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Exportação pode passar de 15% do PIB

A importância das exportações na atividade econômica nunca foi tão grande. As vendas ao mercado externo poderão ultrapassar neste ano 15% do Produto Interno Bruto (PIB), pelas projeções de alguns economistas ouvidos pelo Valor. É um pouco mais do que o registrado em 2003, quando, com 14,8% do PIB, elas já atingiam o mais alto patamar dos últimos 20 anos, incluindo o período da maxidesvalorização, na década de 80, quando chegaram a 14,2%, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

Em 1998, último ano antes da desvalorização cambial, quando um dólar valia R$ 1,20, elas representaram 6,5% do PIB. Nesse período, portanto, elas mais que dobraram sua participação no produto. Esse resultado expressivo, que desta vez tem sabor especial por vir acompanhado de um crescimento do próprio PIB, e não mais por força de sua contração, como em 2003, permitirá que o Brasil volte a responder por mais de 1% do comércio mundial. É um percentual ainda pequeno, mas só havia sido registrado há dez anos, em 1993.

Desde então, o país alternou movimentos de aumento e perda de participação no mercado internacional e só engatou uma trilha contínua de ganho de mercado a partir de 1999, depois da desvalorização do real. “1% é pouco, mas a participação do Brasil no PIB mundial é de apenas 2%, então, essa relação pode gradualmente aproximar-se desse índice”, observa Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.

Além do aumento da fatia das exportações, a corrente de comércio – soma das exportações e importações, o indicador que dá a medida da abertura de uma economia -, passou de 18% do PIB, em 1999, para 24,4 % em 2003, podendo alcançar 25% neste ano, segundo projeções do departamento de economia do Bradesco.

É outro salto animador, embora também diminuto, se colocado ao lado do percentual da Coréia (75%) ou da China (70%).

Diferentemente do que ocorreu nos anos 80, quando as exportações deram um pulo expressivo mas depois foram perdendo fôlego, o caminho trilhado desta vez parece mais sólido e tem boas chances de consistir rota de crescimento sustentado, avaliam esses especialistas. Isso, com uma ressalva importante, segundo eles: a continuidade se dará se os investimentos do país também aumentarem.

Alguns desses economistas, como José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, acreditam que a cultura exportadora foi assimilada de tal forma e passou a ser tão fundamental para as empresas que o Brasil poderia chegar, em três ou quatro anos, a ter 20% de seu PIB como resultado desse “crescimento exportador”. No curtíssimo prazo, o que foi alcançado ainda não é suficiente “para carregar o piano sozinho”, afirma, referindo-se aos efeitos benéficos das exportações para a economia como um todo.

“Mas falar em 20% seria um outro jogo. Seria um ciclo virtuoso”, acredita. Para Mendonça de Barros, o mercado interno emagreceu tanto, nos últimos dois anos, que um número maior de empresas passou a considerar o “jogo” de vender para o exterior. “Isso tem um efeito cumulativo muito positivo e muito forte”, diz ele.

De fato, o número de empresas exportadoras aumentou 23,7% entre 1998 e 2003, passando a 17,2 mil registros, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) repassados pela Funcex. “Dá para acreditar que essa cultura exportadora vai se consolidar”, comenta o economista Fernando Ribeiro, da Funcex.

“Muitas empresas que perderam mercados anteriormente tratados como cativos, numa época em que as exportações não estavam muito favorecidas, agora o reconquistaram e deles não vão abrir mão. Não será um pequeno crescimento do mercado doméstico que irá reduzir essa vocação exportadora”, afirma Octavio de Barros.

A percepção, agora, é de que o crescimento dos negócios com outros países não é mais um surto, como sempre ocorria no país em épocas de desvalorização cambial. O empresário descobriu que, ao exportar, a qualidade de sua empresa muda para melhor, e as vantagens vão além. “A restrição de mercado é menor e, com o tempo, o custo de capital também cai”, avalia Mendonça de Barros.

Para o economista, os empresários também descobriram, na exportação, uma forma eficaz de planejamento tributário. “Como o governo não pára de aumentar imposto, a única forma para ter carga tributária menor, dentro da lei, é exportando. Ou estar no mercado interno, mas na informalidade”.

Embora acreditem que as exportações seguirão uma trajetória ascendente, outros economistas, como Marcelo Nonnenberg, do Ipea, Mariano Laplane, do Instituto de Economia da Unicamp, ou o próprio Octavio de Barros, acreditam que essa participação das exportações em relação ao PIB crescerá de forma mais gradual.

Para Nonnenberg, se todos os fatores que hoje nos favorecem – preços das commodities altos, demanda externa aquecida, câmbio e economia interna ainda cambaleante – continuarem colaborando por mais um ou dois anos, os exportadores poderão avançar em suas conquistas. “Mas ninguém imagina que possamos manter taxas anuais de crescimento de 20% por muito tempo”, afirma o economista do Ipea. Em 2003, as exportações aumentaram 21% sobre 2002. Neste ano, a previsão oficial é de uma alta de 13% (para US$ 83 bilhões).

“Depois de muitos anos, pode-se dizer que dá para ganhar dinheiro exportando. Mas daí a extrapolar um crescimento muito linear da relação exportação/PIB é um pouco de exagero. Será uma gigantesca vitória se, num horizonte de dez anos, o país conseguir superar os 20% do PIB”, avalia Barros, do Bradesco.

O professor Laplane, da Unicamp, vai além. Para ele, a questão não é tanto dar esse salto até os 20%, mas sim garantir que esse aumento seja obtido juntamente com o crescimento do próprio PIB, e não em detrimento deste, como aconteceu em 2003. No ano passado, boa parte do resultado significativo dessa relação deu-se justamente por causa da queda do Produto Interno Bruto e de uma demanda interna enfraquecida pela perda de poder de compra dos salários. “Não adianta nada um aumento desse coeficiente com a economia estagnada. O tipo de aumento que vimos em 2003 não é desejável”, afirma Laplane.

Para que o aumento das exportações chegasse a ter uma influência mais abrangente sobre o nível de atividade, “contagiando” positivamente a economia como um todo, dois fatores precisariam mudar, segundo Laplane. Primeiro, a taxa de investimento do país teria que crescer dos atuais 17,1% para pelo menos 22%, de acordo com o economista da Unicamp. Segundo, a pauta de exportação teria que ser mais dinâmica, com os manufaturados pesando muito mais para os superávits comerciais. Países como China e os europeus conseguem um benefício econômico muito maior porque, ao venderem para fora produtos mais complexos, envolvem mais elos das cadeias produtivas, o que tem um efeito multiplicador na mão-de-obra e na massa de salários, explica Laplane.

“Imagine um país fictício que só exporta suco de laranja , soja e minério de ferro”, ironiza. “E que utiliza, para essa produção um grande volume de importações, ao mesmo tempo”. Boa parte dos benefícios dessa produção acaba indo para o país que vende os fertilizantes, compara Laplane.

O economista da Unicamp lembra, ainda, que um salto de 15% para 20% do PIB em exportações requer um grande volume de investimentos em aumento de capacidade das empresas e em infra-estrutura, coisa que o setor público é incapaz de fazer, pois “o governo renunciou aos investimentos para pagar a dívida”, acredita Laplane.

Para realizar esses investimentos, os empresários irão esbarrar em outro problema: a escassez ou alto custo dos financiamentos. “A locomotiva da exportação só vai funcionar mesmo se houver financiamento a esses investimentos. Sem isso, não há solução”.

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