Mercado

Falta de estrutura pode comprometer o setor do Biodiesel

O governo federal vem promovendo leilões e reduzindo tributos para a produção de biodiesel. Mas será que essas medidas serão suficientes para atender a demanda e ao mesmo tempo beneficiar a cadeia produtiva? Para o pesquisador da Embrapa, Waltermilton Cartaxo, o governo precisa ser mais incisivo na política de regulação do mercado da mamona, sob pena de o Programa Nacional do Biodiesel beneficiar apenas os grandes empresários, sem gerar renda para os agricultores familiares. “Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais de oleaginosas no semi-árido é a falta de organização da cadeia produtiva”, enfatiza.

Cartaxo lembra que o Nordeste possui mais de cinco milhões de hectares disponíveis para plantação de mamona em mais de 500 municípios, mas diz que faltam informações sobre quem vai adquirir a produção e a que preço comercializar. Ele cita como exemplo o caso da Bahia, maior produtor de mamona do País, que obteve uma safra de 150 mil toneladas este ano, mas não encontrou mercado suficiente para vender toda a produção. Na região, segundo ele, o preço do quilo do produto, que era de R$ 0,55, caiu para R$ 0,37, o que inviabiliza a produção.

Para o ganhador do prêmio Nobel de química em 2000, o neozelandês Alan G. MacDiarmid, a preocupação já é outra. Ele afirma que o Brasil poderá perder a posição de maior produtor mundial de biocombustíveis se não desenvolver novas refinarias e formar mais profissionais capacitados.

MacDiarmid disse que o mundo está descobrindo a bioenergia como forma de reduzir a dependência do petróleo. “Temos um desafio real pela frente. O Brasil no momento é líder nessa área, mas muitas pessoas no próprio País não sabem disso e o mundo só agora está descobrindo o que o Brasil descobriu no passado. Mas é preciso que o País decida se quer continuar na liderança ou seguir o que virá pela frente”, afirmou. Para isso, sugeriu que os produtores pressionem o governo, desenvolvam tecnologias mais baratas e dêem estabilidade aos agricultores.

A falta de crédito bancário é outro entrave para a produção. Mesmo já tendo disponibilizado linhas de crédito desde 2004, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda não liberou financiamento para projetos de biodiesel no País. Dois motivos emperram a liberação desses recursos. O primeiro é a falta de projetos consistentes que justifiquem o financiamento. E o segundo é que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) só autoriza o funcionamento de uma fábrica de biodiesel quando a planta está pronta, o que inviabiliza o financiamento uma vez que o BNDES só libera o crédito com a autorização do órgão.

Em um seminário sobre o setor promovido no mês de novembro, em Recife (PE), os organizadores apontaram algumas alternativas para desonerar a produção brasileira. Segundo eles, é preciso analisar a atual situação do programa do biodiesel e definir estratégias dos governos federal, estaduais e municipais no sentido de garantir o desenvolvimento da cadeia produtiva do combustível não poluente, que no futuro deverá substituir o diesel de petróleo. Mesmo assim, é apenas um passo inicial. O certo é que a produção vem se desenvolvendo e aos poucos deve se consolidar, como define um dos principais incentivadores do biodiesel no Brasil, José Walter Bautista Vidal. “Há algumas dúvidas sobre o setor, mas não deverão durar por muito tempo pois as respostas dos produtores têm sido muito positivas”, finaliza.

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