, entre outros, o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), Polo de São Carlos. A VTT também tem interesse em contribuir com o programa “Ciência sem Fronteiras”, criado pelo governo federal recentemente com a intenção de expansão e internacionalização da ciência e tecnologia nacional pela concessão de 75 mil bolsas de estudo no exterior até 2014.

“O Brasil é o primeiro país em que a VTT estará buscando negócios na América do Sul e poderá servir de plataforma regional”, diz o executivo, que deixou a direção do Centro de Tecnologia Canavieira (CTT) no início do ano para assumir o comando da empresa. Do Brasil a VTT poderia chegar a dois países: Uruguai, onde a indústria de papel e celulose é forte, e Chile, onde a indústria de mineração lidera os investimentos.

Na área de biorrefinarias, as pesquisas envolvem tanto o etanol celulósico quanto para os biopolímeros, que abrigam uma ampla gama de produtos, como colas e selantes biológicos, ao contrário dos feitos hoje por reações químicas. “Cada vez mais a indústria de embalagens está preocupada em reúso, redução de impacto, reciclagem de materiais, recuperação de energia e, agora, nos combustíveis renováveis, ou seja, em que o ciclo de vida do produto tenha um impacto menor. Portanto os biopolímeros são uma nova fronteira”, afirma Ali Harlin, pesquisador da VTT, que viajou da Finlândia ao Brasil nesta semana para um seminário em São Paulo.

O uso da biomassa representa uma nova fronteira da indústria química e petroquímica no mundo, que está desenvolvendo projetos para reduzir a dependência de petróleo. Apesar disso, os bioplásticos ainda são um nicho: em 2010, sua produção chegou a 714 mil toneladas no mundo e devem chegar a 1,5 milhão em 2015.

A área de papel e celulose, em que a Finlândia tem grande destaque global, é outra que interessa à VTT. A empresa também prospectará negócios em mineração, especificamente na escavação de rochas, segmento ligado à perfuração de poços de petróleo. “Há microorganismos que corroem a ponta dos diamantes usados nas brocas de perfuração, e há pesquisas que podem ser feitas sobre quais anticorrosivos biológicos podem ser criados”, afirma Boeta.

Nesse segmento, o pré-sal poderá criar oportunidades para o centro de pesquisa. “O carro chefe será a biomassa, seguido de aplicações para a indústria de papel e celulose e para o segmento de mineração e de consumo intensivo de água”, diz Boeta.

A empresa opera atualmente com sete funcionários. Até abril de 2012, quando completa um ano de operação no Brasil, a ideia é ter dez pesquisadores. Até abril de 2013, a intenção é que esse número chegue a 20, sempre com foco em pessoal com formação acadêmica sólida, experiência na indústria e inglês fluente. Contratação de pessoal qualificado tem sido difícil, uma realidade que não é novidade. “Há uma escassez de profissionais. Para preencher duas vagas, tive de entrevistar 30 pessoas, e isso ocorre mesmo com uma empresa de head hunter apoiando o processo”, comenta Boeta.

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