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Escassez de crédito leva companhias para recuperação judicial

Ruínas da Usina Galo Bravo, em Ribeirão Preto, que encerrou suas atividades em 2010
Ruínas da Usina Galo Bravo, em Ribeirão Preto, que encerrou suas atividades em 2010

Em meio ao ambiente de fraca atividade econômica e rápida deterioração das operações das companhias, as restrições nos mercados de dívida corporativa e crédito bancário têm sido o fator determinante para levar empresas à recuperação judicial. A expectativa é que cada vez mais instituições bem administradas e com números historicamente saudáveis entrem nesse processo.

Em outubro, a Officer pediu a recuperação judicial após a tentativa frustrada de reestruturar seus passivos. Controlada pela Ideiasnet, a maior distribuidora de produtos de informática do país tinha endividamento líquido de R$ 148,3 milhões no fim do primeiro semestre. A controladora destaca, entre os motivos que levaram a distribuidora a pedir a recuperação, as dificuldades de obter condições razoáveis de financiamento.

Outro exemplo de empresa que foi recentemente para a recuperação devido às dificuldades de renegociação de dívida e de obter dinheiro novo é o grupo Dadalto, um dos principais varejistas do Espírito Santo, que controla lojas de departamento e a rede D&D, de material de construção. A companhia contraiu dívida cara no passado para financiar sua expansão, iniciada há três anos, e começou a enfrentar dificuldades com a piora da economia.

Segundo Tiago Lopes, sócio da área de insolvência e reestruturação do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, os bancos médios davam dinamismo para o “middle market”, mas com a crise o dinheiro secou e as instituições passaram a trabalhar com empréstimos de prazos mais curtos e juros mais altos. Além disso, empresas menores e com rating pior não conseguem acessar o mercado de capitais para emitir nova dívida.

O setor de açúcar e álcool é o que mais tem registrado pedidos de recuperação e um dos casos mais recentes, que engrossou a lista do segmento, foi da Tonon Bioenergia. Com quase R$ 3 bilhões em passivos, a empresa renegociou condições dos bônus e recebeu até dinheiro novo. Mas a forte valorização do dólar no segundo semestre deteriorou sua já difícil situação financeira. Assim como outros casos no setor, a empresa aproveitou uma onda de captações externas, mas com juros considerados elevados para o baixo retorno da atividade.

A Tonon seguiu o caminho da sucroalcooleira Aralco, que pediu recuperação judicial em abril de 2014, menos de um ano após emitir bônus de US$ 250 milhões para alongar dívidas. Outro caso é do grupo Virgolino de Oliveira, em recuperação extra-judicial, que também se financiou no passado com captações no exterior.

“As empresas foram se debilitando ao longo do ano passado e 2016 deve ser bem pesado, com muitos pedidos de recuperação. A combinação de juros altos, recessão e falta de confiança está prejudicando muitas empresas até então sólidas e bem organizadas”, afirma Thomas Felsberg, sócio do escritório Felsberg Advogados.

As companhias sem muita exposição operacional no exterior e com dívida em dólar estão pagando caro pelo passivo por conta da variação da moeda. Em 2015, o dólar comercial teve alta de 48,75%. Quem tem caixa disponível recompra os ativos para aliviar o balanço. Dentro do país os títulos também estão mais caros, com a alta da Selic, que passou de 11,75% em 2014 para 14,25% no fim do ano passado.

Conforme explica o executivo de um banco de investimentos que preferiu não se identificar, empresas se alavancaram no passado para financiar investimentos. Ao longo do ano passado, a dívida ficou muito cara e os resultados operacionais estão em queda livre, o que causa descasamento nos balanços das empresas. Sem acesso ao dinheiro novo, a recuperação acaba sendo a única saída.

Fonte: (Valor)

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