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Esgoto transformado em energia

Niterói pode ser a primeira cidade do Brasil a gerar biodiesel e carvão a partir de dejetos orgânicos, mais particularmente de lodo seco. Ou seja, esgoto. A expectativa dos pesquisadores do departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF), Raimundo Damasceno e Gilberto Romeiro, é de que dentro de um ano um projeto piloto seja instalado na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Icaraí.

A tecnologia de geração de energia a partir de esgoto – o que, à primeira vista, pode parecer estranho – vem sendo desenvolvida há sete anos pelos professores da UFF, em parceria com a Universidade de Tübigen, da Alemanha.

A Gerar, empresa parceira da Coppe/UFRJ, também participa do projeto. Atualmente, ela está em estágio avançado no desenvolvimento de equipamentos para a produção da energia alternativa.

A idéia é criar, em Icaraí, uma usina de produção de biodiesel e carvão a partir do lodo seco, utilizando a estrutura da ETE.

– Os dois grandes problemas da humanidade hoje são a energia e o meio-ambiente. O nosso sistema atua nesses dois sentidos, já que utiliza matéria-prima sem valor comercial e a custo zero, além de não emitir monóxido de carbono, uma vez que o produto final é líquido – afirma Damasceno.

Em Niterói, todo o lodo recolhido nas seis ETEs – quase 25 toneladas – é despejado no aterro sanitário do Morro do Céu, no Caramujo.

– O aterro se esgota e tem um problema social muito grande – considera o professor Gilberto Romeiro.

Segundo os professores, o Brasil é líder mundial nas pesquisas para a geração de energia através de lodo seco. Além do Brasil, apenas Alemanha e Austrália desenvolvem esse sistema.

Para o coordenador regional do programa RioBiodiesel, Eduardo Cavalcanti, a iniciativa dos professores da UFF é excelente.

– Vemos com bons olhos o projeto. O importante agora é saber o potencial de produção de biodiesel presente no lodo – indica.

Experiência não faz parte de projeto do governo

Segundo o prof. Gilberto Romeiro, uma tonelada de lodo seco tem capacidade de gerar 200 litros de óleo e 500 kg de carvão. Em uma situação ideal, a ETE de Icaraí poderia produzir 2,4 mil litros de óleo combustível diariamente a partir do bolo fecal recolhido na cidade de Niterói.

O uso de lodo seco como gerador de energia não consta do programa RioBiodiesel, do governo estadual. O projeto de geração de energia desenvolvido por professores da UFF corre paralelo ao programa governamental, que desenvolve alternativas energéticas a partir de gorduras vegetal, animal e residual.

A matéria-prima mais tradicional para a produção de biodiesel são os vegetais oleaginosos, como os óleos de dendê, mamona e girassol. O uso de fezes como gerador de energia em Niterói será experiência pioneira no Brasil.

Os estudos com o lodo seco na UFF começaram em 1998, a partir de experiências realizadas na Alemanha, na década de 80, através de um processo chamado Conversão à Baixa Temperatura.

Companhia confirma projeto

A concessionária Águas de Niterói encara o projeto de geração de energia a partir de esgoto como um segundo passo dentro de um plano para a produção de biodiesel a partir da ETE de Icaraí. O diretor da empresa, Cláudio Abduche, adianta que em três meses será inaugurado na estação um projeto piloto para geração de biodiesel, mas a partir da gordura do esgoto acumulada na ETE. A companhia acredita que 15 mil litros do combustível sejam produzidos por dia. A companhia ainda não fez cálculos em relação à quantidade de energia que poderá ser gerada com o volume de óleo produzido.

– A tecnologia do lodo seco ainda não está totalmente desenvolvida. Mas estamos com contatos adiantados com a Coppe, da UFRJ, e dentro de 90 dias deveremos estrear um projeto piloto a partir da gordura do esgoto. É um projeto pioneiro, muito estimulante – afirma Abduche.

Segundo ele, a gordura será separada por um extrator a ser construído na ETE e armazenada em galões. A conversão em biodiesel ficará a cargo da Coppe.

Segundo a Águas de Niterói, a ETE de Icaraí recolhe cerca de 12 toneladas de lodo por dia. Para a geração de energia a partir do lodo seco, Raimundo Damasceno calcula que serão necessários R$ 10 milhões em infra-estrutura, com a aquisição de um reator e um sistema para secar o lodo.

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