Energia

Redução de encargos impulsiona autoprodução de energia no Brasil

Evento discute o futuro da geração própria de energia, com projeções que indicam um salto de 72,8 TWh anuais para 91,9 TWh em uma década

Redução de encargos impulsiona autoprodução de energia no Brasil

A autoprodução de energia no Brasil está em plena expansão, impulsionada por incentivos fiscais e um cenário de previsões otimistas. Durante o 3º Encontro Migratio de Energia e Gás (EMEG), realizado na última terça-feira (17) na Associação Paulista das Cerâmicas de Revestimento (ASPACER), em Santa Gertrudes-SP, especialistas e executivos debateram estratégias para ampliar essa modalidade, que atualmente gera 72,8 TWh anuais, com uma projeção de crescimento para 91,9 TWh nos próximos dez anos.

Segundo os organizadores do evento, a isenção de encargos e tributos, juntamente com a possibilidade de comercializar o excedente de energia no Mercado Livre, está tornando a autoprodução uma opção atraente até para empresas de médio porte. “Se antes apenas grandes consumidores industriais viam vantagens na autoprodução, hoje ela se mostra acessível a um leque maior de empresas, inclusive as médias”, afirmou Hélio Lima, sócio-diretor do Grupo Migratio e organizador do evento.

Lima destacou que as reduções nos encargos, como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), Encargos de Energia de Reserva (EER) e Encargos de Serviços no Sistema (ESS), além da isenção de tributos como ICMS, PIS e COFINS, têm sido fundamentais para atrair novos produtores. “Outro ponto positivo é a possibilidade de vender excedentes no Mercado Livre, o que gera uma receita adicional ao produtor de energia”, complementou.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) estima que a demanda por eletricidade no Brasil crescerá 3,5% ao ano até 2034, elevando o consumo dos atuais 532 TWh para até 930 TWh, dependendo do ritmo do crescimento econômico. Dentro desse cenário, a autoprodução já representa 12% do consumo total, com uma produção de 72,8 TWh, e a expectativa é que continue a crescer.

A EPE projeta que a autoprodução local de energia atinja 91,8 TWh até 2034, com uma taxa de crescimento anual de 2,4%. No entanto, entre grandes consumidores industriais — como os setores de celulose, siderurgia e petroquímica —, o crescimento da autoprodução pode atingir 3,8% ao ano, superando a média nacional de aumento no consumo de eletricidade, estimada em 3,5%.

Para empresas que optam pela autoprodução remota, ou seja, quando a geração ocorre em um local distante da sede da empresa, há a possibilidade de formação de consórcios, explica Lima. “Empresas podem se unir para investir em plantas de autoprodução, dividindo os custos e recebendo cotas proporcionais de energia gerada. Isso torna o investimento mais viável economicamente”, afirma.

A autoprodução de energia no Brasil não é uma prática nova; suas raízes remontam ao século XIX. No entanto, foi com a regulamentação do Mercado Livre de Energia, em 1995, que o setor começou a crescer de forma mais expressiva. Atualmente, a Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (ABIAPE) estima que a autoprodução seja responsável por uma parcela significativa do abastecimento energético da indústria no país.

Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (COGEN)

Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (COGEN), destacou a importância da cana-de-açúcar na matriz energética brasileira, sendo a segunda maior fonte de energia do país, atrás apenas do petróleo. Ele ressaltou que as usinas de açúcar têm grande potencial para expandir a cogeração de energia, que poderia triplicar com investimentos em modernização.

Duarte também mencionou a importância de diversificar as fontes de energia, incluindo biogás, hidrogênio e outros biocombustíveis, além de explorar o potencial do gás natural, que pode adicionar até 17 GW de capacidade ao sistema.

Para garantir a segurança energética no país, o presidente da COGEN sublinhou a necessidade de previsibilidade e resiliência no fornecimento de energia, ressaltando a importância de contratos de longo prazo para a operação contínua das indústrias.

O painel de discussão contou com a moderação de Mário Luiz Menel da Cunha, presidente da ABIAPE, e a participação de figuras importantes do setor, como Daniel Pina, diretor de Economia na ABIAPE; Arnaldo Júnior, consultor técnico da EPE, e José Eustáquio Marques da Silva, especialista em negócios na Union RHAC, que contribuíram com análises e previsões sobre o futuro da autoprodução no Brasil.