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Etanol registra menor consumo em cinco anos

“Pode completar”, diz o cliente já entregando as chaves. “Álcool ou gasolina, senhor?”, pergunta o frentista. “Álcool, por favor”. Nunca foi tão raro, pelo menos nos últimos cinco anos, ouvir o diálogo acima nos postos de combustíveis do Ceará. O motivo é a velha lei da procura e da oferta. A disponibilidade do etanol no mercado não acompanhou a demanda crescente pelo produto. Seguindo a lógica comercial, o preço disparou e, com isso, despencou o consumo do chamado combustível verde.

Só para ter uma ideia, no primeiro bimestre deste ano, foram vendidos 14,8 milhões de litros de etanol, no Estado. Em similar período de 2011, o consumo tinha sido nem maior, 26,7 milhões. Uma diferença de quase 12 milhões de litros, representando queda de 45%.

No outro extremo, quem manda na preferência do consumidor cearense é a gasolina comum. Nos dois primeiros meses de 2012 ante igual intervalo do ano anterior, os donos de postos viram o consumo deste combustível crescer 46%, saltando de 136 milhões de litros para 199 milhões. Os dados são da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Irregularidade

O consumo de álcool hidratado no Ceará também é o mais irregular na série dos primeiros bimetres de 2008 para cá. Diferentemente da gasolina, que mostrou tendência de alta a cada ano que passou. Na opinião do assessor especial do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Costa, o preço é o grande responsável pela mudança de comportamento do consumidor. “Essa é a primeira causa, com certeza”, explica.

Segundo Costa, as usinas de cana estão preferindo, já há algum tempo, exportar açúcar a etanol, pelo fato de ser mais lucrativo. Ele acrescenta que a quantidade de carros flex avançou bastante nesse período. “Isso aumentou ainda mais a demanda. Mas oferta continuou a mesma, não cresceu em semelhante proporção”, afirma.

Para o assessor do Sindispotos, o fator climático também agravou a situação. “Houve uma grande estiagem no Sul e Sudeste, que também prejudicou a produção”, resume, arriscando uma projeção para os próximos anos. “A tendência (do preço do etanol) é não cair tão cedo nos próximos quatro ou cinco anos por todas essas razões que falei”.

Peso no bolso

De acordo com o levantamento semanal da ANP, o biocombustível, no Ceará, na semana compreendida entre 29 de abril e 05 de maio, chegou ao preço médio de R$ 2,15. Um litro foi negociado por R$ 2,039 (valor mínimo) e R$ 2,399 (custo máximo).

Em uma breve comparação com o menor valor do etanol praticado em janeiro e fevereiro de 2009, quando o preço do litro era comercializado por R$ 1,39, percebe-se uma diferença de R$ 0,64 para o valor mínimo de hoje. O aumento acumulado no período foi de 46%.

Essa elevação explica a retração na preferência pelo álcool. Vale ressaltar, que, conforme especialistas, o uso do etanol deixa de ser vantajoso em relação à gasolina quando o preço do derivado da cana-de-açúcar representa mais de 70% do valor da gasolina. A vantagem é calculada considerando que o poder calorífico do motor.

No Ceará, tomando como parâmetro a última semana do estudo da ANP, a relação dos preços médios da gasolina e do álcool, respectivamente, R$ 2,72 e R$ 1,15 o litro, foi de 79%. O resultado ratifica que continua mais viável economicamente a utilização do etanol.

Carros flex

Conforme especialistas, o uso de um único tipo de combustível nos carros adaptados para rodar com dois diferentes pode prejudicar o funcionamento do motor. O comerciário Maurílio Vidal, por exemplo, comprou uma automóvel flex 0 Km. Ele diz, que, desde a data da compra, só utilizava gasolina. “Teve um dia que o carro começou a perder força. Eu passava a 4ª marcha e ele não atendia bem”, explica.

Segundo Vidal, não foi preciso levar o veículo para oficina. “Um amigo me aconselhou que o carro precisa ´ler´ os dois tipos de combustíveis para funcionar direitinho. Passei num posto e coloquei só um pouco de álcool. Deu certo. Nunca mais deu problema”, conta. Ele, no entanto, continua abastecendo só com gasolina. “Não vale a pena por etanol. É muito caro”.

PROTAGONISTA

Gasolina é financeiramente mais viável

Após realizar uma experiência com o próprio automóvel, a economista Helena Lima constatou que a gasolina era uma opção financeiramente mais viável. No ano passado, ela passou um mês inteiro utilizando apenas gasolina e outro mês abastecendo o carro exclusivamente com etanol, constatou ter economizado mais com a primeira opção. Desde então, a economista, que antes da experiência usava os dois tipos de combustível, acompanha a variação dos preços dos dois combustíveis. Como não houve grande mudança na média dos preços, permanece usando apenas gasolina.

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