As importações de etanol anidro em março/2017 deverão alcançar 390 milhões de litros, segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, informou no evento “Abertura de Safra 2017”, realizado pela empresa em 21/03 em Ribeirão Preto.
Conforme Nastari, essas importações estão sendo liberadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) até mesmo para empresas não ligadas à distribuição do biocombustível.
Para Miguel Rubens Tranin, presidente da Associação dos Produtores de Bionergia do Estado do Paraná (Alcopar), o ritmo acelerado de importações do etanol dos EUA neste ano afeta também o desempenho do mercado de açúcar.
Em entrevista exclusiva ao JornalCana, Tranin explica os motivos dessa sua afirmação.
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Por que as importações de etanol anidro afetam – ou podem afetar – a valorização do açúcar?
Miguel Rubens Tranin – Em sendo o Brasil o maior fornecedor mundial de açúcar, um componente que passou a interferir muito no preço do adoçante, e em sua flutuação, era a maior ou menor produção de etanol no país. Se havia menor ou maior produção do biocombustível, isso refletia nos preços internacionais do açúcar. Agora temos um novo componente: o etanol não produzido aqui, vindo dos Estados Unidos, entra no Brasil a quase um terço do custo da produção do biocombustível feito nas usinas brasileiras.
Isso impacta diretamente no preço?
Miguel Rubens Tranin – Sim, impactou diretamente nos preços do etanol. O setor sucroenergético se mobilizou, até porque essas importações são um desfavorecimento à indústria nacional, e pediu-se que fosse retomada a tributação sobre o etanol importado dos EUA, retirada em 2011.
Como é essa tributação?
Miguel Rubens Tranin – De 20% sobre cada volume de etanol importado dos EUA.
A tributação está em vigor?
Miguel Rubens Tranin – Não, está em estudo de processo de recomposição junto à Câmara de Comércio Exterior (Camex). O Ministério da Agricultura criou um grupo de trabalho para isso.
Onde mais o avanço das importações de etanol afeta o setor sucroenergético brasileiro?
Miguel Rubens Tranin – A ANP, por meio da Resolução 67, impõe à indústria e às distribuidoras uma série de obrigações e compromissos. Com as recentes importações é assim: você deixa alguém entrar no Brasil, interferir nos preços do setor sucroenergético, mesmo que essas importações fossem feitas por tradings, sem, digamos, nenhuma obrigação. Enquanto nós, da indústria nacional, estamos expostos a uma série de obrigações, de compromissos de estocagem, comunicação de aumento de produção, comunicação de tancagem. Tudo tem que ser comunicado e autorizado pela ANP.
Que outro instrumento está em andamento para promover o equilíbrio do etanol brasileiro?
Miguel Rubens Tranin – É o programa RenovaBio, lançado em dezembro último pelo Ministério de Minas e Energia. É esse programa quem irá formalizar o diferencial de cada produto biocombustível. O programa contempla outros biocombustíveis, mas no caso do etanol a tendência é de o produtor receber a mais por emitir menos poluentes. Essa é a precificação do futuro [para o etanol] e trará um equilíbrio mesmo para o etanol importado, que é feito de milho [e perde para o etanol de cana em termos poluentes].
Como está o andamento do RenovaBio?
Miguel Rubens Tranin – Precisamos acelerar e validar esse programa. Quero crer que ele seja validado ainda durante a safra de cana-de-açúcar 2017/18, até porque o programa terá de ter a aprovação do Congresso Nacional.
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