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Etanol pode vir a ser importado dos EUA

Diante da escalada dos preços do etanol, governo e usineiros começam a contemplar a possibilidade de importação do combustível dos Estados Unidos. O tema já foi discutido em reuniões com o governo, que, segundo fontes, teria concordado em zerar a alíquota de importação do produto, hoje em 20%. As importações teriam como objetivo principal garantir o estoque de etanol para enfrentar a entressafra na produção de cana-de-açúcar. “Se o consumo continuar no ritmo do final do ano, não há estoque suficiente para abastecer o mercado até março, abril”, disse uma fonte do segmento de distribuição de combustíveis. Nos Estados Unidos, ao contrário, há excedente de oferta neste momento, dizem especialistas.

O tema foi discutido em reunião do conselho da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) na terça-feira, confirmou o empresário e conselheiro da Unica, Maurílio Biagi Filho, lembrando que o pleito pa! ra redução da tarifa de importação é antigo. Observadores próximos garantem, porém, que a ideia ganhou força nas últimas semanas, diante da preocupação cada vez maior com os preços e estoques do etanol nessa entressafra.

Desde o início de outubro, o etanol anidro vem sendo comercializado pelas usinas de São Paulo a valores acima de R$ 1 por litro, sem impostos. Na última semana, atingiu R$ 1,2892, valor 65% superior ao do mesmo período do ano anterior e, sem correção, recorde na série histórica compilada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Executivos do setor dizem que já há vantagens econômicas na importação de etanol americano, mas que ainda não há previsão para a chegada de cargas. Há, no entanto, sondagens junto a produtores daquele país, mas o grande risco de trazer o produto em um período de preços mais baixos torna mais lento o processo de decisão.

A maior vantagem econômica está hoje no Nordeste, que está em plena safra – e enviando etanol para o Centro-Sul, mas há a expectativa de que, a partir de abril, quando o Nordeste estiver em entressafra, exista uma demanda por etanol naquela região que não poderá ser atendida pelo Centro-Sul e tenha que ser atendida por importações, seja dos Estados Unidos, seja de países da América Central.

Oficialmente, a Unica admite a possibilidade de importações, mas seu diretor técnico, Antônio Pádua, diz que o pedido pela redução da tarifa tem como objetivo dar um passo no sentido de transformar o etanol em commodity internacional. Os Estados Unidos vão rever este ano a tarifa para importações de etanol brasileiro e, segundo o argumento dos usineiros, a redução da tarifa brasileira abre maiores chances para que os americanos façam o mesmo. “Seria um movimento importante, para mostrar que um mercado mais aberto é bom para eles também”, diz um executivo de empresa produtora de cana-de-açúcar.

PONTUAL. Procurado pela reportagem, o Ministério da Fazenda informo! u que ainda não há decisão formal sobre as tarifas. É consenso no mercado que a possibilidade de importações não significa que haverá enxurrada de etanol americano no Brasil. “Trata-se de um problema pontual”, argumenta uma fonte.

Ao contrário do que ocorre com os derivados de petróleo, a infraestrutura para garantir a entrada do etanol no País é diversificada, o que permitiria acesso a um variado número de empresas, entre produtores, distribuidoras de combustíveis e tradings. No caso dos derivados de petróleo, os importadores ficam nas mãos da Petrobras, dona de grande parte da infraestrutura. Segundo um observador próximo a área energética do governo, a própria estatal comentou em reunião recente que poderia importar etanol no período de entressafra.

A disparada dos preços foi provocada por um aumento de 25% no consumo em 2008 e agravada pelo grande volume de chuvas durante a safra, que reduziu o volume de produção do combustível. Para enfrentar o problema, o governo já reduziu de 25% para 20% o volume de anidro na gasolina, medida considerada inócua pelo setor, mas que pode contribuir para segurar um pouco o consumo.

A redução da tarifa de importação já foi adotada em 2006, quando os altos preços levaram o governo a intervir no setor, fechando um acordo com os usineiros para que o valor de venda não ultrapassasse R$ 1 por litro. Diante do não-cumprimento do acordo, o governo optou por incentivar as importações.

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