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Esgoto tratado vira energia em Cabrália

Um sistema que retire do meio ambiente fezes humanas e que ainda transforme a carga de esgoto orgânico em energia elétrica, biogás e biofertilizante representa um avanço tecnológico inimaginável para os padrões brasileiros, que só trata cerca de 35% do esgoto que produz. Essa inovação de tratar esgoto orgânico já funciona em Cabrália Paulista (45 quilômetros de Bauru) e representa um salto incalculável, ainda mais em uma era em que os governantes e a sociedade civil estão mobilizados para encontrar formas de geração de energia sem agressão ao meio ambiente.

Muitas alternativas de tratamento de efluentes em grande escala já estão em funcionamento, em contrapartida, demandam recursos que poderiam ser investidos em outras áreas. O “bexigão”, como é conhecido o biodigestor inaugurado na última sexta-feira na Escola Técnica Estadual (Etec) “Astor de Mattos Carvalho”, há meses faz tudo isso a custo baixo e gera energia limpa e renovável. Não se cogita o uso do biodigestor para o tratamento de esgoto de uma cidade do porte de Bauru, com uma população estimada em 355.675 habitantes.

Porém, o “bexigão” evita que 14 mil litros despejados diariamente pela Etec em fossas, sem o tratamento adequado, poluam o meio ambiente. Mais do que o ganho ambiental é utilizar as fezes como matéria-prima para a escola agrícola. As fezes dos 300 estudantes e cerca de 50 porcos passaram a gerar um biofertilizante de qualidade excepcional. Fornece biogás para a cozinha e o aquecimento dos abrigos de animais e gera energia elétrica usada para, por exemplo, impulsionar motores.

O pesquisador Antônio Novaes, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), unidade de São Carlos, prega que a tecnologia do biodigestor é uma alternativa, principalmente, para saneamento em pequenas comunidades rurais. “O biodigestor até produz gás, mas sua aplicação no saneamento é excepcional”, define. Ele vê com otimismo a implantação do sistema em condomínios residenciais criados na zona rural – com características do Recanto dos Nobres, por exemplo, localizado na Marechal Rondon. Há a necessidade de uma mudança de comportamento, pois o vaso sanitário tem que ser higienizado com álcool – por exemplo, ao invés de sabão ou detergente. Novaes desenvolve o sistema de fossa séptica biodigestora desde o final da década de 70, tornando-se um especialista na inovação. Antes do biodigestor ser implantado na Etec, entrou em funcionamento uma fossa biodigestora.

Bexigão

Além de saneamento, o resultado do processo no interior do “bexigão” gera dois bio’s: o gás e o fertilizante. O biofertilizante tem propriedades excelentes a um custo muito baixo se comparado com os fertilizantes disponíveis no mercado. Novaes cita que a tonelada de adubo custa em média hoje R$ 1.400,00, enquanto o do biodigestor vem como resultado do processamento das fezes humanas e/ou de porcos. O professor do curso de agricultura da Etec, Eduardo Bianconcini Teixeira Mendes, está entusiasmado com os resultados conseguidos em pouco tempo com o biofertilizante aplicado nas culturas de café, milho, goiaba, citros e pastagens cultivadas pelos alunos da escola.

O gás metano surge no tratamento das fezes no processo de biodigestão. Esse biogás coloca em atividade um gerador que alimenta máquinas e aparelhos movidos a energia elétrica. O biodigestor de Cabrália gera a cada dia pouco mais do que um botijão de gás, conforme Wilson Tadeu Lopes, da Embrapa, e coordenador do projeto implantando na escola agrícola. O gás abastece fogões e o acendimento de lampiões. “São 7.300 metros cúbicos gerados por ano (no biodigestor) que equivalem a deixar de usar 72 toneladas de geração de gás carbônico por combustível fóssil (petróleo) por ano. É um número que não é expressivo se formos falar em termos globais, mas em termos de uma propriedade rural, pensando em centenas de propriedades, são valores bastante expressivos”, ressalta Lopes.

O projeto de implantação do biodigestor teve investimento de cerca de R$ 286,3 mil. O projeto do Centro Experimental de Bioenergia da Embrapa em Cabrália Paulista integra a Rede Nacional de Bioenergia, do governo federal, voltada a desenvolver energia limpa.

Inaugurações

Além de inaugurar oficialmente o biodigestor, a Etec apresentou um novo anfiteatro e laboratórios. Entre as autoridades presentes estavam a diretora-superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, e o diretor da Etec, Lourenço Magnoni Júnior. Álvaro Macedo, chefe da Embrapa Instrumentação Agropecuária de São Carlos, representou Silvio Crestana, diretor-presidente da Embrapa.

Laganá destaca a forma como foi feito o projeto do biodigestor na Etec. “Sempre que um projeto nasce em parceria, ele tem maiores perspectivas de dar certo”, comemora. Além da Etec e da Embrapa, estão associadas ao projeto a multinacional Firestone Building Products Latin America, a Ecosys de Bauru e a Prefeitura de Cabrália Paulista.

Magnoni avalia que as inovações na Etec visam o aprimoramento do estudante para que seja um profissional competitivo em um mercado de trabalho cada vez mais exigente. “E também para que se dê bem na vida em todos os sentidos”, ressalta.

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