Em entrevista para o Portal JornalCana, Piero Vincenzo Parini, presidente do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras do Estado de Mato Grosso (Sindalcool-MT), traça um raio X sobre a produção de etanol de milho no estado.
Parini, que também é diretor da Destilaria Libra, situada no município de São José do Rio Claro (MT), avisa: empregar o milho para fazer biocombustível veio para ficar.
O Mato Grosso caminha para se tornar a nova fronteira do etanol brasileiro?
Como está a produção de etanol de milho no Mato Grosso?
Piero Vincenzo Parini – “Temos três unidades sucroenergéticas produzindo etanol de milho: a Libra, a Usinat e a Porto Seguro. A Porto Seguro fica na região de Jaciara e está na primeira safra de etanol de milho. Ela é usina flex: produz etanol com cana-de-açúcar e entra com milho safrinha na entressafra.”
Qual é a estimativa de produção da Porto Seguro?
“Ela processa 20 toneladas por hora, que daria 500 toneladas por dia. Isso representa cerca de 200 mil litros de etanol ao dia. Se ela processar durante 120, 150 dias, contribuirá com 30 milhões de litros gerados a partir do milho.”
E a produção de etanol de cana da Porto Seguro?
“Ela deve ter concluído a moagem com 1 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, o que deve ter gerado aproximados 80 milhões de litros.”
No todo, as três unidades de etanol de milho do Mato Grosso devem chegar a qual produção em 2015?
“Somadas, as três processam 2,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, mais 70 toneladas de milho processadas por hora, ou 1,6 mil toneladas por dia, com produção média de 400 litros as três unidades chegam a 700 mil litros por dia. As que produzem na entressafra admite-se 150 dias de safra.”
E no caso da Libra?
“Ela é flex, porém é full na produção. Ela não para. Faz em paralelo à cana. Assim, a Libra processa 35 toneladas de milho por hora, o que gera entre 750 a 800 toneladas ao dia, ou 300 mil litros de álcool por dia. Como produz 330 dias por ano, totaliza 100 milhões de litros de etanol de milho.”
As três juntas devem fechar 2015 com qual produção de etanol de milho?
“Devem superar 200 milhões de litros a partir do milho, o que é mais do que a produção de 2014, em 50%, com a entrada da Porto Seguro.”
Qual é a tendência da produção de etanol de milho para 2016?
“Essas três unidades mantém a produção. Outras unidades já estudam a sua adequação e transformação para unidade flex. Ou seja, a introdução de cereais para produzir etanol.”
Quantas devem estar nesse estágio?
“Mato Grosso possui 9 unidades sucroenergéticas. Três já fazem etanol de cereais, e das seis consta-me que três estudam a implementação.”
A conturbada situação econômica do País pode frear esses investimentos?
“O momento não converge com disponibilidade financeira. O momento é de muita prudência, as decisões são tomadas com o máximo possível de atenção, não cabe euforia nesse momento. Mas o que joga a favor é que no Centro-Oeste do País a produção de etanol atende ao mercado de consumo.”
Explique mais, por favor.
“O Mato Grosso tem uma característica importante. Nós temos uma área vocacional de mercado, que é Mato Grosso, Rondônia, Acre e todo o Amazonas. Hoje, 100% da produção de etanol do Mato Grosso já atende a essa região vocacional. Temos, evidente, um aumento no consumo de etanol e, no Mato Grosso, ele chega ao consumidor numa relação de 63%, 64% do preço da gasolina, o que ainda é bastante convidativo.”
Então a participação das três unidades com etanol de cereais foi fundamental?
“Sim. A produção das três ajudou a garantir o abastecimento do ano. Elas já participaram dessa necessidade. Ou seja, não fossem elas evidentemente a oferta estaria bastante apertada, e a entrada das três trouxe folga na oferta, e ainda há espaço para que as demais unidades sucroenergéticas do Mato Grosso entrem no mesmo escopo nos próximos dois a três anos.”
É mais barato produzir etanol do milho diante o etanol de cana-de-açúcar?
“É mais barato quando o preço do milho oferecido tem um teto que mantém essa diferença de custo. Hoje [12/11/2015] compramos milho posto na usina R$ 60 a saca de 60 quilos. Essa mesma saca custava, há três meses, R$ 15.”
Por que a diferença de valores?
“À medida que o produto é exportado e a oferta diminui, o preço sobe, conforme a regra natural do mercado. Mas mesmo com esses R$ 60 por saca, como houve o realinhamento dos preços do etanol, essa diferença fica absorvida.”
Diante os novos preços, fazer etanol de milho ainda é competitivo?
“A distância entre custo de produção de etanol de cana e de milho hoje ainda é favorável ao milho na ordem de 30%.”
Há uma tendência de redução de canaviais?
“No Mato Grosso os canaviais se mantém. Porque a ideia é implantar unidades flex porque o bagaço é insumo básico para cogerar vapor e energia para alimentar a produção a partir de cereais.”
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E as usinas full, como a Libra?
“As usinas full trazem essa dificuldade, porque dependem de insumo básico que é a biomassa. Sem ela, é preciso comprar 100% dessa biomassa e é onde esbarra o custo e a viabilidade do negócio. Esse é ponto de inflexão entre a viabilidade de instalação de unidades já existentes com bagaço, complementadas com biomassa de cavaco de madeira.”
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“Cerca de 30% de nossa biomassa é complementada com biomassa de cavaco de madeira, já que temos grande disponibilidade de eucaliptos.”
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Qual é valor médio da tonelada de cavaco colocada na usina no Mato Grosso?
“Entre preço do produto e transporte, a tonelada entregue na usina sai por R$ 50. Essa biomassa está localizada a até 150 km da unidade sucroenergética.”
O milho das três unidades em produção é próprio ou de parceiros?
“É 100% próprio. Foi uma opção para viabilizar a unidade de cana. Era preciso buscar uma opção contra a pouca margem que o etanol de cana oferecia.”
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