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Etanol e metas ambientais

A redução da disponibilidade de etanol nos postos de todo o país e o aumento do custo do combustível ameaçam o cumprimento das metas brasileiras de corte de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Ela alavanca o uso de combustíveis fósseis, aumentando as emissões de poluentes. Esse problema aparentemente não estava previsto pelos governantes do país quando, em 2009, durante a COP 15, se comprometeram em diminuir as emissões em até 1 bilhão de toneladas de gás carbônico até 2020. Afinal, embora as metas não façam referência específica ao etanol, davam como certa a manutenção de um cenário mais favorável ao biocombustível, cujas emissões de CO² são neutra- lizadas durante o crescimento da cana-de-açúcar.

Os desafios enfrentados na substituição de derivados de petróleo pelo biocombustível da cana deixam a matriz de transportes brasileira cada vez mais dependente das fontes fósseis. O fato é que uma série de fatores vem comprometendo a ampliação do uso do etanol nos últimos dois anos: desde 2010, as vendas caíram 35%. Por trás disso, verifica-se uma importante desaceleração da produção. Segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), houve queda de 23,44% no volume produzido na última safra. Tal constatação é bastante preocupante, ainda mais se forem consideradas as projeções: na safra que está se iniciando agora, a perspectiva é atingir 500 milhões de toneladas, volume apenas 2% maior do que o registrado na safra passada.

Todo esse cenário gera um ciclo vicioso no mercado: quanto menor a produção de etanol, maior o preço do produto na bomba. Isso desestimula o consumidor a optar pelo biocombustível e, como consequência da baixa de demanda, o produtor perde o interesse em aumentar a parcela da cana que vira etanol. Condições climáticas inadequadas para a produção completam o cenário.

Na avaliação da Unica, a saída para se quebrar esse círculo vicioso passa pelo aumento dos investimentos no setor para estimular a produção do etanol, reduzindo os custos para o produtor e, consequentemente, ao consumidor. Só assim o combustível poderia efetivamente contribuir em favor da viabilização da meta global de redução de poluentes do país, auxiliando no cumprimento do que foi previsto pelo governo.

A responsabilidade pelo sucesso dessa missão, contudo, cabe a todos nós, e não somente à indústria e ao governo. Ao optar pelo biocombustível, o usuário estará efetivamente reduzindo as emissões causadas pelos deslocamentos pelos quais é responsável. Além disso, na maioria dos casos, os benefícios de abastecer o carro com etanol incluem expressivas reduções de custos, pois o cálculo da condição ótima em termos econômicos para cada veículo – ou seja, a relação entre o custo da gasolina e do etanol – depende de muitos outros fatores, como o comportamento do condutor, as condições de manutenção do veículo e das estradas, e características inerentes ao próprio modelo de carro. Ou seja, mais do que considerar a relação de 70% entre os preços dos combustíveis, é preciso conhecer o comportamento de cada veículo para verificar qual é a relação ótima de preços dos dois combustíveis.

Primar pelo compromisso nacional firmado na COP 15 é um dever de toda a sociedade. Certamente seremos cobrados por essa responsabilidade durante a Rio+20: será a hora de mostrar ao mundo que estamos nos esforçando para cumprir o papel que nós mesmos nos atribuímos de preservação do meio ambiente. Mas, será que estamos nos esforçando mesmo? A situação do mercado de etanol indica que ainda falta muito.

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