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Etanol: novo ciclo de crescimento

O elevado preço do etanol incomodou muita gente nas últimas semanas. As pessoas se perguntam por que isso aconteceu e se vai se repetir no futuro. Os mais afoitos chegam a dizer que estamos diante de um “apagão” dos combustíveis e que o próprio futuro do etanol estaria em cheque. Daí a necessidade de uma análise serena e cuidadosa da matéria.

De 2000 a 2008, a produção de cana-de-açúcar cresceu 10,3% ao ano, puxada pelo forte crescimento das vendas de veículos flex. Com 20 novas usinas inauguradas por ano a partir de 2005, aquele momento foi caracterizado pela abundância de capital barato, novos entrantes com pouca experiência no setor e empresas tradicionais com dificuldade de acesso a instrumentos modernos de financiamento. Com o açúcar em baixa, os investimentos vieram da perspectiva de boas margens para o et anol, no país e no exterior.

Contudo, a crise mundial de 2008 chegou e atingiu principalmente as empresas que mais investiram. Um terço do setor entrou em dificuldades e passou por forte reestruturação financeira e/ou societária. Novos atores emergiram da crise: companhias sólidas do setor cresceram e grupos tradicionais das áreas de agroindústria, petróleo e química entraram com força. Só que os investimentos se concentraram na compra de empresas em dificuldades, com o crescimento da produção caindo para apenas 3% ao ano. Passada a crise, mais de 70% do setor são hoje compostos por grupos com bons ativos, estrutura de capital e governança, desempenho operacional e acesso a capital de boa qualidade. Portanto, grupos prontos para investir.

O problema é que hoje os indutores de mercado são muito distintos daqueles observados em 2005. Nos últimos seis anos, o custo de produção do etanol aumentou mais de 40% e o produto perdeu competitividade frente à gasolina, que segue com o mesmo preço desde 2005. Além da significativa redução de margens, que hoje não justificam elevados investimentos em novas unidades, os empresários se sentem inseguros em relação à falta de critérios na fixação do preço da gasolina, concorrente direto do etanol nas bombas e cujo preço “administrado” não segue as leis da oferta e da procura.

O desafio não é a disponibilidade de área, tecnologia ou pessoas motivadas para que um novo ciclo de expansão do etanol ocorra de forma eficiente. Dificuldades de gestão, governança e capital também foram superadas. O que realmente falta, no momento, é enfrentar os fatores estruturais que reduziram a competividade do produto. São medidas que exigem grandes esforços dos setores público e privado: harmonização dos impostos federais e estaduais com alíquota reduzida, forte incentivo à bioeletricidade, melhoria da logística e armazenagem, pactuação de compromissos com a oferta de biocombustível e a garantia de abastecimento, aumento da produtividade, redução de custos e busca de maior eficiência dos motores flex.

O Brasil deve ser hoje o país com maior disponibilidade de recursos naturais e tecnologia para expandir simultaneamente a produção de petróleo e de biocombustíveis. Nosso desafio é crescer de forma acelerada e organizada. Não queremos repetir o “voo da galinha” que vimos em 2006. Temos uma das matrizes energéticas mais diversificadas e limpas do planeta. A cana-de-açúcar já é a segunda fonte de energia do país.

Graças ao carro flex, o consumidor brasileiro é o único no mundo que pode escolher livremente o combustível que quer utilizar. Se o flex e o etanol não existissem, nos últimos seis anos os consumidores teriam gasto R$ 20 bilhões a mais para abastecer os seus carros só com gasolina, pois o etanol manteve-se competitivo frente à gasolina na maior parte do mercado. Isso sem contar com os prejuízos que a sociedade teria nas áreas de mitigação de gases de efeito estufa, saúde públic a, geração de empregos e renda e interiorização do desenvolvimento. O mundo reconhece que o Brasil tomou decisões corajosas e inovadoras na área de energia. Precisamos agora avançar mais rápido e melhor.

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