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EUA tentam de novo se reaproximar do Brasil

Há bons motivos para que os EUA se aproximem do Brasil e para que o Brasil corresponda a eles. Os EUA não têm mais o poder econômico incontestável. O unilateralismo arrogante de George W. Bush e os desastres políticos dele decorrentes talvez tenham sido o último canto do cisne da velha ordem. Em um mundo dividido entre várias potências, emergentes ou não, sem hegemonias, os americanos precisarão, mais do que nunca, compor interesses e buscar convergências. O multilateralismo do presidente Barack Obama é o reconhecimento dessa realidade. Além disso, a política dos EUA para a América Latina contentou-se, quando muito, em cuidar dos laços com os países “confiáveis”, como Colômbia e Chile, e desdenhar os demais. Por esse e muitos outros motivos, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, Equador e Brasil caminharam para governos de esquerda ou populistas com maiores ou menores traços de antiamericanismo. Nada mais natural para o governo Obama que recuperar o tempo perdido e tentar criar um clima favorável buscando sintonias com o Brasil, a maior democracia do continente.

A oportunidade que faltava foi dada pelas indicações de mudanças de ênfase na política externa da presidente Dilma Rousseff, iniciadas com posições públicas contra atentados aos direitos humanos no Irã. O pragmatismo da nova administração foi o sinal eloquente para que a diplomacia americana vislumbrasse a possibilidade de trazer o Brasil de volta ao campo das relações de proximidade em vários temas de interesse comuns, em que antes só havia antagonismo, indiferença ou desprezo mútuos.

As mudanças econômicas da última década igualmente tornaram o Brasil sedutor para os negócios americanos. A economia brasileira deslanchou e o futuro é bastante promissor, com a descoberta de um mar de petróleo no pré-sal e as obras e serviços para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, que o país sediará. Empr esas de todo o mundo cobiçam as centenas de bilhões de dólares que serão gastos nos próximos anos e ter relações amigáveis com o governo brasileiro é um bom caminho andado para os interesses dos EUA.

Por outro lado, o Brasil abriu espaço para o avanço político e comercial de rivais ideológicos dos EUA, como a China. Ela se move com facilidade em toda a América Latina, no vácuo deixado pelos americanos, e já está em toda a parte onde existam matérias-primas que possam ser exploradas. A China, a segunda maior economia do mundo, tornou-se a principal parceira comercial do Brasil. A presidente Dilma Rousseff deixou bem claro esse ponto em conversas reservadas com Obama, ao reclamar do protecionismo americano em relação a produtos brasileiros como o etanol, carne, aço, algodão e suco de laranja. Sem progressos nessas questões por parte dos americanos, os chineses continuarão com a primazia com o Brasil, apesar de eles serem tão ou mais duros no jogo comercial que os Estados Unidos.

A aceitação do Brasil como potência emergente tem como consequência o rearranjo institucional que retrate a nova realidade e dê a ele e outros países maior peso nos organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. As reformas até agora feitas, segundo a presidente Dilma, são ainda “limitadas e tardias”. Os EUA acreditam que há espaço para negociação nesses temas, embora, quanto ao Conselho de Segurança da ONU, aceite uma reforma limitada e tenha grande apreço pela demanda brasileira. Daí a aceitá-la, há um oceano.

O presidente Obama fez os mais enfáticos e variados apelos públicos à aproximação entre os dois países em sua visita. Dez acordos foram firmados e é natural que eles comecem por temas secundários, embora relevantes. Servem, além dos objetivos práticos, para criar clima de confiança e áreas de interação entre países há algum tempo afastados. Nas questões essenciais, nada muda. É na Câmara (onde Obama perdeu maioria) e no Senado que as questões comerciais que atormentam o Brasil são decididas.

A posição pragmática da presidente Dilma Rousseff, que não excluiu a demonstração franca e pública das diferenças que separam o Brasil dos EUA, e a maior deferência dada pela política de Obama ao diálogo com o novo governo indicam uma promessa – boa, mas não mais que isso por enquanto – de mudanças mutuamente proveitosas nas relações entre os dois países.

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