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Etanol Brasil na vanguarda

Ao contrário dos derivados do petróleo — um combustível fóssil e, por isso, não renovável —, o etanol é um hidrocarboneto que pode ser produzido a partir de variados substratos vegetais ou sintéticos. A dependência global e a demanda pelo combustível crescem em velocidade muito superior à capacidade de prospecção e extração do petróleo, seja em terra ou no leito dos oceanos. Além disso, a queima do petróleo e seus derivados é uma das principais causas do lançamento de CO2 na atmosfera, um dos agentes do aquecimento global.

Os biocombustíveis vêm sendo apontados como a grande saída para a dependência do petróleo e para a redução da emissão de poluentes.

Com a crise do petróleo nos anos 1970, o Brasil saiu na frente com o Pró-alcool. O com! bustível feito de cana-de-açúcar passou a abastecer uma grande parte da frota brasileira, que já na época saía equipada de fábrica com motores adaptados ao biocombustível. O Pro-álcool representou grande economia aos cofres brasileiros com a redução de importação de petróleo.

Saída limpa, renovável e autossustentável

Na produção do etanol de cana-de-açúcar, toda a matéria-prima é quase 100% aproveitável. Muitas usinas já possuem sistemas que permitem o uso do bagaço da cana como fonte de combustível para a produção de eletricidade em pequenas centrais termelétricas. O potencial é tamanho que várias empresas, além de abastecer seus parques industriais com a energia gerada a partir do resíduo da cana, ainda comercializam a energia excedente, criando uma fonte de receita extra.

A busca por soluções mobiliza universidades e pequisadores na procura de novas fontes e formas de produção de combustíveis economicamente viáveis e de baixo impacto ambiental.

Basicamente, o etanol pode ser produzido a partir da maioria dos substratos vegetais disponíveis. Pesquisadores da Fundação Educacional Inaciana em São Bernardo do Campo (SP) desenvolveram o combustível usando biomassa de casca de banana. Com 1kg do produto, produziram aproximadamente 190ml de etanol. Em escala industrial, uma fábrica alimentada com 10 toneladas de cascas por hora produziria cerca de 2.115 litros. Com um investimento aproximado de R$ 10 milhões na planta industrial, a produção alcançaria16,8 milhões de litros.

Na Universidade Federal de Tocantins, no campus de Palmas, pesquisadores usam biomassa de batata-doce em uma miniusina desde 1997. Na pesquisa, a biomassa da batata é obtida por meio de hidrólise enzimática e fermentada com a mesma levedura usada na fabricação do pão. Os pesquisadores também estudam maneiras para melhorar a produtividade do tubérculo, que é considerada baixa para o uso industrial (cerca de 8,9 tonenadas por hectare).

Em todo o país, vários materiais como sisal e até eucalipto são objeto de pesquisas que buscam alternativas viáveis para a produção do combustível.

O etanol que vem do mar

Pesquisadores da UFRJ trabalham em um projeto que usa uma alga exótica, originária da Ásia (kapppaphycus alvarezzi), para produção de etanol a partir de procedimentos extremamente simples. Dela se obtém uma espécie de gelatina chamada carragena, utilizada na fabricação de vários produtos como: xampu, creme dental, sorvete e até presunto industrializado.

Depois de seco e lavado para a retirada de impurezas e do sal, o material é reidratado e fervido. Durante a fervura são adicionados ácidos para manter o produto em estado líquido. A mistura segue então para a etapa da fermentação, na qual leveduras são introduzidas e produzem álcool a partir das moléculas de açúcar, abundantes na alga. A mistura aquecida em estufa a 30 graus produz em poucos minutos gás carbônico e um líquido composto por água e etanol. Depois de fermentado, o líquido é destilado,produzindo um álcool de grande pureza.

A vantagem da alga sobre as outras matérias-primas é grande: não precisa de solo nem água potável para o cultivo. Outra vantagem é o ciclo de crescimento extremamente rápido. Cerca de 45 dias após o plantio, a alga já está pronta para a colheita.

No momento, a espécie só tem licença ambiental para o cultivo em um pequeno trecho do litoral, entre a Baía de Sepetiba, no sul do Rio de Janeiro, e Ilha Bela, em São Paulo.

Tratando-se de uma espécie não nativa do Brasil, muitos cuidados foram tomados para evitar danos ambientais até que a primeira licença fosse concedida. Experiências no Caribe associam o cultivo da alga à destruição de várias colônias de corais. No Brasil, até o momento, não foi resgistrado nenhum problema na região autorizada. Os pesquisadores da UFRJ acreditam que, com investimentos adequados, em quatro anos o etanol de alga pode ser viável comercialmente.

Fermento mineiro

Flávia Ayer

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) desenvolve uma pesquisa para descobrir fungos que sejam capazes de fermentar pentoses da hemicelulose, cadeias de açúcar de difícil degradação presentes em vegetais.

As buscas estão concentradas em florestas e alambiques de cachaça, de onde são retirados bagaços da cana e madeiras apodrecidas cheias de leveduras. No Parque do Rio Doce e na Serra do Cipó, em Minas Gerais, foi descoberta uma nova espécie que mostrou metabolizar bem pentoses dos resíduos vegetais, a Spathaspora arborariae. Ao fermentar esse açúcar, o fungo produz etanol e gás carbônico (CO2). Além dela, mais três tipos de leveduras estão passando pelo crivo dos pesquisadores.

Um dos coordenadores do estudo, o biólogo Carlos Augusto Rosa, explica que, para se comprovar a eficácia da levedura na produção do combustível, os organismos precisam passar por outras etapas. “Antes de introduzir o fungo, é feito um tratamento com enzimas no bagaço da cana. Temos que verificar se são resistentes aos produtos tóxicos gerados pelo processo e ver se são fermentadores em escalas industriais”, explica.

De acordo com o biólogo, o passo seguinte é retirar da levedura o gene capaz de fermentar a pentose e introduzi-lo na levedura Saccharomyces cerevisiae, que sintetiza bem outros elementos da cana-de-açúcar. “A ideia é produzir uma superlevedura. Atualmente, não existe uma produção em escala industrial. Quem conseguir primeiro, vai dominar a pesquisa na área”, afirma Rosa. A pesquisa deve ser concluída em dois anos.

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