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Etanol no Japão, bom senso e também emoção

O desafio é enorme. Mas o Brasil desembarca em Tóquio disposto a provar que o etanol é o melhor combustível que o dinheiro pode comprar neste século 21. Não será uma partida fácil, pois o complexo produtivo que empurra a maior economia da Ásia, baseado no intenso consumo de energia fóssil, sabe muito bem quais são os seus interesses no xadrez estratégico que começa a ser jogado enquanto a sociedade humana prepara a sucessão do petróleo como fonte primária de energia para transportes.

Líder inconteste da tecnologia automotiva, detentor do conhecimento que o mundo reconhece imbatível na fabricação de motores a combustão, o Japão ainda hesita em tomar o caminho da energia renovável e de baixa poluição prontamente disponível -o etanol- que diversos países, como os EUA, a Suécia, a China e a Índia, já adotam. As principais marcas que realmente contam na hierarquia da Jama, a Associação dos Fabricantes de Veículos do Japão, estão com os seus olhos voltados para a tecnologia dos veículos híbridos -que combina motor de combustão operando com combustíveis fósseis e motor elétrico- e pesquisando intensamente o desenvolvimento de propulsores associados a células de hidrogênio.

Sem querer tirar os méritos das tecnologias mencionadas, faz-se necessário pontuar que a produção de veículos híbridos é ainda pequena, cara e voltada para o mercado norte-americano. Sua presença na substituição dos veículos convencionais deverá levar ainda muitos anos e existem inúmeros obstáculos: desde os comportamentais -os benefícios energéticos são limitados quando se oferece um produto com desempenho similar aos movidos a motores convencionais- até o custo de manutenção resultante de um sistema muito complexo. No caso dos veículos a hidrogênio, o percurso é ainda mais longo para torná-lo viável em larga escala.

Entre esses dois eventos, o ocaso do petróleo e a consolidação do hidrogênio, surge o etanol como alternativa concreta e ao alcance dos japoneses e de tantos outros povos que o queiram para equilibrar o ambiente do planeta. Produto conhecido, produzido e utilizado em larga escala a custos competitivos, o etanol tem uso simples, em mistura com a gasolina ou de outras formas. Nada mais adequado para o Japão e o seu desafio de cumprir as obrigações do Protocolo de Kyoto, fundado em seu território como resposta da humanidade aos estragos que o efeito estufa já produz no clima global.

Neste preciso instante é que o etanol do Brasil, produzido da cana-de-açúcar, pode exercer enorme e benéfico impacto positivo na matriz energética de sociedades avançadas, consumidoras intensivas de energia e, portanto, proporcionalmente mais responsáveis pelos custos da operação de limpeza que toma forma e conteúdo na velocidade em que os desastres naturais comovem a opinião pública.

É fato comprovado que a produção do etanol da cana-de-açúcar poupa energia, além de evitar a poluição no processo produtivo, graças à sua eficiência e sustentabilidade energética. Estamos falando da auto-suficiência das unidades produtoras de etanol, que resulta do aproveitamento do bagaço que é gerado nas moendas da cana-de-açúcar. Além disso, o etanol obtido garante mais energia por unidade energética gasta na sua fabricação do que qualquer outra fonte renovável em uso. Por todas essas razões é que o presidente Lula pode afirmar aos interlocutores do Japão que o etanol do Brasil é o melhor combustível que o dinheiro pode comprar em nossos dias.

A palavra decisiva para que a última barreira seja derrubada e o Japão decida colocar rapidamente em prática a diretiva que estabelece a mistura do etanol à gasolina no seu mercado interno é a confiabilidade das fontes supridoras. O Brasil tem todas as condições de se posicionar como sua principal base de abastecimento. Quem sabe disso, por experiência própria, é o primeiro-ministro Junichiro Koizumi, que conheceu a pujança da agroindústria paulista quando passou uma tarde na vizinhança de Ribeirão Preto, durante uma visita emocionante, para ele e também para os descendentes dos primeiros imigrantes japoneses, que o acolheram num turbilhão inesquecível para quem teve a oportunidade de participar ou de testemunhar o encontro.

A razão sempre prepondera nas decisões econômicas de grande impacto. Mas, nesse caso, um toque de emoção faz parte da jornada que pode unir ainda mais o Brasil ao Japão, tornando-os parceiros na maior operação já concebida por seres humanos para tornar o nosso planeta habitável para as futuras gerações: concretizar o sonho contido nas metas do Protocolo de Kyoto.

Eduardo Pereira de Carvalho, 67, é economista e presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).

Hoje, excepcionalmente, a coluna de Luiz Carlos Mendonça de Barros não é publicada.

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