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Energia limpa e confiável

Em recente discurso, o presidente George W. Bush surpreendeu ao anunciar que pretende combater “o vício dos EUA por petróleo” por meio de incentivo às fontes renováveis de energia. O discurso cede aos anseios da União Européia e da crescente consciência ambiental internacional e pode ser o início de um novo ciclo energético mundial.

É notório o meu compromisso com o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, particularmente as limpas e renováveis. Na Assembléia paulista, coordeno a Frente Parlamentar que trata deste assunto, onde assumi uma postura de vanguarda pró-ratificação do Protocolo de Kyoto, o que desencadeou uma série de iniciativas para estarmos sintonizados com os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Cobrei, vigorosamente, o governo federal para que implantasse o Proinfa e alertei, na sua implementação, que a baixa valorização não impulsionaria a produção da energia oriunda da biomassa. Saudei quando a nossa diplomacia colocou na pauta de negociações a necessidade de uma participação cada vez maior dos renováveis na matriz energética mundial. E alertamos para o risco da dependência do combustível fóssil e a premente alta nos preços.

Todo este entusiasmo se desdobrou na questão do álcool combustível. Testemunhamos o início e o grande tropeço do Programa do Álcool, e com empolgação o vimos ressurgir com vigor, de 1999 para cá. Mais do que isso, acompanhamos a evolução tecnológica que possibilitou o surgimento do motor flexível, que, além de impulsionar o mercado interno, abriu perspectivas internacionais para o uso do nosso etanol – o mais limpo do mundo, com o melhor balanço energético, o mais barato, gerador de empregos e desenvolvimento para o País.

Por isso, sinto-me na obrigação de fazer um alerta que transcende a aflição recorrente do período de entressafra, quando se discute o preço momentâneo do álcool. Momento no qual se questiona a disponibilidade do combustível sem realizar medidas estruturais, como estoques reguladores, mecanismos de financiamento e contratos de compra e venda, que evitassem a grande oscilação de preços ao longo da safra. Reivindico, assim, uma reflexão mais aprofundada que faça claro diagnóstico, saia do emergencial e formule propostas mais duradouras, consolide instâncias e defina uma estratégia para o álcool combustível, pois, sem isso, acredito que em médio prazo comprometeremos a sua credibilidade.

O que isso enseja? Um formidável avanço do setor sucroalcooleiro diante da possibilidade de expansão da produção de álcool. Essa expansão, porém, virá em volume suficiente? Que planejamento está sendo obedecido? Como cotejar essa necessidade de produção de álcool diante da valorização de 168%, nos últimos dois anos, da cotação do açúcar na Bolsa de Nova York? Na safra passada, a lavoura canavieira foi destinada, majoritariamente, para a produção de álcool, isso se manterá? A mistura de 25% de anidro na gasolina deve ser mantida ou reduzida para garantir o abastecimento, mesmo que acarrete aumento no preço na bomba ao consumidor?

Essas perguntas precisam ser respondidas. Faço o apelo para que o governo estabeleça um fórum permanente de discussão estratégica, não simplesmente em meio a crises anunciar impulsos intervencionistas que não resolverão o problema. Já o setor sucroalcooleiro precisa se auto-regular para disciplinar o seu crescimento, planificar a sua expansão e planejar a disponibilidade deste combustível ao longo da safra. Isso precisa ser feito de uma forma minimamente acordada com as montadoras, para que o consumidor tenha plena informação, segurança e confiabilidade para fazer sua escolha.

O nosso país pode ter uma oportunidade de ouro, com a consolidação do mercado interno e a possibilidade de o álcool se tornar um importante componente da nossa pauta de exportação, não só o produto em si, mas o maquinário e o know-how. Tudo isso estará comprometido caso a “credibilidade seja abalada”. Credibilidade esta que só continuará respaldada com o nosso entusiasmo por essas fontes energéticas não poluentes e renováveis, pelo orgulho que temos de sistematicamente batermos recordes de produtividade neste segmento, mas, acima de tudo, se pudermos fixar um planejamento estratégico para este combustível verde-amarelo que pode ganhar o mundo.

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