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Etanol pode crescer nos EUA mesmo sem queda de tarifas, diz Clinton

As tarifas de importação podem deixar de ser um empecilho para a entrada do etanol brasileiro nos Estados Unidos, caso o governo americano acelere as restrições à emissão de gases causadores do efeito estufa nos próximos anos, disse esta semana o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, em palestra para representantes do setor canavieiro, em São Paulo.

Ele afirmou que mesmo que as tarifas se mantenham no patamar atual, de 54 centavos de dólar por galão, estados como a Califórnia podem se ver obrigados a importar o combustível brasileiro, se quiserem alcançar metas mais ambiciosas de diminuição do impacto sobre o aquecimento global.

Segundo o ex-presidente, não há mais dúvidas de que o etanol de cana oferece a melhor taxa! de conversão de combustível em energia, além de propiciar uma redução significativa das emissões de carbono em relação aos derivados do petróleo.

Ele acredita que isso deve encorajar os americanos a adotar gradualmente o biocombustível em sua matriz energética se, por exemplo, o Congresso do país aprovar uma das várias leis que propõem cortes na emissão de carbono.

Na opinião de Clinton, uma mudança como essa ainda enfrenta dificuldades, mas mostra-se cada vez mais viável, diante das pressões internacionais sobre os Estados Unidos e do fato de os congressistas americanos estarem mais bem informados sobre os problemas do clima do que quando ele era presidente.

A adesão efetiva a tratados internacionais de combate ao aquecimento global é um ponto-chave para os EUA continuarem a ser respeitados pelos outros países, na opinião de Clinton, e mesmo que os parlamentares ainda não sejam capazes de aprovar uma lei perfeita nesse sentido, devem se preocupar em instit! uir uma que seja ao menos “digna de crédito”.

O ex-presidente afirma que a condição para o Brasil ter acesso ao mercado dos países desenvolvidos é garantir – e ser capaz de mostrar – que a produção de cana pode se expandir sem empurrar a soja e o gado para regiões hoje ocupadas por florestas.

Nesse caso, diz ele, o benefício ambiental da troca de petróleo por etanol seria anulado pela emissão de carbono resultante das queimadas na Amazônia, o que provocaria uma rejeição ao produto brasileiro.

Nova lei até 2010

O cenário apresentado por Bill Clinton reforça a necessidade de o produtor brasileiro “fazer sua parte”, na opinião de Joel Velasco, representante nos EUA da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), organizadora do evento em que esteve o ex-presidente.

Para Velasco, o discurso de Clinton ressalta que, ao invés de se concentrar exclusivamente em derrubar as tarifas, o produtor precisa ficar atento também a um caminho de inclusão mais ligado à questão ambiental.

“Caiu a ficha dos americanos, acabou a disputa sobre se a mudança climática existe”, ele diz.

Velasco aponta que se o governo americano resolver incentivar economicamente o uso de energia mais limpa, a disposição dos compradores em pagar um “prêmio” pelo etanol aumentaria, ou seja, mesmo que as tarifas continuem a encarecer o produto, sairia mais barato adotá-lo do que manter um combustível de maior impacto ecológico.

Outro caminho para a expansão do etanol nos EUA pode ser a adoção de leis ambientais mais rígidas, que obriguem, por exemplo, a mistura de biocombustíveis ao combustível fóssil. Por ser mais eficiente, o etanol seria o primeiro da lista a ser adotado, ele diz.

“Dentro de 12 a 18 meses, alguma lei nesse sentido deve passar no Congresso”, aposta.

Ele ainda lembra que a atual tarifa sobre o etanol tem validade até 2010, quando precisa ser revalidada pelos congressistas.

“É claro que o lobby do milho vai tentar agir, mas se eles não con! seguirem nada, a tarifa expira”, diz Velasco.

Os produtores de etanol de milho sofreram uma derrota no início de maio, quando o governo americano divulgou novas regras para as metas de uso de combustíveis renováveis. A classificação mais recente, feita por agências oficiais, mostra que o etanol de milho diminui a emissão de poluentes em 16% em relação à gasolina, enquanto o de cana reduz em 44%.

Qual será a prioridade dos EUA?

Há quem defenda, porém, que os Estados Unidos não vão incentivar o uso de etanol enquanto dependerem excessivamente da importação do produto.

“Num processo de recessão, é difícil o governo tomar uma medida de aumento do blend sem que haja aumento da produção local. O Brasil deve ter um ganho de exportação para lá, mas eu não contaria com muito fluxo”, afirma Igor Vergueiro, gerente de etanol da Allicom, empresa que comercializa produtos dos grupos São Martinho, União São João e Santa Cruz.

Ele acredita que o fator decisivo para a adoção do etanol! será a entrada das grandes companhias petrolíferas no mercado produtor de biocombustíveis, como na recente compra de usinas de etanol por parte da Valero, uma das principais empresas de refino de petróleo dos Estados Unidos. Isso garantiria investimentos mais concretos e evitaria que novos padrões ambientais criem um problema de abastecimento.

“Em médio e longo prazo, europeus e americanos devem aumentar a demanda, mas não devemos esperar nada para 2009, talvez para 2010”, diz.

Já para o coordenador da FGV Projetos, Cleber Guarany, a necessidade de os americanos se adequarem a patamares rígidos de emissão de carbono pode, sim, pesar mais do que a preocupação com a segurança energética ou o lobby de agricultores locais.

“O governo americano está muito mais sensível à questão ambiental, essa é uma das prioridades do governo Obama e num prazo relativamente curto deve sair uma nova legislação nesse sentido”, avalia.

Ele vê a preocupação ambiental como uma porta mais viável ! para a entrada do etanol nos EUA do que a derrubada de impostos. Guarany diz que o trajeto mais provável, inclusive, é a pressão passar do âmbito ecológico para o econômico. Primeiro, mudariam as regras ambientais e cresceria a demanda por biocombustíveis. Num segundo momento, estados como a Califórnia, dona de uma frota gigantesca de veículos, passariam a exercer pressão para o Congresso eliminar tarifas que penalizem a importação.

Outro especialista que propõe alternativas à estratégia da derrubada imediata de barreiras é o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Ele diz que não acredita numa eliminação das tarifas no curto prazo e, por isso, defende que o Brasil negocie um phasing out, como são chamados os acordos de corte gradual de impostos.

Pela proposta do ex-ministro, o processo duraria cerca de três anos e, no meio tempo, o Brasil poderia exigir que a arrecadação proveniente dos impostos sobre etanol fosse aplicada em projetos conjuntos de pesquisa em energias renováveis, envolvendo tecnologia do Brasil e dos EUA.

Também essa proposta dependeria de uma mudança de lei, mas ajudaria a destravar a negociação, na opinião de Rodrigues.

“Qualquer medida no sentido de reforçar as importações de etanol será positiva”, opina

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