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Exportação cresce, mas petróleo ainda provoca déficit

Apesar da alta de 178% nas exportações de petróleo bruto entre 2001 e 2003, em consequência do aumento de 15% na produção brasileira no período, o Brasil deve amargar déficit superior a US$ 2 bilhões na balança comercial de petróleo e derivados pelo menos até 2006. Esse déficit deveria variar conforme os preços do produto no mercado internacional e as taxas de crescimento do país.

Os economistas classificam o rombo nas contas externas como “estrutural”. Eles afirmam que, apesar de caminhar para a auto-suficiência na produção de petróleo e estar distante da crise da década de 80 quando chegou a importar US$ 10 bilhões em óleo bruto, o Brasil só reverterįa esse déficit com investimentos na capacidade de refino, o que permitirįa reduzir a importação de derivados, produtos de valor agregado maior que o óleo bruto. “É um problema de porte razoável. Se a economia crescer nos próximos anos, estaremos no limite de nossa capacidade de refino”, avalia Fabio Silveira, da F Silveira Consultoria.

Na hipótese de a nova refinaria da Petrobrás começar a ser construída em 2004, o investimento estarįa maduro para render frutos para a balança comercial brasileira a partir de 2006. A expectativa é que a refinaria custe US$ 2,8 bilhões e processe entre 150 mil e 200 mil barris por dia. A estatal possui atualmente onze refinarias no Brasil, com capacidade para 1,93 milhões de barris/dia, atendendo 92% do mercado nacional.

O crescimento da produção brasileira de petróleo bruto pesado permitiu que 2003 fosse mais um ano excepcional para a exportação brasileira de petróleo e derivados. O país deve fechar o ano com exportações entre US$ 4,75 bilhões e US$ 4,9 bilhões, aumento de até 26% em relação a 2002, conforme consultorias ouvidas pelo Valor. Dados da Secex registram exportações de US$ 4 bilhões de janeiro a outubro, alta de 25,2% ante o mesmo período do ano anterior.

Levantamento do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBI) aponta que o complexo petróleo e derivados atingiu a posição de segundo principal produto da pauta de exportação brasileira entre janeiro e outubro, superando minério de ferro e perdendo apenas para soja triturada. No mesmo período em 2002, o petróleo ocupava o terceiro lugar.

Três fatores contribuíram para o forte desempenho das exportações: a recessão econômica, o aumento da produção brasileira de petróleo (os investimentos da Petrobrás garantem hoje crescimento de 6% a 8% ao ano) e a alta de 20% nos preços do produto. O barril Brent passou de US$ 25 na média em 2002, para US$ 29 em 2003 por conta da guerra no Iraque, dos problemas enfrentados pela Venezuela e das cotas estabelecidas pela Organização dos Países Produtores de Petróleo.

A crise contribuiu também para reduzir, em volume, as importações de petróleo e derivados. “O saldo é positivo ąs custas de uma recessão econômica”, diz Adriano Pires, diretor do CBIE. Segundo a MB Associados, as compras caíram cerca de 10% no período de janeiro em outubro em volume. Mas o aumento dos preços praticados no complexo, estimado em 22% no período, garantiu alta de 12% nas importações em valores. Nos primeiros dez meses do ano, o Brasil importou US$ 6,36 bilhões em petróleo e derivados. As consultorias estimam que o país irįa gastar entre US$ 7,4 bilhões e US$ 7,8 bilhões em 2003, alta de até 25% comparada ao ano anterior.

O forte aumento dos preços do petróleo garantem déficit expressivo para o Brasil em 2003, apesar das maiores exportações. As estimativas apontam para perdas entre US$ 2,55 bilhões e US$ 3 bilhões. A MB Associados estima déficit de US$ 3 bilhões, 4% abaixo de 2002. A Tendências trabalha com déficit de US$ 2,8 bilhões em 2003, queda de 11%. Para a F Silveira Consultoria, o déficit deve aumentar em 2003, para US$ 2,55 milhões, ante US$ 2,36 milhões do ano anterior. As estimativas das consultorias variam conforme os derivados incluídos na conta (algumas somam gás natural e carvão ulha).

As variáveis crescimento econômico e preço do petróleo também serão fundamentais para a balança do petróleo em 2004. Os economistas trabalham com perspectiva de preço do petróleo entre estável e queda de 7%, apostando em uma situação mais calma no Iraque e em maior produção na Rússia. Já as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) oscilam entre 3% e 4%.

Apostando em preços estįveis do petróleo, a MB Associados estima déficit de US$ 3,2 bilhões em 2004 – alta de 6,4% em relação ao ano anterior, interrompendo o ritmo de queda dos déficits brasileiros do produto. “O cenário mais provável é de retomada da economia e maiores importações de derivados”, diz Glauco Carvalho, economista da MB.

A F Silveira Consultoria aposta em alta de 5% dos preços do produto e déficit de US$ 2,55 bilhões em 2004, alta de 10,5% em relação ao ano anterior. Já a Tendências segue acreditando em manutenção da tendência de déficits menores: US$ 2,4 bilhões em 2004, queda de 16,6% ante 2002. “O aumento do consumo de derivados pode ser compensado pela queda nos preços do petróleo”, avalia Fabiana Fantone, da Tendências.

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