Energia

Brasil é o 4º país que mais adicionou energias de fontes renováveis em 2024

Além da adição de fontes renováveis, Brasil também é líder global em custo de geração, segundo levantamento da Irena

As fontes renováveis mantêm sua liderança em termos de custo nos mercados globais de energia, confirma o novo relatório da IRENA Custos de Geração de Energia Renovável em 2024.

O relatório confirma que as renováveis mantiveram sua vantagem de preço em relação aos combustíveis fósseis, com reduções de custo impulsionadas por inovações tecnológicas, cadeias de suprimentos competitivas e economias de escala.
 

Em 2024, a energia solar fotovoltaica (PV) foi, em média, 41% mais barata do que a alternativa fóssil de menor custo, enquanto os projetos de energia eólica onshore foram 53% mais baratos.

A energia eólica onshore permaneceu como a fonte mais acessível de nova eletricidade renovável, a USD 0,034/kWh, seguida pela solar fotovoltaica a USD 0,043/kWh.


O Brasil aparece como o quarto maior mercado global em adições de capacidade renovável no último ano, atrás apenas de China, Estados Unidos e União Europeia. O país manteve posição de destaque nos custos mais baixos do mundo, com energia eólica onshore a USD 30/MWh — patamar semelhante ao da China — e solar fotovoltaica a USD 48/MWh.

Embora a hidrelétrica ainda forneça mais de 50% da eletricidade nacional, o crescimento acelerado da solar e da eólica indica um processo de diversificação robusto. Esse avanço tem sido sustentado por esquemas estáveis de contratação, como leilões públicos com PPAs indexados, que reduzem riscos financeiros e impulsionam o acesso a capital.
 

A adição de 582 gigawatts em capacidade renovável em 2024 gerou economias significativas de custo, evitando o uso de combustíveis fósseis avaliados em aproximadamente USD 57 bilhões.

Notavelmente, 91% dos novos projetos de geração renovável comissionados no último ano foram mais custo-efetivos do que qualquer alternativa fóssil nova.
 

As fontes renováveis não são apenas competitivas em custo frente aos combustíveis fósseis, mas também oferecem vantagens por limitar a dependência de mercados internacionais de combustíveis e melhorar a segurança energética. A viabilidade econômica das renováveis é hoje mais forte do que nunca.
 

Embora reduções contínuas de custo sejam esperadas à medida que as tecnologias amadurecem e as cadeias de suprimento se fortaleçam, desafios de curto prazo permanecem. Mudanças geopolíticas, como tarifas comerciais, gargalos de matérias-primas e dinâmicas industriais em evolução — especialmente na China — representam riscos que podem elevar temporariamente os custos.
 

Custos mais altos devem persistir na Europa e América do Norte, impulsionados por desafios estruturais como atrasos em licenciamento, capacidade limitada da rede e maiores despesas de equilíbrio do sistema. Em contraste, regiões como Ásia, África e América do Sul, com altas taxas de aprendizado e grande potencial renovável, podem experimentar quedas acentuadas nos custos.
 

No caso do Brasil, a flexibilidade da rede e os sistemas de armazenamento ainda estão em desenvolvimento e serão cruciais para sustentar a expansão das renováveis variáveis. O sucesso também dependerá da capacidade de manter estruturas regulatórias claras, com mecanismos de contratação confiáveis e ambientes de investimento previsíveis — essenciais para atrair capital global.
 

Declarações de Líderes Globais

O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou:
“Energia limpa é economia inteligente – e o mundo está seguindo o dinheiro. As renováveis estão em ascensão, a era dos combustíveis fósseis está desmoronando, mas os líderes devem remover barreiras, construir confiança e liberar financiamento e investimentos. As renováveis estão iluminando o caminho para um mundo com energia acessível, abundante e segura para todos.”
 

O Diretor-Geral da IRENA, Francesco La Camera, acrescentou:
“A competitividade de custo das renováveis é uma realidade atual. Considerando todas as fontes renováveis atualmente em operação, os custos evitados com combustíveis fósseis em 2024 chegaram a até USD 467 bilhões. A nova geração renovável supera os combustíveis fósseis em custo, oferecendo um caminho claro para energia acessível, segura e sustentável. Essa conquista é fruto de anos de inovação, diretrizes políticas e mercados em expansão. No entanto, esse progresso não está garantido. Tensões geopolíticas, tarifas comerciais e restrições no fornecimento de materiais ameaçam desacelerar o ritmo e elevar os custos. Para proteger os ganhos da transição energética, precisamos reforçar a cooperação internacional, garantir cadeias de suprimento abertas e resilientes e criar marcos estáveis de políticas e investimentos — especialmente no Sul Global. A transição para as renováveis é irreversível, mas seu ritmo e sua justiça dependem das escolhas que fazemos hoje.”

Bill Hare, CEO da Climate Analytics, disse:

`“O novo relatório da ONU, com apoio da AIE, FMI, IRENA, OCDE e Banco Mundial, traz uma mensagem clara – as energias renováveis estão em forte expansão no mundo todo, e nada mais vai detê-las, apesar dos esforços coordenados dos lobistas dos combustíveis fósseis que ainda pensam que podem conter essa maré. Como disse ontem o Secretário-Geral da ONU: ‘os combustíveis fósseis estão ficando sem saída’ – a economia venceu, eles simplesmente não sobreviverão em um mercado competitivo.

Investir agora em novos projetos fósseis é uma aposta tola, enquanto entrar na corrida pelas renováveis só trará benefícios – não apenas empregos e energia mais barata a preços estáveis, mas também independência energética e acesso onde mais se precisa. Regiões em desenvolvimento como a África têm grandes necessidades energéticas – e recursos renováveis ainda maiores. O que falta agora é financiamento internacional para que também possam se beneficiar da revolução das renováveis.

A pressão para explorar novos recursos de gás em lugares como Austrália Ocidental e Brasil vai completamente na contramão dessa tendência e pode desacelerar a adoção de energias limpas, além de colocar em risco o cumprimento do limite de 1,5°C do Acordo de Paris.

Embora o sucesso das renováveis mostre que o sistema energético global pode mudar rapidamente para um caminho mais seguro para o clima, há espaço – e necessidade – para avançar ainda mais rápido, se os governos atuarem em conjunto com o mercado para acelerar a transição energética em conformidade com o limite de 1,5°C do Acordo de Paris. Todos os governos precisam enviar um sinal claro em suas próximas NDCs de que seu futuro energético será baseado em fontes renováveis – e respaldar isso com o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e investimentos nas redes do futuro.”

Custos e Desafios das Renováveis

Custo de baterias

O relatório da IRENA de 2024 também explora os fatores estruturais de custo e as condições de mercado que moldam o investimento em energias renováveis. Conclui que marcos regulatórios de receita estáveis e previsíveis são essenciais para reduzir o risco de investimento e atrair capital.
 

Mitigar o risco de financiamento é central para escalar as renováveis tanto em mercados maduros quanto emergentes. Instrumentos como contratos de compra de energia (PPAs) desempenham papel fundamental no acesso a financiamento acessível, enquanto ambientes políticos inconsistentes e processos de contratação opacos minam a confiança dos investidores.
 

Em particular, os custos de integração surgem como uma nova limitação para a implantação de renováveis. Cada vez mais, projetos de vento e solar enfrentam atrasos devido a gargalos de conexão à rede, licenciamento lento e cadeias de suprimento locais onerosas. Isso é especialmente agudo nos países do G20 e em mercados emergentes, onde o investimento em redes precisa acompanhar a crescente demanda elétrica e a expansão das renováveis.
 

Além disso, os custos de financiamento permanecem como fator decisivo na viabilidade dos projetos. Em muitos países em desenvolvimento do Sul Global, os altos custos de capital – influenciados por condições macroeconômicas e riscos percebidos de investimento – elevam significativamente o Custo Nivelado de Energia (LCOE) das fontes renováveis.

Por exemplo, a IRENA constatou que, embora os custos de geração da energia eólica onshore fossem semelhantes na Europa e na África — cerca de USD 0,052/kWh em 2024 — as estruturas de custo variavam significativamente. Projetos europeus foram orientados por despesas de capital, enquanto os africanos enfrentaram uma proporção muito maior de custos financeiros. A taxa de custo de capital considerada pela IRENA variou de 3,8% na Europa a 12% na África, refletindo perfis de risco percebidos distintos.
 

Por fim, os avanços tecnológicos além da geração também estão melhorando a viabilidade econômica das renováveis. O custo dos sistemas de armazenamento de energia por bateria (BESS) caiu 93% desde 2010, atingindo USD 192/kWh para sistemas em escala de utilidade pública em 2024. Essa redução é atribuída à ampliação da produção, melhorias nos materiais e técnicas de produção otimizadas.
 

O armazenamento por baterias, os sistemas híbridos — combinando solar, eólica e BESS —, bem como tecnologias digitais, são cada vez mais essenciais para integrar energia renovável variável. Ferramentas digitais com inteligência artificial (IA) estão aprimorando o desempenho dos ativos e a capacidade de resposta da rede. No entanto, infraestrutura digital, flexibilidade, expansão e modernização das redes continuam sendo desafios prementes, inclusive em mercados emergentes, onde o potencial pleno das renováveis não pode ser alcançado sem mais investimentos.

Leia o relatório completoRenewable Power Generation Costs in 2024
 

Sobre a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA)
A IRENA é a principal agência intergovernamental para a transição energética baseada em renováveis, dedicada a promover uma mudança sistêmica nos setores de energia. Uma agência global de energia composta por 169 países e a União Europeia, com outros 14 países em processo de adesão, a IRENA oferece conhecimento, assistência técnica e capacitação, além de facilitar projetos e investimentos. A Agência viabiliza cooperação internacional e parcerias para combater as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável, o acesso à energia, a segurança energética e economias e sociedades resilientes.