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Falta uma estratégia para fontes renováveis

Brasil figura timidamente na implementação de energias limpas em relação a outros países

Ampliar a oferta de energia, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, garantir que a geração e o consumo do bem sejam feitos com eficiência, constituem desafios importantes a serem enfrentados pelo setor energético em todo planeta nos próximos anos. A agenda para desenvolvimento do setor, afirmam os especialistas, está pautada sobre dois fatores: preservação ambiental e segurança energética.

“O fato é que o mundo continuará crescendo, vamos precisar cada vez mais de energia, e será preciso produzir essa energia com mais eficiência e de forma mais limpa, pois o petróleo não terá o mesmo papel que desempenhou no século 20”, resume o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Adriano Pires.

Fontes renováveis e, preferencialmente, limpas, para geração de energia, como a eólica, solar, de biocombustíveis e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), ganham cada vez mais relevância nas decisões de investimentos públicos e privados em todo o mundo. Com enorme potencial de exploração nesse campo, o Brasil figura timidamente na implementação de estratégias para energias renováveis em relação a outros países, indica um estudo global que acaba de ser concluído pela Ernst & Young.

Entre 25 países, o levantamento posiciona o Brasil em 21º lugar no ranking das melhores estratégias. Há, porém, uma ressalva favorável ao país, admite o estudo: contemplar apenas políticas aplicadas para as fontes eólica, solar, biomassa e geotérmica, desconsiderando a hidreletricidade, principal fonte geradora no Brasil.

“O conceito de energia limpa precisa ser mais debatido. Já vimos plataformas de produção de petróleo extremamente limpas, que parecem hospitais, e usinas de açúcar e álcool fazendo um estrago monstruoso ao seu redor, sem respeito ambiental e social”, pondera Joel Bastos, diretor de sustentabilidade da Ernst & Young.

É na falta de um controle mais rígido sobre o método de produção dos biocombustíveis – uma das principais apostas de energia alternativa – que o país perdeu força no relatório da consultoria internacional. “Temos vantagens excepcionais para a produção dos biocombustíveis, mas existe uma chance de as vendas esbarrarem em nossas falhas. Por isso, precisamos mostrar ao mundo que podemos produzir direito, com normas sociais, ambientais e provar que esse combustível é limpo de verdade”, alerta Bastos. Enquanto isso não acontece, os biocombustíveis acabam sendo relegados a segundo plano, prevalecendo a percepção positiva sobre as energias eólica e solar, essa última muito mais cara do que as demais.

O estudo da Ernst & Young destaca políticas anunciadas por governos para o avanço das energias renováveis, sobretudo eólica e solar. Os EUA lideram o ranking, diretamente impulsionados pelo plano de recuperação econômica apresentado pela Casa Branca, da ordem de US$ 800 bilhões, sendo que uma fatia significativa de investimentos, estimada em 10% do volume global, será destinada às energias alternativas, ganhos de eficiência energética e novas tecnologias.

Para Adriano Pires, cada continente deverá buscar, nos próximos anos, alternativas próprias e que considerem vantagens competitivas locais para a evolução de suas matrizes energéticas. “Dependendo da região do planeta, prevalecerá uma fonte primária. O que ninguém quer mais é ficar dependendo exclusivamente do petróleo dos árabes, embora seja claro que o mundo continuará consumindo petróleo”, avalia. “É uma falácia dizer que os combustíveis fósseis vão acabar. O que se buscará é o uso de tecnologias mais limpas e a exploração das melhores fontes disponíveis em cada lugar”, adiciona.

Nesse cenário, o diretor do CBIE acredita que o Brasil poderá desempenhar um ótimo papel, por reunir de forma ímpar as condições de diversificação de sua matriz energética. “Temos ventos, sol, terras férteis, reservas hídricas, petrolíferas e de urânio. Não podemos abrir mão de nenhuma oportunidade”, sustenta.

Nos últimos anos, ficou constatado, porém, o avanço de fontes poluidoras no parque energético brasileiro, sobretudo com a maior participação de queima de óleo e gás nas usinas térmicas. “Esse é um acidente de percurso, que aconteceu porque, infelizmente, é mais fácil obter um licenciamento ambiental de uma usina movida a óleo do que para uma hidrelétrica; e porque nos leilões de compra de energia nova, há alguns anos, predominou a energia térmica”, observa Pires. “Mas esses acidentes deverão ser corrigidos para o futuro.”

O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica (APMPE), Fábio Sales Dias, entende que, mais do que um equívoco pontual, a dificuldade de avanço das energias alternativas no país esbarra sobretudo na ausência de uma política definitiva para o setor. “É um mito achar que eólica, biomassa e PCHs são menos competitivas do que energia térmica. Aparentemente, essa maior presença não avança porque o governo parece temer pela modicidade tarifária”, comenta, ao alertar, entretanto, que basta o país enfrentar escassez de chuvas para que uma maior quantidade de termelétricas serem acionadas e os preços da energia dispararem.

Além da busca pela geração de energia mais limpa, o Brasil e o resto do mundo têm muito a avançar no uso mais eficiente de energia. Atualmente, alguns países desenvolvidos tem feito investimentos pesados nas chamadas “redes inteligentes”, em que há maior controle de perdas e combate ao desperdício. Nesses sistemas, o consumidor pode, por exemplo, definir a fonte de energia pela qual deseja ser abastecido (eólica, nuclear, solar, por exemplo) e controlar até cada ponto de consumo.

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