O Fórum de Políticas Públicas do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), realizado em Ribeirão Preto na última sexta-feira (21), foi palco de um importante debate sobre o futuro energético do País. Entre especialistas convidados, profissionais da área tecnológica e gestores públicos, foi abordado o desempenho das cadeias produtivas e das fontes energéticas brasileiras diante da necessidade global de atenção para economias mais limpas e de menor impacto ambiental.
Baseado em uma matriz elétrica renovável – segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as três maiores geradoras são hídrica (55%), eólica (14,8%) e de biomassa (8,4%) – e com a maior substituição de gasolina por etanol no mundo – de acordo com o Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA) -, o Brasil deve se empoderar desse histórico e se posicionar entre as nações protagonistas da transição energética frente às emergências climáticas e às práticas de desenvolvimento sustentável.
Para que isso aconteça, chegou à conclusão o terceiro encontro do Fórum do Crea-SP, faltam políticas públicas perenes para regulação, infraestrutura e segurança, além da definição de metas e incentivos fiscais; transformação cultural e educacional da base ao público técnico, com estímulo à pesquisa; e, por fim, a integração entre profissionais, poder público, iniciativa privada e sociedade civil, como propôs o evento. “Estamos trabalhando para discutir os problemas e auxiliar na solução deles. Os profissionais são fundamentais, pois têm essa expertise para diagnosticar e fazer bons projetos que resultarão na melhor qualidade de vida da população”, defendeu a presidente do Conselho, engenheira Lígia Mackey.
A fala foi endossada por diferentes autoridades presentes, como a secretária da pasta de Infraestrutura de Ribeirão Preto, arquiteta Catherine D’Andrea, que esteve representando o prefeito Duarte Nogueira. “Uma das coisas que mais precisamos para desenvolver uma cidade é essa aproximação de pessoas técnicas e pesquisadores que tenham conhecimento. Diferente do que se pensa, o agronegócio também está alinhado ao meio ambiente e pode ser sustentável. Eficiência energética, hoje, é fruto da cultura da cana-de-açúcar”, afirmou Catherine. “Por isso a importância de reunir quem realmente entende o setor”, completou o presidente da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), engenheiro Fernando Junqueira.
As estratégias para essa condução vieram dos especialistas convidados, que discutiram o lado prático da eficiência energética, em uma mediação feita pelo deputado federal Arnaldo Jardim, ex-secretário estadual de Agricultura e Abastecimento e de Habitação. “O mundo está em busca de novas alternativas e está mudando as formas de produzir e de consumir. Somos profissionais do desenvolvimento e, se temos desenvolvimento, temos trabalho para engenheiros”, pontuou.
O engenheiro Adriano Bardella Monteiro, gestor pelo Sebrae-SP do Arranjo Produtivo Local (APL) Sucroalcooleiro de Sertãozinho, acrescentou que “a Engenharia vem antes do desenvolvimento”, inclusive. Para ele, também falta divulgação. “Enquanto todos buscam uma solução, temos que mostrar a vantagem competitiva do Brasil”, disse.
Reverenciando iniciativas que deram certo, como o Programa Nacional do Álcool (ProÁlcool), o empresário Maurílio Biagi Filho compartilhou sua experiência não apenas como um nome de peso do setor, mas também enquanto participante ativo do crescimento da agroindústria sucroenergética. Ele comentou a relação do lançamento do álcool, momento em que pesquisadores de diversos países vieram para entender o motivo da aposta automobilística no combustível, com a realidade atual, em que, relatou, somente 30% dos carros flex usam etanol. “Energia é poder, é vida. O passado serve como retrovisor para podermos planejar instituições sólidas e políticas estruturantes”, argumentou o também presidente do Comitê de Agroenergia e de Biocombustíveis da Sociedade Rural Brasileira (SRB).
Inserindo os profissionais no debate
Como fazer a energia renovável ser utilizada de forma eficiente? A chave está na área tecnológica. Como não é mais preciso construir grandes empreendimentos geradores, a virada entre o consumo nos moldes contemporâneos para um modelo de eficiência energética depende de investimento para melhor aproveitamento do que já é produzido. “É uma questão muito interessante e os profissionais entram para renovar isso, com olhar para a redução do consumo e da emissão de gases de efeito estufa”, falou o engenheiro Laércio Cardoso, da Secretaria de Água e Esgoto de Ribeirão Preto (SAERP).
O epicentro da bioenergia, localizado na macrorregião sede do Fórum, vem do lugar em que se criam soluções. “O protagonismo do Brasil só vai continuar se investirmos muito em educação, formando novos engenheiros voltados para a economia verde. Nunca surfamos a onda que vamos surfar nos próximos anos. Há um tempo, queimávamos cana. Hoje, sabemos que dá para fazer etanol da palha dela”, manifestou Paulo Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana, maior feira voltada exclusivamente aos elos da cadeia produtiva de bioenergia.
O cenário, enfatizou ele, passou por uma evolução completa na última década, saindo de engenhos que faziam bebidas alcoólicas para usinas que produzem hidrogênio verde do etanol, e do biogás ao combustível sustentável de aviação (SAF). “Desafio encontrar setor que tenha mais engenheiros que nossas refinarias”, apontou.
A inserção dos profissionais neste contexto segue sendo de iniciativas como a do Crea-SP. “A eficiência energética vai guiar nossos planos daqui pra frente, principalmente diante das emergências climáticas, pois todas as políticas públicas vão ser pautadas nisso. E, a cada cidade que o Conselho leva um evento desse, leva junto a preocupação que temos com o desenvolvimento regional”, declarou o conselheiro federal do Sistema Confea/Crea e Mútua por São Paulo, Geol. Ronaldo Malheiros.
O engajamento de toda a classe é insumo obrigatório. “Isso gera perspectivas novas para a região, para o Estado e para todo o Brasil”, reconheceu o Agr. Marcos Guimarães Landell, diretor do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), órgão de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA).
Ao fim do evento, foi lançada ainda uma cartilha orientativa do Conselho sobre a fiscalização de atividades profissionais relacionadas às fontes de energia renováveis. O manual está disponível on-line, assim como a transmissão na íntegra da edição Ribeirão Preto do Fórum de Políticas Públicas, publicada na TV Crea-SP.