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Energia Verde

Logo após a insossa e burocrática Conferência da ONU para o Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo (Rio+10), um seleto grupo de cientistas, empresários, representantes da sociedade civil e de governos, reuniu-se em Amsterdam (Holanda), para formular a propositura de um mercado internacional de biomassa em larga escala (Biotrade). Participamos do Workshop, representando o Brasil, demonstrando que o nosso país pode suprir o mundo de alimentos, fibras e de energia limpa, sem competição entre si. A teimosia de Mr. Bush em aplicar seu próprio conceito de justiça à manu militare, em seu teiró com o sanguissedento Saddam Hussein, traz à baila o tema complexo e escorregadio da insustentabilidade da atual matriz energética mundial.

Energia fóssil

As principais fontes de energia como petróleo (35%), carvão (23%) e gás (21%) esgotar-se-ão neste século. Reservas escassas e extração difícil remeterão seus preços aos píncaros. Para apimentar a análise, a principal região produtora de petróleo é politicamente instável, sendo temerário depender dos humores do Oriente Médio para o abastecimento de energia e de matéria prima. Entrementes, Mr. Bush é passageiro, porém o efeito da poluição decorrente da queima da energia à base de carbono, é permanente. Trata-se da principal fonte emissora de gases que acirram o efeito estufa, como o gás metano e o gás carbônico. Antes que os poços sequem ou o preço dispare, o mundo terá que encarar o monstro do Aquecimento Global, a fim de evitar que as catástrofes previstas pelos cientistas antecipem o Apocalipse.

Energia e poluição

O consumo mundial de energia é de 400 EJ/ano (400 x 1018 joules, equivalendo a 70 bilhões de barris de petróleo). Ao final do século XXI, estima-se o consumo em 2.700 EJ. Logo, durante esse período seria necessário retirar cerca de 1.500 bilhões de toneladas de CO2, para estabilizar a quantidade desse gás na atmosfera. Alternativamente, pode-se atingir o mesmo objetivo utilizando energia verde. Os países ricos, grandes consumidores de energia fóssil (75%), são os maiores poluidores do ar. Os EUA respondem por 25% da poluição mundial, devido ao intenso uso de energia fóssil e ao atraso tecnológico de suas principais industrias. Países ricos, de alta densidade populacional ou pobres em energia (Indonésia, China, Índia), serão grandes compradores de energia limpa. Em 30 anos esgotar-se-ão suas reservas de carvão, que será substituído por energia renovável. Em 2018, a Índia necessitará de energia equivalente a 7 bilhões de barris de petróleo anuais, importando 35% desse volume.

Competitividade

Fontes de energia renovável estão se tornando competitivas no transporte de pessoas e mercadorias, na geração de energia elétrica e no aquecimento predial. A queima de biomassa não gera emissão líquida de carbono, pois uma quantidade igual foi retirada anteriormente da atmosfera, para produção de biomassa. Volume equivalente de carbono é recapturado no cultivo de nova biomassa. Esse é o ciclo natural, ita diis placult – como aprouve aos deuses! Já a queima de combustíveis fósseis – obra dos mortais – descarrega na atmosfera gases que foram aprisionados no sub-solo, há milhões de anos, violentando o ciclo natural do carbono.

Energia renovável

Energia eólica, solar, hidroelétrica, de biomassa, aproveitamento de ondas e marés dos oceanos são fontes renováveis de energia, nossas velhas conhecidas, e têm vantagens e restrições. Como produzir energia a partir de cata-ventos, ou da radiação solar, no Hemisfério Norte, onde o vento é inconstante, mormente noturno, e a radiação é de baixa intensidade? A Ciência não encontrou fórmulas para armazenar energia elétrica, em grande quantidade e por longo tempo, sendo a produção de eletricidade determinada pela demanda de cada momento. Os países ricos têm outras restrições: a produção de biomassa exige enormes extensões de terra e possibilidade de produção contínua, sem competir com a agricultura de alimentos – inconciliável para eles! In fine, não existe uma solução única para o problema mas, como Deus é brasileiro, levamos enorme vantagem sobre outros países, o que pode tornar a agricultura de energia o principal componente do nosso agronegócio. O enfoque deve ser o da mudança progressiva da matriz, incorporando fontes renováveis de energia, ao tempo em que se investe em duas outras largas avenidas: melhorar a eficiência da produção, do transporte, da conversão e do consumo de energia, e criar uma cultura radical de poupança de energia.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage www.gazzoni.pop.com.br

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