Mercado

Etanol, distante de ser real opção

Para que o etanol ainda venha a ser uma commodity internacional, muita cana-de-açúcar deverá ser colhida. E deverá ser colhida de modo muito diferente do que vem sendo feito até agora. De acordo com alguns relatórios da situação da mão de obra no país, mais de 30% das denúncias de escravidão tiveram nas lavouras de cana-de-açúcar o alvo.

Para Ricardo Abramovay, pesquisador e professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (USP), as restrições ambientais e sociais que pairam sobre a produção de álcool no Brasil diminuem as possibilidades de valorização do etanol no mercado mundial. Seu uso como combustível não poluente está comprometido pela sua origem, pois os latifúndios que o produzem são os mesmos que se valem da força de trabalho em condições precárias e, também, de queimadas que são feitas durante o período da colheita.

Para o especialista, enquanto o etanol não for contemplado por estudos que indiquem que é possível produzi-lo de forma mais autossustentável, seu consumo não deverá deslanchar. O fato de apenas o Brasil e o Estados Unidos produzirem-no é um impedimento efetivo para sua globalização, uma vez que o mundo ainda não experimentou eventuais vantagens reais na sua utilização.

Para Abramovay, a internacionalização desse combustível à base de cana-de-açúcar passa pela interação entre a produção e a geração de renda para as camadas pobres que habitam as áreas rurais. Somente com o engajamento dos pequenos agricultores essa fonte de energia limpa poderá se transformar numa alternativa real, gerando divisas.

O mundo ainda depende muito de matrizes energéticas não renováveis e poluentes, como é o caso do petróleo. Mais recentemente, o país tem feito investimentos vultosos em equipamentos e plataformas para a extração desse petróleo em diversos pontos do seu território. Com o aquecimento global, volta e meia retornam os debates sobre os necessários investimentos em outras fontes de energias que não agridam o meio ambiente. O mercado do etanol pode vir a suprir uma demanda por energias limpas, mas, para tanto, é necessário vencer as resistências e as desconfianças dos potenciais compradores.

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