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Estudo prevê IPCA acima de 4% com efeito etanol

O “efeito etanol”, que elevou os preços do milho e da soja, poderá ter impacto sobre a inflação deste ano e empurrar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para uma taxa acima de 4%, superior aos 3,87% projetados na média pelas instituições financeiras ouvidas na última pesquisa Focus do Banco Central.

Isto é que Marco Antônio Franklin, sócio da gestora de recursos Paraty Investimentos, prevê em estudo divulgado ao Valor. Ele estima um IPCA de 4,17% para 2007, puxado pelos alimentos. Para ele, apesar do cenário positivo para a inflação corrente e para a expectativa de inflação de 2007, “começa a se delinear um ponto de inflexão importante na trajetória quase sempre de queda contínua da inflação acumulada de 12 meses”.

O economista avalia que a excelente performance dos preços agrícolas no ano passado, influenciados pela ameaça de gripe aviária e febre aftosa, não deve se repetir este ano. Pelo contrário, ele prevê que a partir de abril os números virão piores que a taxa acumulada de 12 meses de 2,89% do IPCA, estimada por ele até março. Essa taxa em 12 meses vai crescer para 3,87% até junho e 4,27% até setembro, recuando para 4,17% no fim do ano.

Esse movimento em busca de energia alternativa ao petróleo, que vem ganhando cada vez mais espaço nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil, tem sacrificado áreas de produção importantes em prol do milho e da cana. Nos Estados Unidos, a área plantada de milho deve aumentar 11% este ano, enquanto a da soja deve encolher 7%. “A notícia é boa para a balança comercial brasileira, mas é má para a inflação”, destaca Franklin.

Na sua análise, o comportamento de alta dessas commodities agrícolas já vem sendo transmitido aos produtos finais do varejo, com destaque para a cadeia de protéicos, como as carnes de frango, suínas e bovinas. “Isso poderá desaguar numa inflação do grupo alimentação acima de 6% no ano, empurrando o IPCA para cima”, alerta.

O sócio da Paraty acredita que o Banco Central tomou a medida correta ao reduzir o ritmo de corte dos juros básicos como objetivo de tornar permanentes os ganhos da inflação baixa obtidos até agora. Para ele, a curva de juros a termo está muito “exuberante” e parece não estar levando em conta os riscos de a inflação voltar a subir, mais o risco da demanda doméstica aquecida colocar pressão adicional nos preços agrícolas.

Fábio Silveira, da RC Consultores, concorda com Franklin que a onda do “etanol” realmente vem mexendo com os preços das commodities agrícolas e tem capacidade de transmissão para o varejo. Tanto que estima uma inflação de 4,2% este ano. Mas não vê nesse processo mais do que “um deslocamento da curva de demanda no curto prazo, que provoca alta do milho e da soja”. Na avaliação de Silveira, se não houvesse fronteira agrícola no Brasil os preços dessas commodities correriam o risco de irem às alturas, mas a médio prazo, com aumento da oferta, esse desequilíbrio é corrigido.

Ao contrário de Franklin, Silveira procura minimizar os efeitos desse movimento, que para ele também leva pressão altista para produtos finais como carnes de frango, suínos, alimentos em geral, mas não abre espaço para uma reversão da tendência de queda da inflação. E, conforme observa, conseqüentemente não altera a trajetória de queda dos juros básicos. “Milho não é petróleo, que não dá para plantar. Isto claramente não mexe com a política monetária”, avisa.

Elson Telles, economista-chefe da Corretora Concórdia, trabalha com um IPCA para o ano entre 3,5% e 3,8%, percentual que é consenso no mercado financeiro. Para Telles, o “efeito etanol”, que vem causando um aumento nas cotações do milho e da soja no mercado internacional, com impacto no mercado doméstico sobre os alimentos no varejo, “não tem força suficiente para dar um gás muito significativo na inflação”. Ele não vê risco de uma taxa acima de 4,5%, “pois outros preços estão indo no sentido contrário da alimentação, sem falar no câmbio apreciado”.

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