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Engenheiro desenvolve aguardente de árvore do semi-árido nordestino

O engenheiro de alimentos e pesquisador Clóvis Gouveia, 44, da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa, desenvolveu uma aguardente feita do fruto da algarobeira. Trata-se de uma árvore originária do Peru, que se adaptou às condições climáticas do semi-árido nordestino e cujas plantas continuam verdes mesmo durante a estiagem.

O objetivo do projeto, segundo Gouveia, é oferecer uma fonte de renda ao pequeno proprietário rural da região. Atualmente, o fruto da algarobeira, uma vagem com alto teor de açúcar, é usado como alimentação animal.

A tecnologia para a produção da aguardente foi desenvolvida como projeto de mestrado de Gouveia. No ano passado, ele iniciou um doutorado para otimizar o processo e produzir a aguardente em escala industrial. A tecnologia foi patenteada em 2001.

“A idéia é instalar pequenas unidades de produção para que os agricultores possam produzir em suas propriedades e distribuir, talvez, em um sistema de cooperativa”, explica Gouveia. “Como sou do semi-árido, tenho a preocupação em dar um retorno a esse pessoal”, disse o pesquisador.

O caldo doce produzido da prensagem da algaroba é fermentado, destilado duas vezes e, após virar aguardente, envelhecido em barris de carvalho por um ano.

O resultado, diz Gouveia, é uma bebida de cor dourada, com sabor semelhante ao do conhaque.

A algarobeira chegou ao Brasil há mais de 60 anos, trazida por professores da Universidade de Viçosa (MG) como alternativa à alimentação do rebanho durante o período de seca.

A planta se adaptou tão bem à região que atualmente brota de forma espontânea.

Segundo Gouveia, não há risco de falta de matéria-prima, pois “há uma quantidade enorme de algaroba no semi-árido”.

A estimativa da Embrapa é que existam 500 mil hectares de algarobeira plantados no Nordeste.

Caráter ambiental

A Embrapa Semi-Árido, com sede em Petrolina (PE), desenvolve um projeto de gerenciamento do cultivo da algarobeira -como a madeira e a vagem- justamente para controlar a expansão desordenada da árvore, identificando possibilidade de uso da planta.

Para o engenheiro florestal Paulo César Fernandes Lima, pesquisador da Embrapa e um dos responsáveis pelo projeto, a preocupação é de caráter ambiental, já que a invasão da algarobeira no semi-árido pode ameaçar espécies nativas da caatinga.

Gouveia diz que a idéia do projeto é fazer o cultivo controlado, com o acompanhamento de agrônomos para evitar o crescimento desordenado da planta.

“O ideal é fazer o plantio planejado para fins comerciais. São coisas muito simples. [A árvore] não precisa de adubação e não é muito exigente na quantidade de sol”, disse Gouveia. Segundo ele, a algarobeira produz vagem já a partir de dois anos de idade.

A árvore pode produzir uma média anual de oito toneladas por hectare. A produtividade é semelhante à da cana-de-açúcar pelo alto teor de açúcar da vagem.

Segundo Gouveia, não há estudo mercadológico do produto, mas avaliações preliminares indicam que a aguardente é viável.

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