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Escalada de preços

A euforia de preços em relação ao etanol parece mesmo ter ficado para trás. Num passado recente, agosto de 2009, o litro era comercializado em média em Cuiabá e Várzea Grande, por cerca de R$ 1,07, com registros de até R$ 0,99 no primeiro semestre daquele ano. Em 18 de agosto do ano passado, o litro tinha cotação média de R$ 1,56 e atualmente estacionou na casa de R$ 1,60. Comparando os valores de bomba de 2009 com o atual, até R$ 1,67, há incremento de 56% em 24 meses.

Apesar da alta acumulada nos últimos dois anos, Mato Grosso segue líder no ranking da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com o menor valor ao combustível no país, com São Paulo – maior produtor nacional de cana-de-açúcar – na segunda posição com preço médio de R$ 1,79.

Porém, segundo o segmento produtivo, a liderança está ameaçada e os preços poderão ser inflacionados nos próximos anos, já que as previsões para as lavouras não são nada animadoras. Em decorrência da seca que castigou a safra mato-grossense a partir do segundo semestre do ano passado, há perdas de cerca de 5,5% sobre a produção de cana, mas o impacto da seca sobre o produto, ou seja, etanol e açúcar, ainda não está mensurado. “Considerando esta perda de 5,5% sobre a produção da cana e a atual estiagem que pode comprometer o restante da safra, somado aos entraves que podem prejudicar o plantio em janeiro, fevereiro e março do ano que vem, não teremos apenas a safra de 2012 comprometida, como também a de 2013, já que a cana precisa de 18 meses para poder ser colhida. Diante deste retrato atual, fica evidente que a farra de preços vista em 2009, não vai mais se repetir”, explica o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias sucroalcooleiras de Mato Grosso, Jorge dos Santos.

Ainda como explica Santos, os preços em adoção até o ano passado, sempre abaixo de R$ 1,50 na bomba, eram valores irreais que não remuneravam as usinas, as distribuidoras e nem as revendas. “Aliás, abaixo de R$ 1,60 na bomba, não há remuneração para nenhum elo”.

E foi justamente a falta de remuneração, como frisa Santos, que deixou o setor produtivo sem condições de investimentos, “a farra de preços comprometeu o futuro, e esse futuro é justamente o agora”.

Nos próximos dias, o segmento se reunirá para avaliar os impactos das perdas de produção sobre os produtos. Segundo Santos, existem duas questões cruciais que precisam de respostas e que poderão decretar a tônica das próximas duas safras, de 2012 e de 2013. “Qual é o impacto da perda de 5,5% sobre a produção de etanol e de açúcar e ainda, saber até quando a nossa safra vai, já que temos menos cana para colher. Em São Paulo, por exemplo, a safra terminará um mês antes, já em outubro”.

Mesmo com um cenário de alerta, Santos faz questão de dizer que apesar da quebra, o abastecimento ao consumidor não será afetado, já que produzimos 20% acima do consumo local. “Não será fácil trabalhar perto do limite, o segmento terá prejuízos, mas não haverá falta de etanol, e isso é importante”.

O primeiro secretário do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis de Mato Grosso (Sindipetroleo), Bruno Borges, concorda que a “farra” de preços ao etanol chegou ao fim e que os valores vistos até então dificilmente voltarão às bombas, “mesmo porque há escassez de hidratado”. Ele frisa que a margem de lucro continua estreita “e em função deste momento, além de margem pequena, o consumidor abastece menos. Há uma evidente migração para a gasolina”. Borges alerta para uma temporada atípica neste segundo semestre. “Em função do cenário, é bem provável que a alta esperada sobre os preços do etanol na entressafra chegue antes do que a gente está acostumado a ver no Estado, que é a partir de dezembro”.

SINTOMAS – Os anos de 2009 e 2010 entraram para série histórica de consumo do etanol, em Mato Grosso, por registrarem os maiores volumes contabilizados pela ANP, 393,94 milhões de litros e 416,31 milhões de litros, respectivamente. Além de refletir os preços extremamente atrativos ao consumidor, esses anos foram marcados pela expansão de vendas de veículos no Brasil, automóveis esses comercializados em quase sua totalidade na versão bicombustível. Mas com a ascensão de preços o mercado revela alterações. O consumo no Estado encerrou o primeiro semestre deste ano com retração de 20% sobre os volumes observados em igual período do ano passado.

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