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Entenda como funcionam os carros bicombustíveis

Desde que surgiram no mercado brasileiro, em março de 2003, com o Volkswagen Gol TotalFlex, os veículos bicombustíveis ganham cada vez mais espaço no mercado brasileiro. Até o final de julho eles já representam mais de 18% das vendas de veículos novos no ano, de acordo com balanço mensal divulgado pela Anfavea. Especialistas no mercado acreditam que, já em 2005, irão representar 70% das vendas nacionais.

À exceção da Ford, que deverá lançar seu modelo bicombustível até o final de 2004 ou início de 2005, três montadoras instaladas no país possuem a tecnologia – são 14 modelos disponíveis no mercado, das marcas Fiat, Volkswagen e General Motors.

A grande vantagem desses modelos é que podem usar gasolina, álcool ou ambos em qualquer proporção, deixando a escolha para o motorista. Mas nem todo mundo sabe como funciona o carro flexível em combustível e começam a surgir “lendas” sobre eles. Tire suas dúvidas:

Como funciona

O chefe de engenharia de desenvolvimento de produtos da unidade de Sistemas a Gasolina da Bosch – fornecedora do sistema bicombustível para GM e VW -, Marcelo Brandão, explica que a tecnologia empregada consiste na capacidade do sistema reconhecer e adaptar, automaticamente, as funções de gerenciamento do motor para qualquer proporção de mistura de álcool e gasolina presente no tanque de combustível.

O sistema distingue o álcool da gasolina através da quantidade de oxigênio que passa pelo escape, medida pelo sensor de oxigênio, que, após cálculos realizados pela ECU (central de comando do motor), determina qual é o combustível.

É possível rodar sempre com apenas um combustível?

Aqui começam a surgir as lendas a respeito dos carros flexíveis em combustível. Já se diz nas ruas que é preciso “rodar um tempo com o carro abastecido apenas com gasolina, para limpar o motor”. Nada além de fantasias.

De acordo com Gino Montanari, Diretor de Produto e Desenvolvimento da Magneti Marelli Cofap – fornecedora do sistema para a Fiat -, é perfeitamente possível rodar com o carro abastecido apenas com álcool ou com gasolina. “O usuário não precisa se preocupar com nada. Pode rodar a vida toda só com um dos combustíveis que o sistema funciona perfeitamente”, assegura Montanari. Segundo ele, só é necessário tomar cuidado com a qualidade do combustível e abastecer o veículo em postos de confiança

Desempenho

O sistema bicombustível faz com que o veículo apresente um comportamento similar ao de um carro que funcione somente a gasolina ou somente a álcool. Isso acontece porque se deve utilizar uma taxa de compressão intermediária – utilizar a taxa do motor a álcool, usualmente mais alta, poderia originar detonação (a chamada “batida de pino”), quando o carro rodasse com gasolina.

Para o engenheiro Mecânico e professor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) Celso Argachoy, “os bicombustíveis não têm um desempenho surpreendente com nenhum dos combustíveis. A performance é prejudicada devido à adequação necessária ao funcionamento com os dois combustíveis, pois cada um possui características diferentes. Para isso seria preciso que a taxa de compressão variasse automaticamente, tecnologia muito avançada que já existe, mas ainda é inviável economicamente”.

Cuidados com o sistema

Deve-se ter com um veículo bicombustível os mesmos cuidados que se tem com um carro equipado com motor a gasolina ou a álcool, como aconselham técnicos do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes).

Além do fator qualidade – combustível adulterado danificará o sistema, da mesma forma que o faria em um carro movido a álcool ou gasolina – deve-se manter o sistema de partida a frio abastecido. Sim, os sistemas possuem um pequeno reservatório de gasolina (com aproximadamente 2 litros de capacidade), para auxiliar na partida sob baixas temperaturas.

Qual dos combustíveis gasta mais

Apesar de a potência do motor ser quase a mesma independente da mistura – as variações são, em média, de 2 cavalos de potência -, quando o veículo é abastecido com álcool o carro tende a oferecer melhor desempenho, enquanto com gasolina tem maior autonomia de rodagem.

Isso acontece porque gasolina e álcool possuem características químicas e físicas semelhantes, mas agem de maneira diferente no motor. A principal diferença é o poder calorífico de cada combustível, ou seja, a quantidade de energia por quantidade de massa.

O engenheiro de Materiais Fernando Pan, da Escola Politécnica da USP e proprietário da empresa Berro Moto, explica que um litro de gasolina tem mais energia que um litro de álcool. “Para cada grama de gasolina utilizada no motor, são necessários 15 gramas de oxigênio para a queima completa. Para um grama de álcool são necessários 9 gramas de oxigênio, por isso, em um ciclo de motor a álcool é possível colocar mais combustível que em um ciclo de motor a gasolina”, explica Pan. “Por isso o motor álcool é mais potente, porém consome mais combustível”, afirma.

Mexendo no bolso

Como o preço dos combustíveis varia de acordo com o estado (no Estado de São Paulo encontra- se álcool com os preços mais baixos do país), na hora de abastecer, no entanto, o álcool é economicamente mais vantajoso que a gasolina onde a diferença de preço ultrapasse 40%, diferença média de consumo entre álcool e gasolina.

Fizemos a conta de quanto rodam os 14 modelos bicombustíveis disponíveis no mercado, de acordo com a média de consumo divulgada pelas montadoras. Na ponta do lápis, entre cidade e estrada, rodando apenas com álcool ou somente com gasolina, o derivado do petróleo é cerca de 40% mais econômico que o combustível vegetal. Porém, ainda sim vale a pena pesquisar preços e o consumo dos modelos, pois essa é apenas a média.

Bicombustíveis disponíveis no mercado

O Volkswagen Gol Total Flex foi o pioneiro, lançado em março de 2003. Hoje, além do Gol, a montadora tem à disposição mais três modelos bicombustíveis: Saveiro, Parati e Fox.

A General Motors, que hoje possui cinco modelos flexíveis (Corsa, Montana, Astra, Meriva e Zafira) anunciou que até o final deste quase toda sua linha será composta por modelos bicombustíveis. A Fiat já possui o Palio, Palio Weekend, Palio Adventure, Strada e o Siena com motorização “flexível”.

O presidente da Citroën, Sérgio Habib, afirmou que a montadora também deverá lançar seu modelo flexível (possivelmente o C3, versão 1.6 – esse motor também equipa o Peugeot 206, que se beneficiaria da tecnologia) no primeiro semestre do próximo ano. A Renault do Brasil, através da sua assessoria, anunciou que vai lançar no país o motor bicombustível 1.6 no 1º semestre de 2005.

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