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Fábrica de resina verde da Dow em xeque

A multinacional americana Dow Chemical corre o risco de engavetar de vez seu projeto bilionário de construir uma fábrica integrada de álcool químico para a produção de resina termoplástica no Brasil. Em um investimento de cerca de US$ 1 bilhão, a companhia já conversou com diversos grupos sucroalcooleiros, mas ainda não encontrou um parceiro forte que ajude a bancar esse complexo.

Idealizado em 2007, o projeto Santa Vitória, instalado na cidade que leva o mesmo nome na região do Triângulo Mineiro, foi concebido em parceria com a Crystalsev, controlada pela Santelisa Vale. Contudo, com a crise que se abateu sobre o setor sucroalcooleiro, a Santelisa passou para as mãos do grupo francês Louis Dreyfus, que decidiu se desfazer dessa parceria. Este mês, a Dow passou a controlar 100% desse projeto, ao adquiriu os 50% de participação da Crystalsev.

Originalmente, o complexo álcool químico foi planejado para integrar uma usina de açúcar e álcool, com a produção anual de 350 mil toneladas de polietileno (PE). As operações estavam previstas para ter início a partir de 2011. A proposta era construir uma unidade produtora para processar 8 milhões de toneladas de cana por safra, o que equivaleria a cerca de 800 milhões de litros de álcool.

O Valor apurou que o plantio de cana já tinha sido feito e estava em fase adiantada. Segundo uma fonte, a múlti esteve prestes a fechar a parceria com o grupo Coruripe, com usinas de açúcar e álcool em Minas Gerais e Alagoas. No entanto, as negociações não vingaram, uma vez que o grupo nordestino queria manter uma produção de álcool combustível nesse mesmo complexo.

Uma das primeiras companhias a anunciar projeto de produção de resina verde no Brasil a partir do etanol, a Dow Chemical foi passada para trás pelos seus concorrentes. A Braskem inaugura este semestre sua unidade de plástico verde em Triunfo (RS). A companhia petroquímica decidiu comprar matéria-prima (etanol) de usinas, como a ETH Bioenergia e a Cosan, e industrializar o produto em sua própria fábrica. E a Solvay tem contrato de longo prazo com a Copersucar para o fornecimento do álcool.

“O governo de Minas Gerais está se empenhando para encontrar um sócio para firmar parceria com a Dow”, afirmou Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Minas Gerais (Siamig).

Para Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento, consultoria sucroalcooleira, o projeto de resina verde para ser viável economicamente tem de ter os preços do petróleo consolidados a partir de US$ 80 o barril. Ontem, a cotação do WTI encerrou a US$ 77,58 (segundo contrato). O barril teve seu último pico em julho de 2008, quando chegou a bater US$ 145,86. Àquela época, quando a Dow já tinha anunciado seu projeto, muitas companhias passaram a estudar fazer o mesmo. Dois anos depois, a Dow ficou para trás, enquanto Braskem e Solvay optaram pelo caminho mais curto, ou seja, comprar a matéria-prima (etanol).

Procurada, a Dow informou, por meio de sua assessoria, que continua a ser uma entusiasta dos benefícios do projeto de polietileno a partir da cana e em seu potencial para o crescimento da empresa no país, assim como na oferta de um plástico a partir de fonte renovável e autossuficiente de bionergia, o que reforça a reputação da Dow como líder mundial em química sustentável. A América Latina, ainda segundo a companhia, é um mercado estratégico para a Dow em polietileno e o Brasil é prioridade. “A Dow continuará a investir tempo e recursos nesse projeto como foi recentemente demonstrado a acionistas por meio do Investor Data Book.” No entanto, a empresa não comentou sobre os planos de parceria nem como fica sua estratégia, caso não encontre um sócio para o projeto.

Por conta da crise financeira global deflagrada em 2008, a Dow decidiu como estratégia focar em especialidades químicas e produtos de performance. Nos negócios de plásticos básicos, a empresa não descarta também encontrar um parceiro para formar joint venture e, assim, conquistar uma posição global ainda mais forte, com melhor acesso a matérias-primas e maior disponibilidade de recursos para investimentos.

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