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EUA teriam de tomar decisões difíceis para reproduzir sucesso do Proálcool

O Brasil, antes profundamente dependente de petróleo importado do Oriente Médio, conseguiu fazer o que o presidente americano George W. Bush identificou como um objetivo dos Estados Unidos: acabar com o “vício” do petróleo utilizando o etanol.

Mas a experiência brasileira mostra que, para copiar o exemplo brasileiro, os EUA terão de fazer escolhas políticas que outros presidentes americanos se esquivaram de fazer, entre elas aumentar impostos sobre a gasolina, acabar com o apoio do governo a importantes produtos agrícolas como canade- açúcar e milho e abrir mercados agrícolas protegidos.

“Para mudar os hábitos de combustível de um país, algumas políticas públicas são necessárias”, diz Eduardo Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, que responde pela maior parte da produção brasileira de álcool combustível.

Fazer do álcool um sucesso no Brasil exigiu determinação que às vezes parecia tola. O País lançou o Proálcool em 1975, mas há apenas alguns anos o combustível tornou-se competitivo em relação à gasolina sem subsídios do governo. Durante muitos anos, os preços internacionais da gasolina eram tão baixos comparados com o álcool produzido no Brasil que muitos brasileiros achavam que o projeto era um desperdício de tempo e dinheiro dos contribuintes.

Mas o governo se ateve ao programa, utilizando um misto de várias políticas industriais para produzir o combustível, reduzir seus custos de produção e disponibilizá-lo amplamente. O governo ordenou que os postos de gasolina oferecessem álcool e que ele fosse mais barato na bomba do que a gasolina — a diferença era coberta com subsídios.

Isso aumentou a demanda, o que acabou por permitir que os produtores investissem em novas tecnologias para tornar o álcool mais barato.

O governo também ajudou a tornar o álcool mais acessível abrindo o mercado. Quando o custo do álcool tornou-se proibitivo no começo da década de 90, o Brasil cortou os subsídios e forçou os usineiros a se tornarem mais produtivos para sobreviver e crescer no mercado mundial.

Como o custo da produção da cana é de longe o maior componente no custo de produção do álcool, reduzi-lo foi fundamental para baratear o combustível.

Transplantar essas lições para os EUA — cuja maior fonte de etanol é o milho — seria difícil. Leve-se em conta, por exemplo, a idéia de um imposto sobre a gasolina. Ao longo dos anos, presidentes republicanos e democratas pagaram caro por aumentar o imposto sobre a gasolina, entre eles o pai do atual presidente, George H. Bush, que aprovou um pequeno imposto sobre a gasolina para reduzir o déficit fiscal.

Um programa de incentivo ao uso do etanol inspirado no brasileiro significaria acabar com o apoio dos EUA a seus produtores de cana e de milho. Mas para isso os EUA teriam de cortar subsídios agrícolas protegidos pelo poderoso lobby agrícola e pela maioria do Congresso. Ao mesmo tempo, os EUA teriam de eliminar as proteções a seu mercado de açúcar e álcool, cuja importação atualmente é dificultada por cotas e tarifas restritivas.

“Um mercado livre em um produto como açúcar definitivamente acabaria por reduzir os preços. Mas a proteção à indústria existe há décadas”, diz Paul Drazek, ex-consultor de comércio exterior do Departamento de Agricultura dos EUA.

Abrir o mercado de etanol também faz sentido do ponto de vista estratégico num país preocupado com o fato de que o aumento da receita de países do Oriente Médio por causa do alto preço do petróleo pode ajudar a financiar atividades terroristas ao redor do mundo.

“Não faz sentido aplicar impostos ao etanol importado de países amigos como o Brasil quando não os aplicamos ao petróleo importado de países como a Arábia Saudita”, diz Gal Luft, diretor executivo da Análise da Segurança Global, um centro de estudos de Washington especializado em combustíveis.

Outra área em que políticos americanos podem ter um papel importante é em assegurar que o combustível esteja disponível em todos os lugares. Nos EUA, apenas uns 500 postos de gasolina oferecem o etanol. Montadoras como a Ford Motor Co., que estão aumentando sua produção de veículos bicombustíveis, dizem que o governo precisa oferecer mais incentivos para os postos oferecerem etanol.

“Podemos produzir automóveis bicombustíveis, mas não podemos fazê-lo sozinhos. Precisamos que as políticas de governo façam sua parte”, diz Curt Magleby, gerente de políticas públicas da Ford.

Muitos críticos da política industrial argumentam que esses programas quase sempre tornam-se meios de transferir recursos a indústrias que deveriam investir por conta própria.

Para o Brasil, contudo, o resultado foi satisfatório. Em parte graças ao amplo uso do etanol, um país que na década de 70 dependia de petróleo importado para suprir 80% de suas necessidades vai se tornar independente em combustível neste ano.

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