Mercado

Estrangeiros miram Brasil para investir em açúcar

Três grupos sucroalcooleiros estrangeiros pediram recentemente à consultoria KPMG um levantamento completo do setor no Brasil para planejar possíveis investimentos. O interesse de multinacionais no mercado de açúcar e álcool do país, em si, não é novidade, uma vez que as usinas brasileiras têm os menores custos de produção do mundo. Contudo, os novos rumos do mercado global de açúcar, com a decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) de condenar as políticas de subsídios da União Européia, colocam o Brasil, novamente, no olho do furacão.

Segundo André Castello Branco, sócio da KPMG Corporate Finance, o maior interesse dos grupos que bateram à sua porta está ligado à decisão favorável ao Brasil na disputa com a UE na OMC. Apesar de ser passível de recurso, tal decisão deverá acelerar as reformas da política de proteção do bloco, propostas antes da vitória brasileira.

“Há uma maior pressão na Europa para acelerar as mudanças em seu regime de açúcar após a decisão da OMC”, afirma Toby Cohen, diretor de pesquisas da trading Czarnikow Sugar, com sede em Londres. Segundo ele, a decisão da OMC criará melhores oportunidades ao Brasil no mercado internacional, já que a competitividade das usinas brasileiras atrai o interesse das empresas estrangeiras.

Nos últimos quatro anos, dois grupos franceses – Louis Dreyfus e Beghin-Say – iniciaram suas operações com açúcar no Brasil, marcando a entrada de estrangeiros. O grupo Dreyfus, com faturamento global de US$ 18 bilhões (com a soja como principal atividade), por meio de sua controlada Coinbra, comprou três usinas, duas em São Paulo e uma em Minas. Todas as operações de aquisição foram intermediadas pela KPMG. A Beghin-Say, com receita estimada em US$ 1,5 bilhão, adquiriu a Açúcar Guarani, com duas unidades em São Paulo. Além das francesas, companhias como a alemã Südzucker, a inglesa British Sugar (controlada pela Associated British Food) e a americana Imperial Sugar já sondaram os canaviais do Brasil, mas efetivamente nada foi fechado.

A partir de 2000, quando os preços internacionais do açúcar começaram a ficar atraentes, as usinas retomaram os processos de fusão e aquisições. Em quatro anos, foram realizadas 33 operações de fusões e aquisições no setor, segundo a KPMG. Essas operações movimentaram algo em torno de R$ 2,3 bilhões, segundo analistas ouvidos pelo Valor. O Grupo Cosan, de São Paulo, foi o que mais concentrou os negócios no período, com sete aquisições, tornando-se a maior usina exportadora do país e a segunda maior do mundo em volume de produção.

Neste ano, somente no Centro-Sul do país, há 24 projetos de reativação de usinas e investimentos em novas fábricas, diz Fábio Soares, gerente operacional da Procana Centro de Informações Sucroalcooleiras, de Ribeirão Preto (SP). Esses projetos, boa parte concentrado na região Sudeste, estão calculados em cerca de R$ 1,5 bilhão.

Lucrativas na Europa, os grupos açucareiros locais começaram a procurar, nos últimos anos, novas oportunidades de negócios, uma vez que já contavam com as mudanças de rumos. “A realidade é que essas empresas terão seus ganhos reduzidos com a queda das exportações da Europa”, observa Júlio Maria Martins Borges, da Job Economia. Os reflexos já são sentidos nas ações de companhias européias de capital aberto, em queda no acumulado deste mês (até sexta-feira). No caso da Südzucker, a baixa chega a 4,38%; no da British Sugar, a 1,67%; e para a Tate & Lyle, a 1,45%, segundo o Valor Data.

A decisão da OMC teve forte influência para as quedas, e para revertê-las muitas empresas buscam oportunidades também no Leste Europeu, como a alemã Südzucker. “Mas essa região apresenta deficiência na produção”, diz Borges.

Para Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do Cosan, os futuros investimentos no país têm de ser pensados de forma planejada. “Os grandes grupos são caros e as usinas de pequeno porte não estão bem estruturadas”, observa. “Não é fácil para o investidor estrangeiro entrar no Brasil sem conhecer bem a cultura de cana do país, que é bem diferente dos modelos estrangeiros”.

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