
O Brasil decidiu não renovar a tarifa zero para importação da cota de 750 milhões de litros de etanol. O benefício não vale desde domingo (30), portanto, a partir desta segunda-feira (31), as compras do biocombustível no mercado internacional, que não seja dos países integrantes do Mercosul, voltaram a ser taxadas em 20%, conforme regra estabelecida pela Portaria Secint/ME 547, de 31 de agosto de 2019.
Os Estados Unidos, principal impactado com a volta da alíquota, já que 90% do etanol importado vem de lá, queriam a isenção da taxa e fim da cota. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alertou que iria impor tarifas aos produtos brasileiros, caso o Brasil não reduzisse a alíquota de importação do etanol americano.
A retaliação já pode ter iniciado com a redução da cota de importação com tarifa zero do aço brasileiro, no final de semana.
“A tarifa de importação de etanol não pode ser zerada sem contrapartida para o Brasil”, afirmo a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em comunicado, alegando que, é de conhecimento público, que a agricultura norte-americana sempre gozou de subsídios elevados, majorados ainda mais por ocasião da pandemia de COVID-19.
LEIA MAIS > Livre mercado de açúcar e etanol é defendido por entidades do setor
Segundo a FPA, desde o final de maio deste ano, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) disponibilizou, como previsto na Farm Bill (legislação americana de agricultura), a concessão de US$ 6,2 bilhões em subsídios, US$ 1,6 bilhão dos quais em favor da soja, milho e algodão.
“Como solução de negociação, existe a possibilidade de se buscar um balanço incluindo a abertura dos mercados ao açúcar, produto que, no Brasil, também é produzido a partir da cana. O Congresso apoia a política de abertura comercial implementada pelo atual governo, mas destaca a necessidade de que o processo seja conduzido de forma a assegurar ganhos reais ao nosso País”, defendeu.
A entidade ressalta que nos EUA, as importações de açúcar são reguladas por cotas e a participação do Brasil naquele mercado é infinitamente inferior à participação do País no comércio mundial, não chegando a atingir 1% do total de nossas exportações globais.
LEIA MAIS > Setor sucroenergético vai a Mourão defender o etanol

“Caso não haja contrapartida equivalente dos EUA, manifestamos nosso pedido à presidência da República para que as cotas não sejam renovadas e que a Tarifa Externa Comum de 20%, vigente desde 1995 como resultado do acordo Mercosul, seja aplicada”, afirma.
O deputado Arnaldo Jardim (SP), presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, também se manifestou contra a isenção de tarifas.
“O etanol dos EUA é fortemente subsidiado e mais desfavorável ambientalmente. Não podemos importar o etanol subsidiado deles ao mesmo tempo que vetam a importação do nosso açúcar e estabelecem uma pesada carga sobre a importação do adoçante”, destacou, se referindo as tarifas sobre o açúcar brasileiro, que chegam próximas de 140%.
LEIA MAIS > Sucessão familiar, governança e inovação: o que pensa a próxima geração do setor

Durante o Webinar JornalCana – Encontro de Lideranças, realizado recentemente pelo JornalCana, o assunto foi um dos temas debatidos diante da pressão americana, que tem como fundo de pano, as eleições de Trump e o fato da isenção ser positiva neste sentido.
No evento online, Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de–Açúcar (Unica) disse que a estratégia foge à lei. “Não é possível submeter políticas públicas para beneficiar a eleição de ninguém, muito mais de um chefe de Estado estrangeiro. A nossa legislação impede que se faça isso, pois é crime”, alertou.
Gussi acredita que o Governo Federal irá rever o benefício. “Os americanos querem um livre comércio, mas cobram taxas de importação do açúcar mais do que o produto vale. Querem livre comércio? Então vamos conversar com maturidade. Liberamos o etanol deles e eles liberam o nosso açúcar nas mesmas bases”, concluiu.