A criação de consórcios e associações de produtores é uma das principais estratégias defendidas por Gonçalo Pereira, pesquisador e líder do Laboratório de Genômica e Bioenergia da Unicamp, para preparar o setor sucroenergético brasileiro diante da crescente demanda por novos biocombustíveis, resultado do processo de transição energética global.
Durante o 3º Congresso Técnico Global Cana, realizado no dia 5 de setembro, em Ribeirão Preto -SP, o especialista destacou o potencial dos biocombustíveis para aviação e navegação marítima como uma grande oportunidade para o setor. “Estamos perdendo a batalha da comunicação”, afirmou Gonçalo, ao mencionar a dificuldade que a indústria enfrenta para demonstrar suas vantagens em termos de sustentabilidade frente a outras fontes de energia. Ele acredita que o avanço no uso de biocombustíveis na aviação pode reverter essa percepção negativa.
“Biocombustível, muitas vezes, é associado à queima de florestas, mas na aviação, essa imagem não existe. Isso nos ajuda a realizar o marketing que não conseguimos até agora”, explicou. Segundo ele, o etanol, nesse cenário, passará a ser visto como uma solução sustentável e inovadora.
Pereira ressaltou que a impossibilidade de uso de baterias em aviões abriu uma imensa oportunidade para os biocombustíveis. Ele citou o hidrogênio como uma das soluções mais promissoras. “O hidrogênio é nosso biocombustível, mas, por vezes, o óbvio não é tão evidente”, destacou. O pesquisador explicou que, ao substituir fontes fósseis por biomassa e hidrogênio, é possível criar um ciclo sustentável de energia.
Além da aviação, a navegação marítima também se mostra como um setor promissor. “O transporte marítimo é maior que o aéreo e já existem navios sendo desenvolvidos com motores flex, capazes de operar tanto com metanol quanto com diesel. E, provavelmente, também com etanol”, previu Gonçalo, apontando para o potencial de contratos de longo prazo para os produtores de biocombustíveis.
Uma das principais recomendações do Pereira para os produtores de etanol é a formação de consórcios ou cooperativas para atender a essa nova demanda. “Ninguém é inimigo. Para produzir esses combustíveis avançados, é preciso trabalhar em cooperação”, enfatizou o especialista, sublinhando a necessidade de união no setor para garantir o sucesso.
Outro destaque foi o metano, que Gonçalo considera essencial para o futuro do setor bioenergético. “O metano é o nosso elo entre o mundo fóssil e o bio. Todas as usinas devem produzi-lo”, disse. Ele também criticou o uso contínuo de máquinas agrícolas movidas a diesel, reforçando que o metano deveria ser o combustível padrão.
Durante sua palestra, o pesquisador apresentou alternativas promissoras para a produção de biocombustíveis, como a cana-energia, macaúba, agave e o biochar, utilizado na recuperação de solos degradados.
O pesquisador mencionou o desenvolvimento de um projeto com a macaúba, que começou com um investimento de R$ 12 bilhões e já chega a US$ 13 bilhões. “Eles compraram a usina de Mataripe e vão construir outra nova. Esse é o futuro, baseado em óleo”, afirmou. Sobre a cana-energia, ele destacou a produtividade alcançada na Bahia, com 471 toneladas por hectare, evidenciando os avanços genéticos.
Em relação ao agave, planta com alto potencial para produção de etanol, Pereira mencionou que, na Austrália, um hectare da planta pode produzir até 7,4 mil litros de etanol por ano. “O Brasil tem 108 milhões de hectares. Esta é nossa nova fronteira agrícola, cheia de oportunidades”, concluiu.