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Entrevista com Luiz Carlos Dalben, produtor de cana

 

2014-05-16 Luiz Carlos Dalben Produtor Cana Fornecedor

1 — Quanto foi investido no seu sistema de recolhimento de palha?

Investi cerca de R$ 2 milhões em três anos. Hoje uma enfardadora gira em torno de R$ 500 mil. Fiz diversas viagens ao exterior para conhecer o sistema, e conseguimos vencer várias dificuldades técnicas. Ajudamos a desenvolver a enfardadora de palha da cana que não existia antes no país.  Hoje vendo em torno de 16 mil toneladas por ano e forneço para um grupo da região de Lençóis. O próximo passo é utilizar uma enfardadora que já tritura palha, que custou em torno de R$ 600 mil.

2 — Quais as vantagens da palha da cana?

Para se implantar um sistema como esse é preciso realizar um estudo, levando em consideração o clima e as particularidades da área. De forma geral, obtive resultados agronômicos importantes com esse trabalho, como um maior desenvolvimento da cana na fase da soca e um incremento de 2 a 4 toneladas/ha com esse trabalho, deixando 50% da palha no campo.  Eliminamos o problema da cigarrinha da raiz e percebemos maior facilidade nos tratos culturais. Em contrapartida o solo perde mais umidade.

3 — Quais os entraves para o melhor aproveitamento da palha?

Poucos estudos sobre a palha e pouco esforço para isso. É uma pena, pois vamos começar a fabricar etanol de segunda geração, que pode ser feito de palha. Ela complementaria o bagaço, já que o bagaço possui 1800 kcal e palha 3400 kcal, ou seja, 1 tonelada de palha equivale a 2 toneladas de bagaço em kcal. Acho que o governo deveria se informar melhor sobre o assunto e ter mais sensibilidade, pois é absurdo queimar óleo diesel para produzir energia e lançar hidrelétricas há 4 ou 5 mil km de distância, quando temos matéria-prima ao lado da linha de transmissão que não é aproveitada. Ninguém recolhe palha no Brasil pois não temos equipamentos aqui, e para se importar um enleirador ou enfardadora, infelizmente 50% dos custos são de impostos.

4 — Você venceu os problemas de logística?

Minha área fica há 20 km de distância da usina, por isso meu trabalho compensa. Mas é preciso observar que o recolhimento da palha somente se torna compensador se o preço da energia estiver atrativo, por isso, o trabalho é sazonal.

5 — E em relação aos preços da energia?

Agora com o apagão, o último leilão remunerou bem, mas em algumas ocasiões os preços não compensaram minha atividade.  Se a palha fosse aproveitada em larga escala no Brasil, a geração de bioeletricidade poderia iniciar antes de março e terminar depois de dezembro. Ela também será um bom investimento com o advento do etanol de segunda geração. Assim, as usinas poderão ter uma renda extra, e muita gente sairia do vermelho.

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