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Felicidade comercial não é eterna

Surpresa foi a palavra que mais acompanhou a divulgação da balança comercial do mês de julho. O saldo comercial alcançou US$ 5,638 bilhões, produto de exportações recordes de US$ 13,62 bilhões, ante importações de US$ 7,98 bilhões. A média diária das exportações, de US$ 648 milhões, e das importações, de US$ 380 milhões/dia, representam um feito inédito.

Estes números, de plena felicidade comercial, fizeram até o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, confessar que o resultado também o surpreendeu, embora estes dados deixem o País, segundo ele, em situação “bastante confortável” em relação às metas deste ano para as exportações, lembrando que, no acumulado de 12 meses, até julho, o Brasil exportou US$ 129 bilhões. Não está longe, portanto, da meta fixada para dezembro de US$ 132 bilhões.

Porém, Furlan também ponderou que há forte influência na pauta de exportação de julho de produtos específicos, como petróleo e derivados, que isolados geraram superávit de US$ 3 bilhões. Produtos agrícolas também alcançaram bom desempenho em julho, em especial açúcar, álcool e café. Furlan, no entanto, registrou a perda de rentabilidade entre grãos e oleaginosas. Esta concentração é o ponto sensível nos números da balança de comércio de julho.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto Castro, por exemplo, foi mais cauteloso na análise desses dados, ponderando que três commodities – óleo, minério e soja garantiram este resultado, explicando que a grande demanda chinesa assegurou preço elevado para petróleo e derivados. Quanto a minérios, Castro lembrou que o preço no mercado internacional está bem alto e que embarques atrasaram por problemas portuários, insistindo também em que a soja está no auge do período de embarques. Ou seja, há fatores especiais que relativizam os recordes deste mês na balança comercial.

No acumulado dos últimos 12 meses, referência julho, o saldo comercial foi de US$ 45,2 bilhões, portanto, US$ 512 milhões a mais que o registrado em julho de 2005, um recorde histórico. Porém, a tendência de crescimento das importações permaneceu maior que a das exportações. A média diária das compras externas aumentou 31% em relação ao mês de julho de 2005 , enquanto a média diária das exportações subiu 23% na mesma comparação.

Vale notar que, apesar desta tendência na balança de comércio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reviu suas tradicionais posições sobre a influência do câmbio nas transações comerciais do País. Participando anteontem do 3 Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas, Mantega fez comparações com 1994 e 2000, para defender a atual política cambial.

Não é bem o que pensam atentos analistas do mercado exportador brasileiro. Por exemplo, a consultoria Tendência, apesar dos números de julho, já avisou que não irá rever suas previsões para o saldo acumulado de 2006 (US$ 43 bilhões) porque a balança comercial já está sentindo o peso do dólar muito baixo. As tabelas da consultoria mostram que em quantidade as exportações desaceleram há meses, mas, como os preços das commodities e até dos manufaturados continuam muito altos, o efeito dólar baixo fica encoberto. Apesar disso, o ministro Mantega garantiu que o Brasil está “fadado” a ter moeda valorizada e que dificilmente o dólar voltará aos R$ 3.

O céu de brigadeiro no mercado mundial pode sofrer alterações, em especial, no cenário norte-americano. O economista-chefe do Morgan Stanley, Stephen Roach, voltou anteontem a criticar em termos duros a política do Federal Reserve (Fed), que continua adotando “postura relaxada frente ao ritmo da atividade econômica” e que o presidente do Fed, Ben Bernanke, segundo ele, precisa recuperar “com urgência sua credibilidade junto aos investidores”.

Um mero soluço no poder importador dos EUA fará o exportador brasileiro ter muita saudade de um dólar mais competitivo para seus produtos. Apesar da feliz surpresa da balança comercial de julho de 2006. Para imprimir, enviar ou comentar, acesse:

www.gazetamercantil.com.br/editorial

kicker: Apesar do alto saldo comercial, análises de mercado mostram que as exportações já sentem o grave efeito do dólar desvalorizado

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