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Feromônio pode eliminar praga da cana

A solução para o controle de animais que comem centenas de hectares de plantações de cana-de-açúcar parece estar próxima. Cientistas brasileiros sintetizaram um feromônio -substância responsável pela comunicação química dos animais- da broca da cana, com a intenção de usá-lo contra os bichos, de forma a desconstruir seu ciclo biológico.

O grupo de Paulo Zarbin, químico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sintetizou pela primeira vez uma substância essencial para a vida da broca da cana Sphenophorus levis (também conhecida como bicudo, gorgulho ou besouro da cana), animal que se alimenta da planta e reduz drasticamente a produtividade de plantações em áreas infestadas.

Utilizando o feromônio conhecido como (S)-2-metil-4-octanol, o inseto macho que achar uma fonte de alimento (como a plantação de cana) pode deixar uma espécie de sinal químico para que seus amigos também achem a comida, o que garante a sobrevivência da espécie -um fenômeno que é conhecido na comunidade científica como “agregação”.

Através da forma sintética da substância, produzida na UFPR, um agricultor pode fazer o feitiço virar contra o feiticeiro: com o feromônio como “isca”, fica fácil fazer armadilhas para as quais os insetos indesejados sejam convocados bioquimicamente. O uso dos feromônios é considerado uma opção mais limpa de controle da praga, já que não envolve inseticidas ou outras substâncias que possam causar dano ao homem ou ao meio ambiente.

“A pesquisa sobre feromônios é ponto-chave no controle de pragas. Um dos principais problemas da plantação de cana, o Migdolus fryanus [outra espécie de broca], foi praticamente controlado no Brasil com a utilização de feromônios”, diz à Folha Zarbin, 33.

No caso da Sphenophorus levis, o uso dos sinalizadores químicos é ainda mais importante, já que outras formas de controle biológico (como a utilização de possíveis predadores ou parasitas dos insetos) não têm tido sucesso com a espécie. Além disso, embora o feromônio possa ser extraído diretamente dos animais (existem métodos para isolar deles o “cheiro”), o uso de versões sintéticas elimina custos e cuidados extras.

Segundo o cientista, o uso de feromônios como o seu poderia ser mais difundido no Brasil. “Infelizmente ainda não há uma política de divulgação consolidada desse tipo de pesquisa. No nosso caso, demos sorte, e algumas empresas já nos contataram com interesse no que estamos fazendo”, diz Zarbin, que pretende patentear o produto assim que resolver os últimos problemas que detectou em testes de campo.

“O sistema tem de ser traduzido de maneira muito fidedigna. Apesar de funcionar bem para atrair os insetos, o efeito ainda está menor do que o do feromônio natural. Faltam um ou dois elementos para a atração perfeita. Temos boas pistas, estamos bem perto de descobrir o que falta”, diz Zarbin.

A certeza do cientista tem base em sua experiência: seu grupo já desenvolveu e mantém a patente de um método se síntese de um feromônio sexual [ligado à atração química entre macho e fêmea] para a praga mais difundida do café, a Leucoptera coffeella.

A pesquisa de Zarbin foi publicada no “Journal of the Brazilian Chemical Society” (jbcs.sbq.org.br) que, embora escrito em inglês, é brasileiro e é o periódico de química de maior impacto da América Latina.

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