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Excesso de oferta derruba preço do etanol nos EUA e lucros do setor caem

imageUma alta na oferta derrubou os preços do etanol nos Estados Unidos para os níveis mais baixos dos últimos quatro anos e reduziu os lucros de um setor que havia registrado ganhos robustos na maior parte do ano.

Os futuros de etanol despencaram 28% em setembro, já que o recuo da demanda doméstica deixou os produtores americanos com seu maior estoque em mais de um ano. Os estoques em setembro atingiram seu nível mais alto desde março de 2013, segundo o Departamento de Informação sobre Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês). Embora a demanda pelo biocombustível, junto com a da gasolina no qual é misturado, normalmente caia após o verão americano, o recuo neste ano foi pronunciado.

“A demanda por gasolina despencou no início de setembro e a do etanol caiu junto”, diz Geoff Cooper, vice-presidente sênior da Associação de Combustíveis Renováveis, que reúne fabricantes de etanol. Nos EUA, o etanol é produzido a partir do milho.

Apesar do susto, o setor está acostumado à volatilidade e já enfrentou obstáculos maiores. Em 2012, muitos fabricantes tiveram perdas enormes e alguns deixaram de produzir etanol depois que os preços do milho saltaram para níveis recorde devido a uma grave seca nos EUA. Em 2008, várias empresas de etanol pediram recuperação judicial em face de uma alta semelhante.

A cotação das ações de algumas fabricantes de etanol caiu recentemente após apresentarem fortes altas no início do ano. As ações da Green Plains Inc., GPRE -5.81% uma das maiores produtoras americanas, caíram 16% em setembro.

Para os consumidores americanos, a queda nos preços do etanol pode significar uma pequena economia no posto de gasolina, dizem analistas. A maior parte da gasolina americana contém no máximo 10% de etanol, fruto de uma exigência federal a partir de 2000 que elevou o percentual do aditivo na gasolina. O etanol é há muito considerado benéfico ao meio ambiente, além de ajudar a reduzir a dependência dos EUA do petróleo importado.

Mas os preços mais baixos do etanol são ruins, no curto prazo, para o deprimido mercado de milho americano. Os fabricantes de etanol estão começando a reduzir a produção em resposta às menores margens de lucro. Os produtores de milho esperavam que os fabricantes de etanol, que consomem mais de 33% da produção anual de milho dos EUA, pudessem ajudar a elevar os futuros do grão, que na terça-feira recuaram para o menor nível em cinco anos.

O setor de etanol nos EUA, que movimenta US$ 44 bilhões por ano, enfrenta ainda outros desafios. A Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) está avaliando a proposta de reduzir a exigência de mistura do etanol na gasolina, em parte pela fraca demanda por misturas contendo mais de 10% de etanol. A agência pode tomar a decisão final nas próximas semanas, segundo pessoa a par do tema.

Ontem, os futuros do etanol para entrega em outubro caíram 0,3%, para US$ 1,528 por galão, na Bolsa de Comércio de Chicago, o menor preço de um contrato de vencimento mais próximo desde junho de 2010.

Os preços do etanol caíram muito este ano devido ao recuo dos preços do milho com a safra recorde de 2013 e expectativas de uma produção ainda maior este ano. O milho barato permitiu margens de lucro maiores para os fabricantes de etanol.

A margem do setor caiu para cerca de seis centavos de dólar por litro no fim de setembro, ante o recorde de 54 centavos em abril, segundo o Centro para Desenvolvimento Agrícola e Rural da Universidade do Estado de Iowa. Michael Cosgrove, sócio da trading Vectra Capital, de Nova York, diz que os preços do etanol podem se recuperar se os processadores reduzirem mais a produção. “No curto prazo, podem cair um pouco mais, mas ficaria surpreso se eles ficarem muito baixos por muito tempo”, diz.

Os produtores já cortaram a produção nas últimas semanas. Na semana terminada em 26 de setembro, a produção de etanol americana caiu para seu mínimo em seis meses, de 881 mil barris por dia, segundo a EIA.

Com o preço do etanol atualmente em cerca de 26 centavos de dólar por litro menor que o da gasolina, muitos refinadores irão misturar quanto etanol puderem, o que pode gerar algumas economias para os consumidores, dizem analistas.

Os futuros de etanol também foram deprimidos por um anúncio, em setembro, de que o governo brasileiro oferecerá benefícios fiscais ao setor de açúcar e etanol do país. As novas medidas criaram receios entre os operadores que o Brasil possa exportar etanol mais barato, prejudicando as exportações americanas.

Alguns analistas não acreditam que o Brasil possa causar um impacto significativo. As exportações americanas foram auxiliadas pela queda de preços, que atraiu compradores como Emirados Árabes, Filipinas e México. As exportações dos EUA cresceram 54%, para cerca de 1,6 bilhão de litros, no primeiro semestre de 2014 ante igual período de 2013, segundo a EIA.

As exportações dos EUA podem crescer mais nos próximos três meses porque a produção de etanol brasileira desacelera no quarto trimestre com o fim da safra de cana-de-açúcar, dizem analistas. Mesmo as exportações para o Brasil podem subir no fim do ano porque os produtores brasileiros estão enfrentando falta de matéria-prima devido à seca.

O analista Aakash Doshi, do Citigroup, C +0.29% prevê que as exportações americanas serão em média quase 7 centavos de dólar por litro mais baratas que as brasileiras, apesar do subsídio fiscal prometido.

Outro curinga para os preços do etanol é o sistema ferroviário americano. O clima extraordinariamente frio e a neve do último inverno contribuíram para grandes atrasos nos embarques do Meio-Oeste, o que reduziu a distribuição de etanol para os portos onde as refinarias misturam o biocombustível na gasolina para uso doméstico ou exportação. Um aperto na oferta elevou os preços dos futuros de etanol para US$ 3,517 por galão em abril, maior alta em mais de sete anos. Novos problemas nos transportes no próximo inverno podem fazer com que os preços subam de novo, dizem analistas.

(Fonte: The Wall Street Journal)

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